Ir para o conteúdo
Prefeitura Municipal de Curitiba Acessibilidade Curitiba-Ouve 156 Acesso à informação
Especial – imigrantes e refugiados

Projeto da Secretaria da Educação atende adultos e crianças haitianas

Alunos Haitianos participam de curso da lingua portuguesa na Escola Municipal Germano Paciornik. Foto: Levy Ferreira/SMCS

A fala ainda é pausada, com algumas poucas trocas de palavras e o sotaque de quem foi alfabetizada em francês e créole. Mas, aos 42 anos, a haitiana Ketlely Saint-Cyr já pode dizer que fala português – um passo importante para construir no Brasil a vida que sonhou ao deixar seu país natal. Ela está entre os alunos certificados pelo Projeto Haiti, desenvolvido há três anos pela Secretaria Municipal da Educação para ajudar grupos de imigrantes haitianos a vencer os desafios da Língua Portuguesa. Neste ano foram certificados 120 haitianos que frequentaram as 60 horas de aulas de escrita e conversação, oferecidas à noite nas escolas municipais Germano Paciornik, no Boqueirão, e Escola Papa João XXIII, no Novo Mundo.

As aulas aconteceram duas vezes por semana, seguindo uma metodologia elaborada por profissionais da educação exclusivamente para o grupo de imigrantes. O objetivo é ensinar a eles o básico do português para habilitá-los a realizar atividades cotidianas, como fazer carteira de trabalho, procurar emprego, solicitar uma informação ou atendimento médico. A grande maioria dos haitianos tem formação universitária, mas precisa dominar o português para preencher formulários para aluguel de casas, fazer operações bancárias e mesmo relacionar-se socialmente.

Ketlely Saint-Cyr procurou a escola interessada em aprender a língua para conseguir uma melhor colocação no mercado de trabalho. Desde que chegou a Curitiba, há um ano e meio, Ketlely já trabalhou na construção civil e em restaurantes, mas sonha em voltar a atuar no comércio, que é o que fazia em Gunaives, cidade em que vivia no Haiti. “Depois do terremoto tudo ficou muito difícil. Meu marido e eu deixamos dois filhos morando com os avós e saímos do país para tentar uma nova vida em lugar próspero. Aprender a me comunicar é fundamental para que eu consiga me relacionar, trabalhar com vendas, juntar dinheiro para reunir novamente a família”, diz Ketlely, que mostra sua determinação no tom da voz, no brilho do olhar e no sorriso sempre presente no rosto.

“Antes de chegar a Curitiba tentei viver na República Dominicana, onde fui vítima de preconceito e maus tratos. Em Curitiba tem sido diferente, recebi acolhida e incentivo para recomeçar”, diz a haitiana. O marido de Ketlely ficou na República Dominicana trabalhando como pedreiro. O plano do casal é juntar dinheiro suficiente para reunir a família no Brasil.

Outras histórias

Outro haitiano que esteve na República Dominicana antes de buscar refúgio no Brasil é Edner Bith, de 42 anos, que também tentou refúgio no Panamá e no Equador antes de chegar ao Brasil. “Não tive as oportunidades que estou encontrando aqui. As pessoas são boas e essas professoras têm nos ajudando muito a vencer nossas dificuldades”, conta Edner, que recorreu à escola para aprender a falar o português e melhorar sua apresentação frente aos empregadores. “Gosto de trabalhar no comércio, mas para isso preciso compreender e falar melhor a língua portuguesa. Vim para cá para trabalhar, pois no Haiti não havia mais chances depois que o terremoto acabou com o país. Aqui, com dedicação e esforço posso ter uma nova história”, disse Edner.

Em Porto Príncipe, onde vivia no Haiti, Fritznel Princivil, de 25 anos, trabalhava como confeiteiro e ourives – duas profissões em que explorava o talento para ornamentar diferentes elementos. A crise financeira e a falta de perspectivas o levaram a buscar um recomeço no Equador, mas o país não ofereceu as oportunidades que o jovem haitiano precisava.  “Fiz um esforço e vim para o Brasil, onde encontrei o que precisava”, diz Princivil.

Empregado há mais de um ano em uma oficina mecânica no Boqueirão, mesmo bairro onde vive em uma pensão com outros haitianos, Princivil comemora o incentivo e apoio que recebe do patrão, o proprietário da oficina Pagnoncelli, para estudar. “Todos me ajudam com o idioma, mas as professoras e a escola têm sido fundamentais para que eu me entenda neste país”, diz o haitiano.

Reconstruir a vida e buscar segurança é desejo comum entre os mais de cinco mil imigrantes que desde 2010 chegaram em Curitiba em busca de um recomeço após o terremoto que devastou o Haiti. Destin Aubert, de 29 anos, trabalhava como tradutor e fotógrafo no Haiti, e de um dia para o outro viu seu futuro ser soterrado pela força da natureza. “Ficamos com poucas alternativas e por isso nos sujeitamos a deixar família e amigos para trás para buscar um recomeço”, conta o haitiano, que chegou no Brasil há sete meses.
Antes, ele pela República Dominicana e Equador, onde não conseguiu se adaptar ao clima e à dificuldade em ser aceito pela sociedade local. “Uma pessoa nunca chega a aprender tudo. Por mais facilidade que eu tenha para idiomas, o português é um desafio e estou feliz em contar com esta oportunidade”, disse Dustin.

O Projeto Haiti

O projeto Haiti teve início em agosto de 2013, com duas turmas formadas por 60 imigrantes, na Escola Municipal Professor Brandão, no Alto da Glória. O grupo era formado na grande maioria por homens, entre 20 e 50 anos, que apenas falavam francês e créole. Uma terceira turma foi formada posteriormente. Os grupos foram organizados de acordo com o nível de proficiência dos alunos (inicial, intermediário e avançado). As aulas aconteciam de segunda a quinta-feira das 18h30 às 21h30 e os alunos recebiam lanche e material gratuito.

A procura de haitianos por aulas de Língua Portuguesa aumentou, o que fez com que a Secretaria Municipal da Educação buscasse parceria com o Centro de Línguas da Universidade Federal do Paraná, solicitando abertura de oito turmas com aulas no sábado. Em 2014, com uma demanda ainda maior para ser atendida, veio uma nova parceria, dessa vez da Secretaria Municipal da Educação com a Fundação de Ação Social (FAS), o que resultou em proposta de um curso instrumental de Língua Portuguesa para estrangeiros. Um curso básico de 60 horas oferecido no Liceu Curitiba, no Centro, o que favoreceu a participação dos imigrantes.

As aulas aconteceram de setembro a dezembro, às terças e quintas feiras à noite, com a participação 21 alunos que ao fim do curso foram certificados. Neste ano, as aulas foram levadas para escolas localizadas nos bairros mais próximos de onde vivem os imigrantes haitianos. Além dos cursos a Secretaria Municipal da Educação tem atendido aos filhos e filhas de imigrantes que estão chegando a Curitiba sem falar o Português e são matriculados em escolas da rede municipal.

LEIA MAIS:

Rede municipal de ensino atende estudantes de 28 nacionalidades

LEIA MATÉRIAS ANTERIORES

Armazém da Família garante acesso ao alimento para imigrantes e refugiados

Imigrantes e refugiados encontram portas abertas nos serviços municipais de Curitiba

Curitiba abriga estrangeiros das mais diversas nacionalidades