A história fictícia da pequena Chiquinha, personagem do teatro de fantoches da Guarda Municipal de Curitiba que estava prestes a embarcar no carro de um estranho em contato feito pela internet, fez com que 600 estudantes da Escola Municipal Professora Miracy Rodrigues de Araújo, no Sítio Cercado, ficassem vidrados na apresentação da peça de teatro.
Na história, o estranho mente para a garota, por meio de um perfil falso nas redes sociais, fingindo ser criança para se aproximar da menina. No meio da peça, as crianças imploraram por meio de gestos e apelos para que a boneca não se deixasse enganar pelo adulto; no outro momento, comemoraram as vitórias e responderam aos questionamentos feitos a eles pelos atores.
A encenação foi feita para estudantes da pré-escola ao 5.º ano do ensino fundamental, crianças entre 6 e 10 anos de idade. É por meio dessa interação e da criatividade que os quatro guardas municipais que atuam na produção do teatro de fantoches abordam em suas apresentações para o público infantil o difícil tema da “pedofilia” e dos perigos do acesso à internet sem o acompanhamento dos pais. Também reforçam, de maneira especial, os cuidados, orientações e informações preventivas, como sinais de alerta, entre outros.
“Gostei do momento em que o guarda apareceu e levou o mentiroso preso”, disse a estudante do 4º ano, Isabela Duarte Simão, de 9 anos. Quando questionada sobre as lições que ela aprendeu com a apresentação, Isabela conta: “Amigos que você arruma na internet não são confiáveis como na vida real. É bom ter cuidado porque podem ser falsos”. O colega de turma Matheus Ribeiro de Oliveira, de 9 anos, por sua vez, aprendeu a lição e saiu repetindo que não se deve aceitar doces ou promessas de estranhos. Na peça, os bonecos recomendam a não esconder nada dos pais e a buscar a ajuda do agente da guarda que presta serviços à comunidade.
“As crianças gostam muito porque a apresentação da peça é uma forma lúdica de abordar melhor alguns assuntos que são preparados ou que vão ser aprofundados e complementados em sala de aula”, diz a diretora da escola, Denise Garsztka. “Depois das apresentações, elas ficam por dias comentando o assunto e levam o que aprenderam também para dentro de casa”, acrescenta.
A Guarda Municipal possui 70 peças prontas e adaptações de roteiros para abordar diferentes situações. Só na escola Miracy, as apresentações já abordaram temáticas como o bullying, a higiene, os perigos das drogas, a violência familiar, os riscos com acidentes caseiros, a dengue e pessoas desaparecidas. “Com as crianças, a ideia não é trabalhar só a peça, o tema, o teatro em si, mas transmitir ainda a mensagem de que o guarda é amigo e pode ser chamado quando for preciso. Para a criança, quando vir o guarda e a guarda na rua, saber que pode contar com eles”, diz o guarda municipal José Eduardo Baladelli.
O coordenador do Teatro de Fantoches, Adão Carlos de Freitas, lembra que são apresentadas em média de 25 a 28 peças por mês e que só em 2015, até julho, a plateia bateu a marca de 18.560 pessoas.
Plateia de todas as idades
Os alunos da rede municipal de ensino não constituem a única plateia do teatro de fantoches da Guarda. Ele leva conscientização e orientações também para adultos, funcionários de empresas ou servidores públicos dos municípios da Grande Curitiba. Seja em eventos, capacitações e semanas de palestras. Nesta sexta-feira (21), a apresentação do teatro integrou a Semana de Promoção da Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Servidor Municipal (Sipat).
Com a ajuda do Dr. Prevenildo, do Guarda Leo, da Nina, Lula e da Dona Clara, o teatro provocou uma plateia de 300 funcionários dos diversos órgãos e secretarias da Prefeitura de Curitiba a se preocupar com cuidados com a alimentação, a saúde, segurança no trabalho, o planejamento familiar, a manter em dia os exames periódicos e preventivos, a evitar o estresse e a aderir aos programas públicos que ajudam a combater os problemas derivados do tabagismo e do alcoolismo.
“O teatro apresenta uma forma mais leve e descontraída de transmitir a informação para o público adulto. Quebra com o padrão da palestra mais técnica e faz com que se assimile o tema dando risadas, refletindo e se divertindo ao mesmo tempo”, explica a psicóloga Márcia Virtuoso, coordenadora dos programas em Saúde Ocupacional da Secretaria Municipal de Recursos Humanos.
O guarda Daniel Augusto Orchel, agente do Centro de Operações da Defesa Social, que foi bastante citado nas brincadeiras dos bonecos da Guarda Municipal, atuou como um personagem a mais na história. Ele acredita que essa abordagem do teatro de fantoches, ao misturar temas sérios com encenação e brincadeiras, torna mais fácil a percepção dos problemas. “A gente nota que as pessoas deixam de se cuidar no dia a dia e também esquecem de cuidar dos colegas. Não é papel da segurança no trabalho dar broncas só, mas levar as pessoas a cuidarem uma das outras”, disse Orchel.
O guarda Adão Carlos de Freitas explica que o desafio de encenar para adultos está na quebra de gelo. “É mais complexo fazer o adulto interagir com a peça como acontece com as crianças. Você trabalha mais para que eles entrem no clima, se identifiquem com a situação e reflitam sobre o assunto”, informa. Mesmo sem uma formação em artes cênicas, o “quarteto fantástico” do Teatro de Fantoches da Guarda Municipal se dedica para dar conta do recado. Agrada adultos e crianças e, no final, colhe o merecido reconhecimento na forma de aplausos e sorrisos.
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Vídeo: https://www.curitiba.pr.gov.br/tv/teatro-de-fantoches-da-guarda-municipal-recebe-selo-que-premia-boas-praticas/3437