Celso e Chaveirinho estão no reduto dos lustradores de sapatos de Curitiba há 24 anos, desde que a Boca do Brilho foi inaugurada, em 2001, entre a Praça Osório e a Boca Maldita, como parte de um projeto de revitalização do Centro. São mais de duas décadas de muito trabalho e boas conversas sobre família, futebol e política com uma clientela que não abre mão do serviço artesanal desses profissionais.
A clientela tem tudo para crescer. Se depender do prefeito Eduardo Pimentel, o projeto Curitiba de Volta ao Centro vai promover um novo redesenvolvimento do bairro, levando novos moradores e clientes para a Boca do Brilho.
Presidente da Associação de Lustradores de Calçados de Curitiba, Celso Alves da Silva, 56 anos, conta que a antiga profissão foi regulamentada na capital na década de 1990. Também foi neste período que todos os engraxates da região foram transferidos, inicialmente, para a Praça Osório, onde trabalhavam lado a lado, sob uma marquise, cada um com sua cadeira de madeira e caixinha de ferramentas.
“Com a Boca do Brilho, em 2001, passamos a ter um local mais seguro e confortável. Hoje, somos seis profissionais e continuamos a trabalhar de forma artesanal, recuperando os sapatos de nossos fregueses”, salienta Celso, que pode ser encontrado no local sete dias por semana, inclusive aos domingos.
Celso Alves da Silva, lustrador de sapatos.
Com clientes hoje de toda a cidade e também do interior e de Santa Catarina, Celso aprendeu o ofício cinco anos antes de ingressar na Boca do Brilho. “Antes fui padeiro, porteiro e também trabalhei na manutenção de pontos de ônibus. Mas um namorado da minha tia trabalhava como engraxate e começou a me ensinar. De lá para cá, não parei mais”, lembra ele, com 29 anos de profissão.
Família criada
Entre um sapato e outro, Aparecido Rodrigues da Silva, 66 anos, mais conhecido como Chaveirinho, criou os cinco filhos com o trabalho de engraxate. Natural de Paraíso do Norte, no Noroeste do estado, ele se mudou para a capital em 1993 motivado a dar um futuro melhor para as crianças, onde pudessem estudar e não acabar no trabalho braçal.
Em 2025, ele completa 32 anos de profissão, sendo 24 anos na Boca do Brilho, e garante que, apesar das mudanças nos perfis dos clientes, continua a ser um trabalho gratificante.
“Muitos me perguntam se nossa profissão vai acabar. Eu sou um otimista, acho que vamos continuar a ter nossos clientes, pois o curitibano gosta de andar arrumado e, já que os sapatos bem lustrados fazem parte do vestuário, muitos não vão abrir mão do nosso serviço”, avalia Chaveirinho.
Chaveirinho garante que, além dos clientes o procurarem pela qualidade do serviço, a maioria também quer uma boa conversa e trocar experiências. Os assuntos que mais surgem, revela ele, são sobre política, futebol e família. “Temos que estar a par de tudo para podermos conversar com nossos clientes”, observa o lustrador.
Tecnologia a favor
Os profissionais da Boca do Brilho também se renderam à tecnologia para manter a clientela. Alguns fregueses agendam com os engraxates pelo WhatsApp e todos também podem fazer o pagamento por pix. “Temos que nos atualizar e ofertar essas comodidades”, justifica Celso, que como presidente da associação representa os profissionais junto à Urbanização de Curitiba (Urbs), responsável pelo espaço.
Os profissionais da Boca do Brilho reconhecem que a maioria dos clientes são homens, mas reforçam que não trabalham apenas com calçados masculinos. “Temos também mulheres clientes que nos procuraram para recuperar o couro como também para consertar os tacos de sapatos femininos”, ressalta Chaveirinho.
Boca do Brilho
Os seis profissionais que trabalham hoje na Boca do Brilho atendem de domingo a domingo. De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. Sábados, das 7h às 16h, e domingos, das 8h às 12h. O serviço custa a partir de R$ 15 e compreende, além da aplicação de graxa no couro, a de tinta no solado (se necessário).
Na hora de realizar o serviço, cuidados como proteção das meias e retirada dos cadarços mostram o quanto esse antigo ofício pode ser único. Com preços sob consulta, os profissionais ainda recuperam cintos, bolsas, casacos, pastas e malas.
“Quando venho de Quarto Centenário para reuniões com o Governo do Estado, antes de voltar passo aqui para lustrar meus sapatos. Em minha cidade não temos mais este tipo de serviço”, conta Akio Abe, prefeito do município no Oeste do Paraná, que sempre é atendido por Celso e estava em Curitiba esta semana para um encontro do Consórcio de Saúde.
“Além de ter a confiança de que o sapato vai ficar impecável, a gente também troca uma boa prosa. Por isso, venho há mais de 15 anos”, afirma o consultor imobiliário Walter Souza, cliente de Chaveirinho.