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Especial - imigrantes e refugiados

Rede municipal de ensino atende estudantes de 28 nacionalidades

Crianças sírias, paraguaias, espanholas, americanas, chinesas e brasileiras convivem e aprendem em harmonia na Escola Municipal Batel, no Centro de Curitiba. Curitiba, 29/09/2015 - Foto: Gabriel Rosa/SMCS

Crianças sírias, paraguaias, espanholas, americanas, chinesas e brasileiras convivem e aprendem em harmonia na Escola Municipal Batel, no Centro de Curitiba. Movidas pela curiosidade, elas fazem amizade facilmente e aprendem umas com as outras.  É uma realidade cada vez mais comum em escolas da rede municipal, e que vem exigindo das equipes pedagógicas uma preparação especial para garantir aos estudantes estrangeiros um bom acolhimento e a efetiva inserção na comunidade escolar. Desde 2014,  a Secretaria Municipal da Educação desenvolve um trabalho específico, que envolve capacitação de professores, adaptação de currículos e materiais especialmente preparados para atender os alunos imigrantes.

De 2014 até julho deste ano, a procura de atendimento para estudantes estrangeiros cresceu 14,5% nas escolas do município. Hoje há 222 estudantes de 28 diferentes nacionalidades matriculados no ensino regular da rede de ensino. Outros 120 imigrantes haitianos participam de um projeto oferecido pela Secretaria Municipal da Educação que oferta curso instrumental de língua portuguesa para estrangeiros escolarizados. É o projeto Haiti, desenvolvido em duas escolas municipais.

Entre os estudantes estrangeiros matriculados no ensino regular, a maior parte é oriunda do Japão. Depois vêm os haitianos e espanhóis. Mas também há alunos vindos de Angola, Argentina, Áustria, Bélgica, China, Colômbia, Congo, Coréia, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Guiné,  Honduras, Índia, Inglaterra, Itália, México, Moçambique, Paraguai, Peru, Portugal, Rússia, Síria e Venezuela, além de estudantes com nacionalidade brasileira, mas que cresceram em outros países e voltaram para o Brasil.  

Para todos eles, a adaptação à língua portuguesa é o primeiro desafio a ser vencido. Em geral, são necessários cerca de três meses para que os estudantes consigam se comunicar em português. A estratégia para facilitar a aprendizagem do idioma inclui nominar todos os objetos e espaços da escola, repetir sempre os mesmos comandos ao estudante e observá-lo sempre, em todos os momentos, desde a entrada na escola até a saída, pois até mesmo costumes alimentares podem interferir no processo de integração do estudante.

É assim que as professoras da Escola Municipal Batel têm feito para garantir que os sete estudantes estrangeiros matriculados na unidade se integrem com demais 341 estudantes das turmas do 1º ao 5º ano da escola.

Dois dos estrangeiros são refugiados sírios que vivem em Curitiba desde fevereiro deste ano. Daniel AlSaad e Eili AlHoush são primos. Eles vieram com a família para Curitiba fugindo da guerra civil iniciada em 2011 e que tem feito milhares de vítimas na Síria. A matrícula na escola aconteceu em março, por intermédio do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da Matriz, que integrou a família em uma série de programas sociais a partir do contato intermediado pelo Centro de Referência em Direitos Humanos Caritas.

Nos primeiros contatos com a família, que fala árabe, as professoras precisaram da ajuda de uma intérprete para providenciar a matrícula, conversar sobre as características das crianças e apresentar a escola. Mas em algumas semanas as professoras e as demais crianças já conheciam os costumes dos novos alunos. “As crianças são muito rápidas para aprender e para acolher umas às outras”, diz a diretora Lucineia Percigili.

A estudante do 3° ano Rubyene Ruiz, de 8 anos, lembra do primeiro dia de aula do colega Daniel na escola. “No primeiro dia que o Daniel veio para a escola ele ficou sentado na escada sozinho, desenhando. Eu sentei ao lado dele para desenhar e outras meninas fizeram o mesmo. Foi assim que ficamos amigos”, conta Rubyene.

Após seis meses de adaptação, Daniel e Eili já se integraram à rotina da escola. Entre eles ainda conversam em árabe, mas já conseguem entender o português e interagir com outros colegas. Daniel virou referência para os colegas pelos desenhos que faz e com os traços coloridos encontrou um caminho para entender como é ser criança no Brasil.

