Com cidades maiores e mais complexas a cada dia – e com a previsão de 5 bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas até 2030 –, tornou-se fundamental pensar em maneiras inteligentes e criativas de enfrentar os novos desafios impostos pela modernidade. E, neste contexto, o design tem um papel fundamental. Este foi o mote do evento “O Design e as Novas Cidades” promovido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), em parceria com o Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, o Centro Brasil Design (CBD) e a ProDesign>PR.
Realizado no Teatro do Paiol, o evento reuniu designers, arquitetos, professores universitários, estudantes e profissionais das mais diversas áreas. “Há muito que fazer e muito a planejar. E o design tem papel fundamental nesses novos tempos. Por isso, a Prefeitura Municipal de Curitiba assumiu a dianteira e se tornou a primeira capital do Brasil a incluir o design em seu plano de governo”, reiterou o presidente do Ippuc, Sérgio Póvoa Pires.
“Curitiba tem grande mérito no crescimento do design. É uma cidade que transborda criatividade e tem demonstrado grande capacidade de aglutinar esforços na promoção do design e da economia criativa. Por isso, fazemos questão de apoiar as iniciativas curitibanas”, destacou César Borsa, que é assessor do Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo.
Entre os palestrantes estava o designer e empresário indiano Srini Srinivasan, CEO da empresa-norte americana Lumium e diretor executivo do Conselho Internacional das Sociedades de Desenho Industrial (ICSID). Srinivasan, que tem sua empresa instalada no Vale do Silício, nos Estados Unidos, viaja constantemente movido por seu trabalho e conhece de perto a realidade de muitas cidades ao redor do mundo.
“Problemas como o trânsito, a destinação do lixo, o aquecimento global, o envelhecimento da população mundial e o abastecimento de água podem e devem ser enfrentados por equipes que incluam designers em seu corpo técnico. São questões muito profundas que exigem soluções técnicas, mas também criativas”, enfatizou.
Na opinião do empresário, muitas situações urbanas exigem uma análise cuidadosa. “Para melhorar o convívio entre as pessoas, tornar a tecnologia mais acessível e criar impacto visual positivo em ambientes urbanos é preciso lançar mão do design e de suas ferramentas”, destacou Srinivasan. A mesma linha de raciocínio foi seguida pelo presidente da ProDesign>PR, Áulio Zambenedetti. “Dizemos que, no design, a coisa mais importante é saber fazer a pergunta certa. Isso muda a abordagem e facilita a resolução de problemas num mundo em constante mutação, que afeta desde a economia até as prioridades das pessoas”, salienta Zambenedetti.
“Na atualidade, muito mais do que estética e função, produto e beleza, o design é transformação. E isso vem ao encontro da vida nas cidades, que sofre mudanças em ritmo acelerado”, aponta o presidente da ProDesign>PR. Para demonstrar o papel do design nas cidades, Áulio trouxe dois exemplos: a recuperação dos empregos na Inglaterra e o combate à evasão escolar na Finlândia – ambos solucionados com a ajuda de profissionais do setor.
Já a diretora executiva do Centro Brasil Design (CBD), Letícia Castro, lembra que o design atua como um diferencial estratégico, tanto na iniciativa privada quanto nas ações governamentais. “O design promove a inovação e aumenta a competitividade. Para melhorar o posicionamento de empresas no mercado, por exemplo, o design tornou-se fundamental, especialmente numa cidade com o perfil de Curitiba que já tem mais de 80% do PIB gerado pelo setor de serviços”, lembrou Letícia.
A retenção de talentos é outro benefício gerado pelo design nas grandes cidades. “Ambientes criativos estimulam suas indústrias e investem nos setores criativos locais, obtendo resultados muito positivos. Basta citar o exemplo da Dinamarca onde 93% das empresas fazem uso do design”, conta Letícia. E, segundo ela, essa opção é facilmente explicável pelo fator econômico: cada 1% de investimento empresarial em design tem resultado em 3% de retorno.
Cidades como Buenos Aires – que aproveitou áreas degradadas para implantar quatro distritos: tecnológico, de audiovisual, de design e de artes – e Amsterdã – que desenvolveu a vitoriosa campanha de design “I AM STERDAM” para incrementar o turismo local, são exemplos de como o design pode colaborar para melhorar a vida nos grandes centros urbanos. E, segundo Letícia, o Brasil segue a mesma tendência. “Já somos o sétimo país mais premiado do mundo em termos de design. Em concursos, cerca de 60% dos projetos brasileiros têm sido premiados”, disse.
Na opinião do presidente do Ippuc, Sérgio Póvoa Pires, este é um caminho sem volta. Em Curitiba, além das parcerias estratégicas com o Centro Brasil Design e com a ProDesign>PR, o envolvimento com o design já garantiu o ingresso na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, ainda em 2014, e trouxe, este ano, o prêmio concedido pelo IF Design para as Tubotecas, que são as bibliotecas instaladas em estações-tubo das cidades. “Além disso, temos, pela primeira vez em nossa cidade, um plano estratégico de Design dentro do Plano Diretor de Curitiba. É um grande avanço”, comemora o presidente do Ippuc, Sérgio Póvoa Pires.