Para a teleatendente Madrileia de Souza Xavier este domingo (5/6) foi especial. Foi o dia em que, aos 45 anos, ela aprendeu a andar de bicicleta. Por causa de uma toxoplasmose congênita, ela tem baixa visão e, por isso, nunca teve coragem de arriscar uma pedalada em bicicletas comuns. Mas, hoje, ela superou o receio e participou do Passeio Ciclístico Além da Visão, no Parque Barigui, promovido pela Prefeitura de Curitiba, com biclicletas adaptadas, .
“Foi muito emocionante. Meu filho já tinha tentado me ensinar, mas eu achava inseguro andar em uma bicicleta normal e sem enxergar bem. Aqui, com as bicicletas para duas pessoas, achei maravilhoso e me senti realizada”, diz Madrileia.
Neste passeio ciclístico, o objetivo principal foi mostrar a todas a pessoas – as que têm deficiência visual e as que não têm – que o esporte é para todos; bastam algumas adaptações simples para fazer com que todos participem.
Lado a lado
Neste caso, adaptação foi no equipamento: as pessoas com deficiência visual tiveram à disposição nove bikes do modelo tandem, que são duplas: dois selins, dois guidons, dois conjuntos de pedais.
A pedalada acontece com um piloto-guia no selim da frente – uma pessoa que tem boa visão – e que dá as coordenadas para a pessoa que está atrás, cega ou de baixa visão. Aguçando a audição, recebe as orientações, como a hora de iniciar a pedalar, de acelerar, frear, virar à direita ou esquerda, fazer mais força na subida ou aproveitar a descida.
Assim, pessoas com deficiência visual puderam pedalar lado a lado com pessoas com visão plena e que pedalam em bikes convencionais.
Foi ao conhecer a modalidade tandem que o bancário Osvaldo Bezerra, 40 anos, voltou a sentir o prazer do vento no rosto sobre uma bicicleta. Ele conta que perdeu a visão quando pouco mais de vinte anos e, desde então, a bicicleta se tornou um risco. “Foi uma sensação de liberdade, vinte anos depois de perder a visão, voltar a pedalar. É algo que todos têm de poder experimentar”, diz o bancário.
Dia da Bike
Promovido pela Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj), da Prefeitura de Curitiba, em parceria com a Associação Além da Visão, o passeio fez parte das ações que celebraram, por todo o final de semana, o Dia Mundial da Bicicleta, comemorado em 3/6.
Além do passeio para pessoas com deficiência visual deste domingo, a Smelj promoveu pedais por toda a cidade e também na Região Metropolitana: no Umbará, foi realizado o Pedala Metropolitano, em um percurso de 25 quilômetros entre o Lago Azul e Fazenda Rio Grande. No Boqueirão, o passeio começou na Praça Agostinho Legrós, com percurso de 6,7 km.
Lazer e competição
O vice-presidente da Associação Além da Visão, Edenir Marques da Silva, 42 anos, não só aprendeu a andar na bicicleta tandem como se tornou atleta dessa modalidade de ciclismo. Bancário por profissão, no ano passado venceu os Jogos Abertos do Paraná para paratletas (ParaJap’s) no paracliclismo classe tandem, ao lado de Oseias Marcelino dos Reis, que foi seu piloto-guia.
“A pessoa com baixa visão não tem mais vantagem do que a pessoa totalmente sem visão nesta modalidade. O que vale é o condicionamento físico e o entrosamento com o guia, que tem a missão de orientar velocidade, curvas, como largar e a hora de frear”, explica Silva.
Ele conta que já sabia pedalar na bicicleta comum, apesar dos riscos no percurso, com a perda da visão. Com a cessão das bicicletas de dois lugares da SMELJ para a Associação Além da Visão, descobriu essa possibilidade de pedalar com segurança e levar mais pessoas para o esporte.
Com sede no Sítio Cercado, a Associação Além da Visão é dedicada a dar apoio global a pessoas com deficiência visual, como nas áreas de esporte, lazer e empregabilidade
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