Eili é mais reservado, mas basta ser chamado pelos colegas para jogar bola que a interação acontece rapidamente. Uma das estratégias usadas nestes casos foi matricular os estudantes em turmas compatíveis às suas idades e oferecer apoio pedagógico no contraturno escolar. “Gosto desta escola”, diz Eili, que aos poucos vai arriscando frases cada vez mais elaboradas em português. Sobre a vida em Damasco, a capital da Síria, os estudantes não gostam de falar.

Diferentemente dos demais estudantes estrangeiros matriculados na escola Batel, os sírios precisaram mais do que o acolhimento escolar. Professoras perceberam que a crianças não estavam se alimentando adequadamente e que o lugar onde moravam não era adequado. Uniram-se, promoveram campanhas, conseguiram doações e um novo endereço para a família morar.

“Para o imigrante, aprender o idioma é fundamental para sua inclusão no ambiente escolar, contudo, a solidariedade e o espírito colaborativo próprio do ambiente escolar é o que vai garantir que este se sinta inserido no grupo, que se comunique e que a partir daí encontre seu espalho de cidadão na sociedade”, diz a secretária municipal da Educação, Roberlayne Borges Roballo.

Compreender as diferenças culturais, questões religiosas e outros aspectos de cada povo também é fundamental para inserir o estudante na rotina da escola. Cada estudante estrangeiro que vem aprender em uma escola do município traz consigo belas histórias para ensinar. Como a do aluno mulçumano que não atendia às solicitações da professora porque aprendeu em casa a não seguir a orientação de mulheres. Ou a do estudante que não comia quando a merenda era oferecida pela mão considerada impura em sua cultura, ou ainda das crianças que pareciam apáticas e sem iniciativa, porém agiam a partir da orientação da professora, conforme haviam aprendido em seu país.

Assessoramento

Todo o processo de inserção dos alunos estrangeiros é feito com o acompanhamento e assessoramento da Secretaria Municipal da Educação, tanto para estudantes quanto para os profissionais envolvidos com a escolarização do imigrante.

O assessoramento vai da orientação sobre a regularização do documento escolar até a formação para os professores e pedagogos das escolas, passando por reuniões com as famílias. A orientação ajuda as equipes a identificar os aspectos importantes da cultura do estudante e que são capazes de influenciar e contribuir no processo de inserção na escola. Serve também para o desenvolvimento de estratégias diferenciadas de ensino, com a criação de currículos adaptados.

Os assessoramentos começaram a ser realizados em 2014, depois que a Coordenação de Línguas Estrangeiras do Departamento de Ensino Fundamental recebeu inúmeras solicitações de escolas que haviam matriculado estudantes estrangeiros. Além do atendimento direcionado nas unidades, a partir da característica do imigrante, a coordenação de Línguas Estrangeiras passou a promover o curso Integração e Imigração: entendendo o processo dos alunos estrangeiros nas escolas da rede municipal de ensino de Curitiba. São quatro horas de formação, durante as quais os professores conhecem a política de acolhimento e ensino para os estudantes de outras nacionalidades.

Acolhimento e adaptação

No curso são repassados os procedimentos legais de matrícula, de classificação do estudante no ano escolar, adaptação curricular para o contexto escolar brasileiro, além de inúmeros procedimentos pedagógicos. Uma das principais orientações repassadas é para que o profissional da educação compreenda que não existe uma padronização no atendimento de estudantes estrangeiros, e que antes de iniciar o processo de escolarização é preciso garantir um bom acolhimento e adaptação do estudante para inseri-lo na nova cultura escolar.

“O importante é que ele consiga se relacionar com colegas e professores e aprenda a língua portuguesa para a partir daí iniciar o ensino dos conteúdos dos componentes curriculares”, diz Marcos Davel, da equipe de língua estrangeira da Secretaria Municipal da Educação.

Marcos e Ângela Bussmann, também da equipe de língua estrangeira, são responsáveis pelo levantamento que identifica quem são e em quais escolas municipais estão os estudantes vindos de outros países, além de organizarem e produzirem o material que orienta os profissionais das escolas no atendimento ao grupo imigrante. A dificuldade em localizar literatura e experiências de escolarização para estrangeiros no país fez com que a dupla de servidores desenvolvesse pesquisa e a produção do material a partir das experiências vivenciadas nas escolas municipais.

O resultado foi a elaboração de um curso e de  material que reúnem o melhor do que os professores municipais de Curitiba têm feito para garantir o direito à educação dos estudantes estrangeiros. “Nesta situação, cada estudante precisa ser observado e cuidado de uma forma muito específica. As orientações partem de muito estudo, mas também da riqueza do trabalho das nossas equipes nas escolas que tem podido ensinar, mas também aprender muito com cada estudante”, diz Ângela.

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