O fortalecimento da atenção à gestante foi uma das prioridades do Sistema Único de Saúde (SUS) Curitiba desde 2013. Os investimentos e ampliações realizados no Programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha resultaram em melhores índices de saúde na cidade. Um exemplo desses investimentos foi a ampliação no número de consultas às gestantes de baixo risco durante o pré-natal, com a oferta de mais de sete consultas ao longo de todo o período, como preconizam os organismos internacionais de saúde.
Nos oito primeiros meses deste ano, a média de consultas por gestante de baixo risco durante o pré-natal ficou em 7,42 consulta/gestante. Em 2012, esta marca era de 6,44 consulta, um acréscimo de, no mínimo, uma consulta ao longo de todo o período gestacional.
Nos casos de gestantes de alto risco, além do acompanhamento na unidade básica de referência, a futura mãe também realiza consultas periódicas no hospital onde será realizado o parto. Nesse caso, o número de consultas está relacionado à doença da mãe. Gestantes com problemas cardíacos, por exemplo, deverão realizar pelos menos mais sete consultas no hospital de alto risco onde estão vinculadas, praticamente dobrando o número de consultas pré-natais.
Redução na mortalidade
Graças às mudanças no fluxo de atendimento, com o trabalho integrado das equipes das unidades básicas de saúde, centros de especialidades e maternidades, houve redução significativa das taxas de mortalidade infantil e materna, dois indicadores-chaves da qualidade de sistemas de saúde no mundo todo. Entre as crianças, o número de óbitos caiu de 9,5/1.000 nascidos vivos em 2012 para 8,7, na última parcial de 2016. Em 2014, este índice atingiu a menor taxa já registrada em Curitiba, 7,7.
Os índices de mortalidade materna também apresentaram tendência de queda. “Hoje, a mortalidade materna em Curitiba é um evento raro, discutido com todas as unidades de saúde e hospitais, para alinhamento de condutas visando à diminuição desse tipo de situação”, explica o coordenador do programa, o ginecologista e obstetra Wagner Barbosa Dias. Nos últimos três anos, foram registrados, em média, oito casos por ano, o que reflete uma razão de mortalidade decorrente de complicações durante a gestação, parto e pós-parto de 33,7/100 mil. Entre 2005 e 2008, esta marca era de 45,43/100 mil nascidos vivos. Em 2011, Curitiba chegou a registrar 15 óbitos.
Várias medidas foram aplicadas para reduzir a mortalidade e, consequentemente, melhorar os índices na cidade. O primeiro passo, ainda no começo de 2013, foi a revisão do fluxo para avaliação de pacientes de risco. “Na época, as gestantes que apresentavam indicativo de risco gestacional esperavam até quatro meses para a confirmação desse quadro para então serem encaminhadas para o serviço especializado. Para uma gestante, isso é muito tempo. Agora, esse processo não demora mais do que 15 dias”, salienta o médico.
Hoje, a avaliação de risco gestacional é realizada na Unidade Especializada de Saúde Mãe Curitibana, localizada no mesmo endereço da Unidade Básica Mãe Curitibana, no São Francisco, e também no Centro de Especialidades Hauer e Centro de Especialidades Santa Felicidade. Desde março de 2013, mais de 16 mil mulheres de todas as regiões da cidade já foram avaliadas e a fila de espera para o ambulatório de risco acabou.
Depois dessa avaliação, os casos mais graves são encaminhados para acompanhamento em hospitais de referência, como é o caso do Hospital de Clínicas e do Hospital Evangélico. As gestantes também já ficam vinculadas ao hospital para dar à luz ao bebê.
Paralelamente, as gestantes devem continuar realizando o pré-natal na unidade básica de saúde. “Constatamos que somente 10% das pacientes precisavam de atendimento em hospital de alto risco. As demais eram gestantes de risco habitual e que tinham condições de fazer o acompanhamento nas unidades básicas de saúde em parceria com os especialistas que desde 2014 atuam nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasfs)”, explica o coordenador.
Rede de cuidados
A operadora de caixa Greiciele Honório do Prado, 22 anos, teve toxoplasmose e, já na primeira consulta na Unidade de Saúde Barigui, foi direcionada para a avaliação de risco, no Hospital Evangélico. Descartados possíveis problemas durante a gestação, Greiciele continuou fazendo o pré-natal na unidade até o parto. Yago nasceu no último dia 29 de setembro e ela elogia o atendimento que recebeu na rede pública de saúde. “Fui muito bem assistida, desde o pré-natal até o momento do parto”, comenta.
Na Unidade de Saúde Barigui, no CIC, além das consultas, ela recebeu todas as orientações necessárias sobre saúde, alimentação, amamentação e os cuidados básicos com o bebê durante e depois da gestação.
