Na semana passada, Bianca se dirigiu a uma audiência para sacramentar o divórcio com o marido. Ele não apareceu, postergando um processo que só chegou à sua fase final graças a um auxílio integral prestado pela Casa da Mulher Brasileira de Curitiba.
O nome de Bianca é fictício, para preservar a identidade da mulher que vive hoje numa cidade paulista e está deixando para trás um passado de agressões físicas.
Ela veio para a capital, onde tem parentes, fugindo do marido, contra quem já havia registrado boletim de ocorrência e feito exame no Instituto Médico Legal (IML) em sua cidade de origem. Foi instruída a entrar com pedido de medida protetiva, pois o marido continuava a ameaçá-la por telefone.
Até chegar à Casa onde encontrou o apoio que precisava, Bianca passou por duas outras delegacias. “Fui super-bem atendida, desde a recepção, e recebi tudo o que precisei para me recompor”, relata ela sobre o espaço integrado de atendimento à mulher em situação em violência que funciona em Curitiba desde junho de 2016.
No local, Bianca fez novo boletim de ocorrência, conseguiu a medida protetiva, ficou alojada por alguns dias, recebeu apoio psicológico e social e foi encaminhada para uma vaga de trabalho (saiba mais). Um atendimento multidisciplinar necessário para recompor a normalidade de uma vida que passava por uma série de dificuldades.
Por fim, ela decidiu retornar à cidade de origem, a fim de dar entrada no divórcio.
“A Casa é um oásis no atendimento da mulher, principalmente em comparação com outros lugares que passei. Ninguém te olha com piedade, dó ou pena”, diz ela. “Esse olhar de igualdade já conforta.”
A percepção de Bianca está muito alinhada à filosofia de trabalho que a CMB procura imprimir em seu dia a dia. “O que fazemos aqui não é assistencialismo”, explica Sandra Praddo, coordenadora da CMB. “É empoderamento jurídico para que a mulher, rica ou pobre, possa seguir com a sua vida, resgatar cidadania e autoestima.”
Referência de atendimento
O atendimento de Bianca foi dos 8.639 realizados pela CMB entre janeiro e setembro deste ano. Além desses, também foram feitos 12.543 encaminhamentos e 64 alojamentos emergenciais (para mulheres em situação de risco).
O local conta com diversos serviços, como Delegacia da Mulher, Defensoria Pública, brinquedoteca, transporte, atendimento psicossocial, autonomia econômica, Ministério Público, Patrulha Maria da Penha, Guarda Municipal e Polícia Militar (veja abaixo).
Segundo Sandra, o número de atendimentos realizados pela Casa tem aumentado principalmente após a instalação de um módulo da Delegacia da Mulher no local. Apesar disso, ela acredita que ainda há muita resistência por parte das mulheres em denunciar quem as agride.
“Elas nos relatam que dar o primeiro passo é o mais difícil, porque chegam aqui com um misto de sentimentos como vergonha, medo de se expor, impotência e baixa autoestima”, explica.
Para quebrar essa resistência, a coordenadora já descobriu uma receita: acolhida com sensibilidade, bom atendimento e não julgamento.
Veja os principais serviços
A Casa é inteiramente administrada pela Prefeitura de Curitiba, vinculada à Coordenação de Políticas para Mulheres, e conta com 65 funcionários que trabalham em regime de escala nas 24 horas do dia.
Triagem: ao chegar a Casa, as mulheres preenchem uma ficha cadastral e são encaminhadas para outros serviços, de acordo com sua necessidade.
Acolhida psicossocial: as mulheres acolhidas passam por uma sessão com uma psicóloga ou assistente social para avaliar sua situação e determinar que outras medidas precisam ser tomadas. Caso estejam acompanhas de crianças, estas podem esperar na brinquedoteca.
Delegacia da Mulher: local conta com uma delegada e dois escrivães para a realização de boletins de ocorrência e devidos encaminhamentos.
Alojamento de passagem: garante estadia para mulheres em risco de morte e seus dependentes por até 72 horas.
Defensoria Pública: realiza, principalmente, pedidos de medida protetiva para os casos mais graves, que são emitidas em 24 horas em caráter de urgência.
Transporte: caso haja necessidade de serviços em outro local, como exame no IML, é oferecido transporte. A mulher sempre vai acompanhada de uma funcionária da Casa.
Autonomia econômica: setor responsável pela reinserção das mulheres no mercado de trabalho por meio do encaminhamento para entrevistas de emprego.
Patrulha Maria da Pena: nos casos mais graves, faz visitas periódicas para verificar se o agressor não está descumprindo a medida protetiva.
Endereço
Avenida Paraná, 870, Cabral
Mais informações: (41) 3352-5761.