No Dia Mundial do Diabetes, celebrado nesta sexta-feira (14/11), pessoas que convivem com a doença em Curitiba contam como o esporte e cuidados médicos ajudam a lidar com a condição.
O dia da família Joras Borba começa antes de os filhos acordarem, com a aplicação da insulina basal às 5h30, função dos pais Sílvia Joras e Carlos Borba. Cauã, 17 anos, e Valentina, 9 anos, têm diabetes tipo 1 e precisam manter o monitoramento permanente de nível de glicemia no sangue para evitar grandes oscilações, que podem desencadear problemas sérios de saúde.
A vida da família mudou quando Cauã teve o diagnóstico aos 10 anos de idade. Sem informações sobre a condição e sem casos entre os parentes de primeiro e segundo grau, Carlos e Sílvia nem sabiam que criança podia ter diabetes.
O filho mais velho andava muito sonolento, tinha muita sede e perdia peso sem explicação. Antes de perceber que não se tratava somente de cansaço pela rotina de esportes e outras atividades, o menino precisou ser internado com urgência num quadro de cetoacidose, que o levou à UTI por uma semana.
Depois do susto inicial, veio o aprendizado de como lidar com a nova condição e, dois anos depois, o diagnóstico da caçula.
“Eu falo para os meus filhos que a diabetes tem que ser a melhor amiga deles. Tem que se adaptar e conviver com ela de uma maneira normal”, disse a mãe, Sílvia Joras.
O esporte se tornou um grande aliado, por orientação médica e por gostarem das práticas. Valentina coleciona medalhas de ginástica artística, mas deu um tempo na rotina de quatro horas diárias de treino e, enquanto se prepara para mais uma seletiva do esporte, faz aulas de natação, dança, circo e muay thai.
“A diabetes não limita as atividades físicas, ao contrário, mas a gente tem que estar atento à alteração do nível glicêmico e sempre tem à mão algum alimento para corrigir a situação. A gente se adaptou bem”, disse Sílvia.
Triatleta
Outro exemplo de adaptação e de vida normal com diabetes é o gerente de projetos de tecnologia, Marcelo Bellon Ferreira. Aos 53 anos, Marcelo é triatleta, coleciona dez participações nas provas de Ironman (modalidade que concentra corrida, bicicleta e natação), muitas medalhas de maratonas, corridas, mergulho.
O diagnóstico de diabetes chegou aos 13 anos, quando morava em São Paulo. Perda de peso, sede e fome excessiva e aumento da frequência do xixi chamaram a atenção da avó, confirmando a diabetes tipo 1 na visita ao médico.
Segundo Marcelo, o esporte fazia parte de sua vida desde os 6 anos de idade. Depois de uma pausa nas práticas aos 13 anos para entender como enfrentar o recém-descoberto diabetes, nunca mais parou de se exercitar e competir.
“Apesar do diabetes ser classificado no Código Internacional de Doenças, eu prefiro chamar ele de uma condição, porque eu posso cuidar. O controle está nas minhas mãos”, define Marcelo.
“Se eu não cuidar, eu vou ter problema nos rins, problema nos olhos, problema na parte nervosa. Tudo isso sim é doença e aí estamos falando da parte ruim. Mas se a pessoa decide ir atrás da informação e se cuidar, ela consegue ter uma vida plena, saudável e feliz”, completou.
Preconceito
Tanto Marcelo quanto a família Borba relatam que ainda há muito desconhecimento sobre o diabetes e o preconceito é um desafio.
Marcelo foi impedido de mergulhar em uma viagem internacional, apesar de apresentar todas as garantias de que tinha condições para a prática. Valentina quase foi impedida de participar de uma seletiva de ginástica artística por medo dos organizadores.
Segundo Sílvia Joras, a rotina de aplicação da insulina às vezes assusta quem não conhece a condição, mas se tornou uma situação natural para os filhos.
Marcelo participa de associações e incentiva outras pessoas com diabetes a praticar esportes e viver bem, naturalmente. Segundo ele, muitos amigos da mesma idade, apesar de não enfrentar a diabetes, são menos saudáveis do que ele.
A condição presente em sua vida há 40 anos o levou a uma rotina de saúde: visita ao médico a cada três meses, consulta com nutricionista, prática diária de atividade física e controle de sua medicação.
Atualmente, se prepara para a Maratona de Curitiba, que vai acontecer no dia 23 de novembro.
“Vai ser no meu aniversário e eu vou correr a maratona aqui da cidade pra celebrar, então eu vou ter uma festa de aniversário com uns 10 mil convidados”, brincou.
Diabetes
Doença crônica e muitas vezes silenciosa, o diabetes melitus pode atingir pessoas de todas as idades, que precisam adotar uma rotina de cuidados para viver bem e com saúde.
Segundo o médico endocrinologista Alexei Volaco, da Secretaria Municipal da Saúde, o primeiro desafio é o diagnóstico, visto que a maioria das pessoas não tem nenhum sintoma que indique o diabetes.
“Sinais como boca seca, sede em excesso, aumento da frequência urinária, muita fome e perda de peso de maneira inexplicável são alertas que não podem passar despercebidos”, destaca o médico.
Segundo o médico, os sinais são mais comuns em pessoas acima dos 35 anos com excesso de peso, que podem desenvolver o diabetes tipo 2, mas também são sintomas do diabetes tipo 1, mais comum em crianças e adolescentes.
“Os pais devem estar atentos às crianças que apresentam esses sinais, que perdem peso sem razão ou que voltam a fazer xixi na cama, por exemplo. Pode ser um indicativo do diabetes tipo 1”, orienta Volaco.
Exames
Os exames para identificar o diabetes estão disponíveis nas 109 Unidades de Saúde (US) do SUS Curitibano. Cada cidadão tem sua unidade de referência, próximo de onde mora. O agendamento do primeiro atendimento com a enfermagem pode ser feito pelo aplicativo Saúde Já Curitiba ou na recepção da unidade. O profissional de enfermagem vai fazer o primeiro acolhimento e agendar consulta com a equipe da US para solicitar os exames.
Iluminação Azul
Nesta sexta-feira (14/11), Dia Mundial do Diabetes, a prefeitura de Curitiba vai participar da Campanha 24 horas pelo Diabetes, que visa alertar a população sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoces desta doença. Estarão iluminados de azul, cor da campanha, a Estufa do Jardim Botânico; as Ruas da Cidadania Boqueirão, Pinheirinho, Portão, Santa Felicidade e Boa Vista; o MuMa – Museu Municipal de Arte – Portão; a Torre de Cronometragem do Parque Náutico; o Monumento da Praça 29 de Março e o Obelisco da Praça 19 de Dezembro.
Os mesmos prédios e monumentos estarão iluminados de azul no período entre 21 a 30 de novembro, também pela campanha do Dia Mundial do Diabetes.