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Meio ambiente, fé e história

Bosque do Papa: 45 anos de um legado que nasceu com a visita de João Paulo II a Curitiba

Bosque Papa João Paulo II, mais conhecido como Bosque do Papa. Curitiba, 13/06/2025. Foto: José Fernando Ogura/SECOM

No mesmo frio de julho que há 45 anos tomou conta de Curitiba, a cidade relembra, neste fim de semana (dias 5 e 6/7), um dos momentos mais marcantes de sua história: a visita do Papa João Paulo II. Nos dias 5 e 6 de julho de 1980, sob temperaturas baixas e com emoção e fé, milhares de pessoas acompanharam a passagem do pontífice por Curitiba.

Neste fim de semana, a previsão é de um clima semelhante ao daquela época. Segundo o banco de dados meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a temperatura mínima nos dias 5 e 6/7 de 1980 foi de 10,2 graus (nos dois dias), e a máxima, de 14,8 no sábado (5/7) e de 15,6 no domingo (6/7). As mínimas previstas pelo Simepar para 5 e 6/7 de 2025 são de mínima de 10 e máxima de 17 graus no sábado e de 16, no domingo (6/7).

Uma das principais lembranças guardadas pelo curitibano tem nome e endereço – o Bosque do Papa, localizado na Rua Wellington de Oliveira Viana, no Centro Cívico – e pode ser visitado até hoje mesmo por quem nem era nascido em 1980. Inaugurado alguns meses depois da inesquecível visita, o Bosque simboliza o legado de fé da população e da ligação entre Curitiba e suas raízes polonesas.

Curitiba foi a sexta cidade visitada entre as 13 percorridas em 13 dias, na primeira visita feita por um Papa ao Brasil. O pontífice chegou de Porto Alegre e seguiu para Salvador. Passou menos de 24 horas em Curitiba.

O Bosque do Papa foi inaugurado em dezembro de 1980, alguns meses depois da passagem do pontífice. A casa típica polonesa montada no estádio Couto Pereira para o primeiro evento da visita é uma das sete que formam uma aldeia dentro do Bosque, todas feitas de troncos de pinheiro encaixados. Hoje é uma capela em homenagem à Virgem Negra de Czestochowa, padroeira da Polônia.

As demais construções têm móveis e utensílios da época da primeira imigração, 1871. Na trilha em meio ao bosque, há uma escultura do Papa João Paulo II.

“A maioria dessas casas estava nas colônias nos arredores de Curitiba”, afirma o responsável pela preparação da visita, então coordenador da Casa Romário Martins, Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba e atualmente secretário de Estado de Desenvolvimento Sustentável.

“E esse lugar (Bosque do Papa) se tornou um lugar de peregrinação. Um ático espiritual de Curitiba. Aqui estão as casas dos imigrantes. Os painéis, os paióis feitos de costaneiras, que são as tábuas roliças onde se guardavam os animais dos colonos e também as casas de morada. Lá dentro eles sovavam o trigo, mexiam para fazer os pães de centeio, se preparavam para fazer as plantações do trigo sarraceno, que os poloneses trouxeram para Curitiba e para o Paraná”, completa o ex-prefeito ao declarar que Curitiba é a cidade mais eslava, mais polonesa do Brasil.

Ao longo do ano, além da possibilidade de visitar o local, são promovidas festas que celebram a presença polonesa em Curitiba. As festividades têm muita música, folclore, artesanato e gastronomia.

O Bosque do Papa fez parte do projeto do paisagista Burle Marx para o Centro Cívico que teve como prioridade a preservação da mata nativa, além do plantio de novas mudas de pinheiros.

O local tem em sua flora plátanos, araucárias, cedros, pitangueiras, carvalhos, cerejeiras, ipês, tarumãs, uvas do Japão. As aves se sobressaem com a presença de sabiás, bem-te-vis, coleirinhas, chupins, tico-ticos, canários-da-terra, sanhaços e pica-paus.

A área de 48 mil metros quadrados que pertence ao Estado do Paraná está delimitada pelas ruas Mateus Leme, Vieira Santos e Mário de Barros. A unidade de conservação recebe manutenção permanente da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

Cultura e história

Indicada pela Missão Católica Polonesa no Brasil e convidada pelo então prefeito Jaime Lerner, em 1980, para coordenar a rotina e a programação do Bosque do Papa, Danuta Lisicki cuida do local desde a inauguração, há quase 45 anos. “Fui convidada para ficar seis meses aqui e estou até hoje”, declara ela que tem 87 anos.

Danuta remonta a história da visita do Papa João Paulo II a Curitiba, que o fez se reconectar com sua cidade de origem, Wadowice, na Polônia, através da arquitetura da casa montada para recebê-lo no estádio do Coritiba e que hoje integra o conjunto de construções que podem ser visitadas no Bosque. Essa conexão se estabeleceu também pela forma como ele foi recebido pela comunidade polonesa que vivia em Curitiba.

“Como dizia o Papa, aqui ele encontrou a nova Jerusalém, porque aqui é uma cidade de todas as gentes”, conta Dona Danuta, como é conhecida. Para ela, o Bosque reúne mais do que apenas religiosidade, ele é uma mistura de cultura, história, costumes e manutenção das características e tradições polonesas na cidade.

“Que o Bosque seja um lugar de paz e de amor. Que cada um que entre nessa capelinha leve um pouquinho da bênção que o Papa deixou quando abençoou esse lugar”, diz.

Danuta também é responsável por toda a coletânea de objetos que decoram o espaço e que, segundo ela, ficarão lá como contribuição de sua coordenação. “Tenho a intenção de montar um museu etnográfico”, afirma.

Nascida na Polônia, Danuta e sua família deixaram o país no início da Segunda Guerra Mundial, quando ela tinha dois anos de idade. Aos 13 anos, com a ajuda da Cruz Vermelha, ela e a família chegaram ao Brasil. Seus pais eram engajados em causas humanitárias, por isso ela recebeu o convite para cuidar do memorial.

Saiba mais sobre o Bosque do Papa

  • 1980 – inauguração do Bosque após a visita do pontífice João Paulo II
  • 1980/1981 – realocação das casas polonesas
  • 1990 – tombamento pelo Patrimônio Cultural do Estado
  • 1991 – inauguração do Portal Polonês, para comemorar os 120 anos da imigração polonesa em Curitiba
  • 1998 – as casas passaram por um processo de imunização, no qual foram desmontadas e remontadas sem que alterasse sua configuração original
  • 2023 – o Vaticano elevou o Bosque não só à condição de Museu a Céu Aberto, como de Santuário, ou seja, passou a ser instalação sagrada, conforme previsto no Direito Canônico

Serviço

Bosque do Papa
Endereço (rua da acesso): Rua Wellington de Oliveira Viana, 33 – Centro Cívico
Horário de funcionamento: das 8h às 17h30, diariamente 
Memorial da Imigração Polonesa (Museu a Céu Aberto e Santuário)
Horário de funcionamento: das 8h às 17h30, de terça a domingo (fechado às segundas-feiras para conservação e limpeza)