A recepcionista Patrícia Aparecida Cesare, 22 anos, estava fazendo o pré-natal na rede particular. Entretanto, como o seu plano de saúde não dá cobertura para o momento do nascimento do bebê, apenas no terceiro trimestre de gestação ela foi até a unidade de saúde para fazer o cadastro. “Só agora, com 35 semanas de gestação, é que o médico da rede particular me falou que eu precisava passar pela unidade de saúde para saber onde será o parto. Faltou orientação da parte dele. Se eu soubesse, teria feito todo o pré-natal pelo SUS”, destaca Patrícia, que já passou por uma gestação anterior mas sofreu um aborto espontâneo no segundo trimestre.
O coordenador da Unidade de Saúde Barigui, Valmiro Antonio de Oliveira, explica que a vinculação com a equipe de saúde é muito importante para um bom acompanhamento pré-natal, ainda mais quando se trata de gestação de risco. “No SUS, as futuras mães passam por uma série de exames e acompanhamentos para evitar problemas futuros a ela e ao bebê, além de terem a oportunidade de participar de cursos e oficinas de preparação para a chegada da criança”, explica.
Protocolo
O protocolo do Programa Mãe Curitibana foi acrescido de novas orientações técnicas para os profissionais de saúde, como melhorias no diagnóstico e tratamento de queixas urinárias durante a gestação, doenças hipertensivas, violências, sífilis, entre outras. “A partir do que já estava consolidado no Programa Mãe Curitibana, implantamos diversos aprimoramentos no cuidado à saúde das gestantes e de seus filhos”, comenta o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton.
O secretário salienta ainda as melhorias efetivadas na atenção a todas as mulheres em idade fértil, que contribuíram com a redução significativa na proporção de mães adolescentes na cidade. Em 2012, as adolescentes representavam 13,2% do total de partos realizados em Curitiba. Em 2015, essa taxa baixou para 11,7% graças aos trabalhos de prevenção e orientação realizados dentro do Programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha pelas 109 unidades básicas de saúde da capital.
A auxiliar de serviços gerais Claudia Aparecida Fernandes, 29 anos, foi mãe com apenas 14 anos e hoje, com quatro filhos – sendo duas adolescentes de 13 e 15 anos – salienta a importância de trabalhos de orientação e prevenção desenvolvidos na rede pública. Usuária da Unidade de Saúde Vila Esperança, no Boa Vista, ela lembra que quando engravidou, sequer foi orientada a fazer pré-natal. Sua filha mais velha, Larissa, nasceu prematura, com menos de sete meses de gestação, e passou por momentos delicados até o sexto mês de vida. “Naquela época, a gente não tinha juízo e também não tinha nada de informação. Não se falava métodos anticoncepcionais na escola ou em casa. Hoje, minhas filhas recebem todo tipo de informação e participam do grupo de adolescentes da unidade. Estão muito mais preparadas do que eu estava”, comenta.
Entenda as diferenças
Programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha
O Programa Mãe Curitibana foi criado em 1999 e, em 2013, incorporou as diretrizes da Rede Cegonha, do Ministério da Saúde. É uma relação de protocolos e diretrizes adotados por toda a rede de saúde da cidade (unidades e hospitais vinculados) para dar assistência à mulher e à criança e que têm como princípios fundamentais o respeito e a humanização, contribuindo para o aprimoramento constante da qualidade da atenção às gestantes e aos recém-nascidos. É destinado para a implementação de uma rede de cuidados que visa a assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.
Para iniciar o pré-natal pelo Programa Mãe Curitibana, a mulher deve procurar a unidade básica de saúde mais perto de sua casa. Na primeira consulta, a mãe recebe a carteira de pré-natal e fica sabendo em qual maternidade nascerá seu bebê.
Unidade Especializada Mãe Curitibana
A Unidade Especializada Mãe Curitibana, localizada no bairro São Francisco, é referência para o atendimento a crianças e gestantes de risco de toda Curitiba, e oferece especialistas como mastologistas, ecografistas, neuropediatras, infectologistas pediátricos, cardiopediatra, gastropediatra, dermatopediatra e endocrinopediatra, além de centralizar as cirurgias de alta frequência para lesões de colo de útero. É para lá que são encaminhadas as gestantes vinculadas ao Programa Mãe Curitibana que necessitam passar pela avaliação de risco.
Unidade Básica de Saúde Mãe Curitibana
A Unidade Básica de Saúde Mãe Curitibana, localizada no mesmo endereço da Unidade Especializada, no São Francisco, conta com médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e outros profissionais que trabalham no modelo da Estratégia Saúde da Família. A unidade funciona como as demais unidades básicas da rede de saúde de Curitiba, oferecendo todos os tipos de serviços aos moradores da região, independentemente de sexo ou idade.