Texto: Quitéria Brevilheri e Fernanda Luvizotto
O carro do Programa Saúde em Casa, da Prefeitura de Curitiba, chamava a atenção dos vizinhos de Jacy Garcez Kameneff, de 100 anos, no bairro Capão da Imbuia. Seu filho, Vinoci Garcez, 74 anos, se apressava em dizer que estava tudo bem. Era dia de visita da equipe do doutor Humberto à curitibana centenária, que mora com o filho e a nora e esbanja vitalidade e simpatia.
Desde que foi criado, em 2012, já foram realizados mais de 100 mil atendimentos pelo Saúde em Casa. Jacy é uma das pacientes vinculadas ao programa há pouco mais de um ano, atendida em casa por uma das equipes de geriatria, responsável por levar atenção à saúde a pessoas com 85 anos ou mais.
“O Saúde em Casa é um verdadeiro hospital móvel, que atende com excelência os pacientes no conforto de suas residências, ao lado da família. É um orgulho para todo sistema de saúde curitibano”, diz a secretária municipal da Saúde, Tatiane Filipak.
Equipe multidisciplinar
O núcleo principal da equipe é composto por médico, enfermeira, fisioterapeuta e técnica de enfermagem. Além desses profissionais, que geralmente fazem visitas quinzenais, a equipe conta com o apoio de nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional, farmacêutico, fonoaudiólogo e assistente social, acionados sempre que necessário, de acordo com o quadro de saúde do paciente.
“São pessoas maravilhosas, compreensivas, muito atenciosas. Eu gosto muito”, disse Jacy ao grupo que a atendia. “Não abandonem a velha Jacy, continuem dando assistência, que eu adoro”, reforçou.
Dona Jacy Garcez Kameneff
Seu filho Vinoci também elogiou o tratamento que a mãe recebe. “Minha avaliação do serviço é nove, numa escala de um a dez, pois dez representa a perfeição, e sempre há espaço para melhorias. O atendimento da equipe, tanto das enfermeiras quanto do médico, tem sido sensacional, e ela está satisfeita” declarou.
Vinoci Garcez, filho de Jacy
Segundo o médico geriatra, Humberto Amadori, líder da equipe, o estado geral de saúde da paciente é bom e ela mantém um nível considerável de independência e capacidade para realizar atividades cotidianas.
Segundo Amadori, Curitiba tem atualmente 237 centenários, sendo que a equipe de geriatria do Saúde em Casa acompanha 40 pessoas nessa faixa etária. O maior desafio é manter a funcionalidade dos idosos.
“Com a intervenção de uma equipe multidisciplinar de saúde, é possível promover o ganho de funcionalidade, aprimorar a capacidade de locomoção, a cognição e a experiência sensorial, possibilitando a continuidade da construção de suas histórias de vida”, detalhou o geriatra.
Humberto Amadori, médico geriatra
Resgate da alegria
A equipe que atende Jacy identificou um processo depressivo em razão de uma rotina empobrecida. Coube à terapeuta ocupacional Liliam Santos o resgate de seu orgulho de ser costureira e gostar de artes manuais.
Há um mês, Liliam levou linha e agulha de crochê à idosa com a desculpa de que gostaria de aprender novos pontos. Foi o que bastou para retomar a alegria dos trabalhos manuais, inclusive presenteando a terapeuta com uma toalhinha.
Liliam Santos, terapeuta ocupacional.
“Nosso principal objetivo é proporcionar mais saúde e significado à vida dessas pessoas, promovendo o aumento da independência e autonomia, permitindo que realizem atividades por conta própria e que sintam propósito em suas vidas”, descreveu Humberto.
Humberto Amadori, médico geriatra.
Recuperação do AVC
No São Braz, outra equipe realiza o atendimento de Nilda, de 78 anos. Há pouco mais de um mês ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que paralisou todo o lado esquerdo do corpo. O filho, Marcelo Szcesiak, ao procurar auxílio na US União das Vilas, teve o encaminhamento do caso dela para o Saúde em Casa.
“O serviço é ótimo e a equipe é excelente. Imagine, uma médica que vem na nossa casa toda semana para atendê-la”, comentou Marcelo.
A perda da mobilidade trouxe impacto emocional para a aposentada. Ela também é acompanhada pelos profissionais da psicologia. “Eles são maravilhosos, todos eles”, descreveu a dona de casa.
Marcelo também elogiou o apoio da equipe nos dias em que não ocorrem os atendimentos presenciais. “Temos um número de telefone que ligamos, passamos o que está acontecendo e sempre temos resposta, a médica entra em contato e nos orienta”, contou o filho.
Números
Mensalmente, o Saúde em Casa realiza mais de 1200 atendimentos. Destes, aproximadamente 400 são de pacientes desospitalizados, ou seja, que receberam alta após um período de internamento em unidade hospitalar.
A média de idade dos pacientes acompanhados é de 70 anos. “No entanto, atendemos pacientes de todas as idades, desde recém-nascidos aos centenários”, explica a gerente do serviço, Mariana Lous. Hoje, o paciente mais longevo em atendimento pelo programa tem 104 anos.
A maior parte são pacientes em tratamento de infecções, síndromes respiratórias e que fazem uso de concentrador de oxigênio ou ventilação mecânica.
Para ampliar o perfil dos pacientes atendidos, Mariana conta que ao longo dos anos, além do aumento do número de equipe e da descentralização geográfica delas (antes a base era no Pinheirinho), Curitiba investiu na criação de equipes especializadas.
O Saúde em Casa oferece atendimento especializado em ventilação mecânica adulta, pediatria, oxigenoterapia, ortopedia, cuidados paliativos, antibioticoterapia, saúde mental e geriatria.
Feas
O Saúde em Casa é administrado pela Feas, fundação pública da Prefeitura de Curitiba, que segue as diretrizes da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Administra o Hospital Municipal do Idoso Zilda Arns, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a Unidade de Estabilização Psiquiátrica Casa Irmã Dulce (UEP), os Serviços Residenciais Terapêuticos e outros 28 equipamentos do Sistema Único de Saúde de Curitiba, como Unidades de Atenção Primária e as Unidades Pronto Atendimento (Upas) Tatuquara, Boqueirão, Fazendinha e CIC.
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