Há 45 anos, na tarde de uma sexta-feira (10/10), o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, acompanhado do cartunista Ziraldo, de um grupo de artistas e de pessoas da comunidade, abria as portas de um espaço que se tornaria um importante ponto de convivência e de crescimento para gerações de moradores do bairro Guabirotuba: a Biblioteca Nair de Macedo.
Localizada na Rua da Capitania, número 57, a biblioteca foi aberta com um acervo de 2 mil livros em um prédio cedido pela Fundação Educacional do Estado do Paraná (Fundepar) e doado em termo de comodato para a Fundação Cultural de Curitiba (FCC).
Em 2010, ainda sob responsabilidade da FCC, foi integrada aos espaços do programa Curitiba Lê, oferecendo diversas ações de incentivo à leitura e passou a se chamar Casa da Leitura Nair de Macedo.
A inauguração fez parte da programação de um evento maior que movimentava a cidade nos anos 1980, a Feira Nacional de Humor, e reuniu um contingente grande de pessoas, com direito a um concerto de piano feito por crianças de uma escola local.
Na segunda-feira seguinte, a equipe da biblioteca percebeu que precisaria de ajuda para a limpeza, e foi assim que Florência da Rocha Santos, aos 23 anos, começou a sua jornada no espaço. Logo, foi promovida a orientadora e passou a ter um papel ativo na formação dos pequenos leitores do Guabirotuba. Chamada de Flor pelos conhecidos, ela trabalhou na Nair de Macedo até 1991, quando foi realocada para a Casa Kozak, mas nunca perdeu a conexão com a Nair de Macedo.
“Esse espaço sempre foi muito vivo e movimentado. Pintávamos os vidros das janelas com guache e criávamos figurinos para as peças de teatro das crianças. E a vizinhança cuidava da gente, eu sabia o nome de cada um e eles se sentiam em casa”, relembra Flor, que ainda é visitante recorrente do espaço, tanto que ensinou o atual analista administrativo, Vagner Custódio, a consertar os livros.
Neste mês de outubro a Casa de Leitura Nair Macedo conta com uma programação especial em comemoração aos 45 anos de histórias, incluíndo uma festa no próximo sábado (18/10). Confira no Guia Curitiba.
Além das páginas
Na Nair de Macedo, a leitura da criançada ia, e ainda vai, muito além das páginas dos livros. As crianças eram estimuladas pela equipe da biblioteca a criar. Faziam contações de histórias, teatro, pintura e passavam seus dias desenvolvendo a criatividade. Além disso, o espaço possuía um acervo rico para pesquisa, com livros didáticos e enciclopédias, o que apoiava os estudos dos moradores de todas as idades, em uma época pré-internet.
Entre as crianças que cresceram entre as prateleiras da biblioteca, Patrícia Wohlke descobriu na Nair de Macedo a sua vocação, e atualmente é gerente das Casas da Leitura da FCC. “Eu era criança quando a biblioteca abriu, e foi esse espaço e o trabalho da Flor que me inspiraram a seguir carreira nessa área. Cresci aqui lendo gibis, e tenho tanto carinho que voltei para cá quando passei no concurso”, contou Patrícia.
A característica de centro de difusão artística e cultural da biblioteca foi um legado mantido pela administração da Casa da Leitura, que atualmente conta com ações de incentivo como rodas de leitura, contações de histórias, oficinas autossustentáveis e exposições temáticas.
As atividades da Casa da Leitura atravessam as paredes e exploram também o quintal, onde os animais que ali vivem se tornam personagens do imaginário do público. Entre eles, a sapa Matilde, a saracura Nair, o sabiá Nelsinho e as curicacas Ruth e Rocha são os favoritos dos participantes das contações de histórias do programa As Horas do Conto, realizadas todas as sextas-feiras, às 10h e às 15h.
Perfil dos visitantes
Atualmente, a Casa da Leitura Nair de Macedo conta com acervo de 7.480 exemplares e, entre janeiro e outubro de 2025, foram realizados 1.099 empréstimos. Os gêneros mais populares entre os leitores são literatura infantojuvenil e infantil. Também são escolhidos livros de ficção americana, brasileira, inglesa e russa, além dos títulos de romance paranaense. O livro mais lido este ano pertence ao último, Xerekó arandu: a morte de kretã, do escritor paranaense Olívio Jekupé.
O público da Casa da Leitura é variado, mas o principal grupo que realiza empréstimos são adultos com mais de 29 anos. Segundo o analista administrativo Vagner Custódio, muitos deles escolhem os livros para seus filhos. Neste ano, 1.731 pessoas emprestaram títulos.
A moradora do Guabirotuba Oriete Heloisa Cavagnari, 68 anos, não deixa de aproveitar as oportunidades de aprender coisas novas na Casa da Leitura. Sozinha ou acompanhada de algum de seus quatro netos, Oriete faz aulas de ilustração, empresta livros e troca vivências e ideias no espaço.
“Esse lugar pulsa vida! É muito importante estimular o potencial das pessoas, e é o que eu sinto aqui: que tem conhecimento, recepção, incentivo à criatividade e pessoas preparadas para lidar com gente de todas as idades”, contou a leitora, que também é escritora e ilustradora, e utiliza os conhecimentos das oficinas da Casa da Leitura para realizar um projeto com a neta de apenas 12 anos.
Nair de Macedo
O nome da Casa da Leitura homenageia a educadora curitibana Nair de Macedo (1910-1980), uma das responsáveis pelo desenvolvimento de muitas crianças curitibanas de sua época. Nair se tornou professora em 1929 e foi diretora do Grupo Escolar Tiradentes. Também foi uma das fundadoras do colégio Stella Maris, conselheira da Fundepar e se aposentou como diretora da Divisão de Ensino Primário da Secretaria de Educação e Cultura. Em 1969, fundou o Jardim de Infância Vovó Chiquinha, em funcionamento até hoje no bairro São Francisco.
Serviço
Aniversário Casa da Leitura Nair de Macedo
Data: 18/10 – 8h30 às 17h30
- 10h – Roda de leitura
- 15h – Contação de histórias
- 16h – Piquenique comunitário no quintal
Exposições em cartaz:
- Nair 45 anos – fotos, documentos e registros da trajetória da Casa e da professora Nair de Macedo
- As imagens contam histórias – processo de criação de Alessandra Tozi para o livro Greta, a formiga
- Alegria e Luz: O Legado de Ziraldo – Livro de Ouro e obras do autor