O combate à violência contra as mulheres foi o tema central do encontro Tudo por Elas – Construindo Intersetorialidades, realizado nesta sexta-feira (22/8) no auditório da Rua da Cidadania do Cajuru. O evento marcou o Agosto Lilás, mês de conscientização instituído em 2016, e reuniu representantes da Prefeitura de Curitiba, da Justiça e da academia para debater formas de enfrentar o problema.
A iniciativa foi promovida pela Fundação de Ação Social (FAS) e pela Secretaria Municipal da Saúde, em parceria com a Secretaria Municipal da Mulher e Igualdade Étnico-Racial, e contou com a presença de comunidade, servidores, pessoas atendidas pela rede socioassistencial e vereadores.
Além de discutir as diversas violências que atingem as mulheres, o encontro teve o objetivo de orientar, conscientizar e mostrar onde é possível buscar apoio e denunciar agressões.
No Brasil, o maior marco de proteção às mulheres é a Lei Maria da Penha, que neste ano completa 19 anos. Para os participantes do evento, o momento é de reflexão, mas também de ação concreta.
Importância do acolhimento
A assistente social Denise Kopp Zugman abriu a programação com a palestra Tecendo Redes pela Vida das Mulheres. Ela destacou a importância de políticas públicas para o enfrentamento das violências de gênero e refletiu sobre os fatores que dificultam a denúncia.
“A violência contra a mulher situa-se em um contexto de extrema complexidade que envolve padrões culturais de gênero, padrões familiares, crenças pessoais, dinâmicas relacionais e a saúde mental”, explicou.
Segundo Denise, muitas mulheres chegam aos serviços após um longo percurso de sofrimento. “Pesquisas apontam que um atendimento competente e o apoio adequado aumentam a possibilidade de a mulher escapar da situação de violência. Por isso, é essencial ter uma escuta qualificada e generosa”, afirmou.
Roda de conversa
O evento teve ainda uma roda de conversa que reuniu a secretária da Saúde, Tatiane Filipak, a a assessora de Gestão de Territórios da FAS, Cláudia Estorílio, e a diretora de Políticas para Mulheres da Secretaria da Mulher, Aline Betenheuser. Além da promotora da 1ª Promotoria de Enfrentamento da Violência Doméstica do Ministério Público do Paraná, Maria Aparecida Mello da Silva Losso; e da psicóloga da Defensoria Pública do Estado do Paraná, Jéssica Mendes, que trabalha na Casa da Mulher Brasileira. A mediação foi da pesquisadora em violência de gênero da PUCPR, Mônica Camolezi.
A secretária da Saúde, Tatiane Filipak, lembrou que violência e saúde estão diretamente ligadas. “Saúde não é apenas ausência de doença, mas bem-estar físico, mental e social. Muitas mulheres que chegam às nossas unidades estão em sofrimento psíquico, que é o primeiro passo para o adoecimento”, destacou. Para a secretária, o trabalho intersetorial, entre Saúde, FAS e Secretaria da Mulher, em conjunto com o legislativo e a comunidade, pode ajudar a mudar essa realidade. “Uma cidade só é realmente saudável quando garante dignidade e plenitude para todos. E este encontro é um chamado para que unidos continuemos avançando, com coragem e compromisso”, disse.
Transformação
A secretária da Mulher e Igualdade Étnico-Racial – pasta criada na gestão do prefeito Eduardo Pimentel -, Marli Teixeira, também ressaltou a importância da união de forças. “Quando falamos do Agosto Lilás, falamos em mudar uma realidade que ainda é marcada por várias formas de violência, inclusive a pobreza. Criamos o programa Curitiba Mais Mulheres, para integrar ações e projetos de proteção de direitos, promoção de igualdade e combate à violência de gênero, com foco em territórios vulneráveis”, disse. Segundo ela, o programa é um pacto pelas mulheres, que envolve a FAS, a Saúde, a Educação e outras secretarias.
Marli reforçou que o combate à violência também significa transformar a cultura. “É preciso sensibilizar famílias para não criar meninos e meninas de forma desigual. Ensinar que o cuidado doméstico também é papel dos meninos é parte dessa mudança.”
A representante da FAS, Cláudia Estorílio, destacou o papel da rede socioassistencial. “Curitiba se tornou uma metrópole, e a violência contra a mulher é um dos problemas que enfrentamos com políticas públicas e em rede. Nenhuma secretaria sozinha dá conta”, ressaltou.
Cláudia falou dos diferentes tipos de violência – física, psicológica, sexual, moral e patrimonial – e dos serviços ofertados pela FAS na capital, entre eles os dez Centros de Referência Especializados de Assistência Social, que atendem pessoas que tiveram direitos violados. Curitiba conta ainda com a Pousada de Maria, que há 32 anos acolhe mulheres vítimas de violência com seus filhos.
Comunidade
Diretora de um centro de educação infantil e presidente do Conselho Distrital de Saúde Cajuru, Edi Galdino de Brito Castilho aprovou a realização do evento por levar mais informação à comunidade. “Esse encontro fortalece vínculos e empodera mulheres. É importante para que homens e mulheres entendam como acolher e apoiar quem sofre violência. Muitas vezes as mulheres não têm força ou coragem para denunciar, e o acolhimento é essencial para que consigam sair da situação.”
Presenças
Participaram também do evento Júnior Alves, chefe de gabinete e que representou o administrador regional do Cajuru, Agostinho Creplive Filho, a supervisora do Núcleo da FAS, Cláudia Foltran, e a supervisora do Distrito Sanitário Cajuru, Letícia Reis. E, ainda, os vereadores João da 5 Irmãos e Vanda de Assis, além de representantes da rede de proteção, servidores municipais e conselheiros distritais da saúde.