Santa Felicidade deverá sediar um projeto-piloto de economia criativa no próximo ano. No local, o projeto prevê implantação do ensino de manipulação do vime, como apoio ao desenvolvimento da indústria local. Com diversas lojas do ramo moveleiro e de decoração, o bairro é tradicional na oferta de produtos confeccionados a partir do vime e já possui algumas empresas do ramo instaladas na região.
Outra área promissora, segundo Gina Paladino, presidente da Agência Curitiba, é o incentivo a produção de marchetaria. “Curitiba possui excelência nesse setor e possui grandes mestres de ofício nessa área”, diz Gina. A marchetaria, ou marqueteria, é a arte de ornamentar superfícies planas de móveis, painéis, pisos e tetos através da aplicação de diversos materiais como madeira, metais, madrepérola, pedras, plásticos, marfim e outros elementos, tendo como principal suporte a madeira.
Esses foram alguns dos exemplos apresentados por Gina durante sua participação no encontro que discutiu caminhos para o desenvolvimento da economia criativa em Curitiba, realizado na tarde desta terça-feira (19), no Paço da Liberdade. O encontro foi precedido pela palestra “Economia da Cultura e Indicadores da Economia Criativa – Inspirações para Curitiba”, ministrada pelo economista e mestre em Urbanismo, com ênfase em Economia da Cultura, Leandro Valiati.
No evento, o vice-presidente da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio-PR), Paulo Nauiack, a presidente da Agência Curitiba e o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli, apresentaram cenários da economia local com enfoques específicos, de acordo com cada área de atuação. Gina Paladino lembrou que este foi o primeiro debate sobre economia criativa organizado pela Prefeitura, em parceria com a Fecomércio e a Fundação, que está alinhado ao plano de governo do prefeito Gustavo Fruet.
Mapeamento
“Vamos realizar um mapeamento da cidade sobre os setores da economia criativa e das empresas que operam em Curitiba”, informou a presidente da Agência Curitiba.
Em Curitiba, 80% do Produto Interno Bruto (PIB) de Curitiba são relativos aos setores de serviços. Segundo os participantes, a economia criativa como estratégia de desenvolvimento econômico promove altos valores agregados. Gina citou uma pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) que mostra que os salários médios dos trabalhadores da economia criativa é quase três vezes superior, em torno de R$ 4,7 mil, que a média dos salários de todos os outros setores, na faixa de R$ 1,7 mil, de acordo com dados referentes a 2011.
O economista Leandro Valiati disse que a iniciativa da Agência Curitiba é um grande avanço e uma vantagem para a capital. “A Agência Curitiba reúne parceiros estratégicos, como a Fecomércio, e outras organizações ligadas a serviços. Isso demonstra uma coalizão de agentes para se pensar a economia criativa”, afirmou Valiati. Segundo ele, o fomento ao empreendedorismo e o resgate de valores culturais do Estado, de características típicas, como elementos de diferenciação de produtos econômicos, estão entre os principais fatores para a definição de estratégias de políticas públicas no desenvolvimento da economia criativa.
Economia Criativa
“A economia criativa deve ser assumida como estratégia de desenvolvimento econômico associado à inovação, ao contexto tecnológico, desde a oferta de práticas culturais até a oferta de novos softwares, como por exemplo a criação de jogos eletrônicos”, explica Valiati. Ele citou a Inglaterra e a Austrália como exemplos de países que já se destacam no desenvolvimento da economia criativa. “São países que assumem uma posição pós-industrial, com a utilização do design como diferenciação para a agregação de valores”. A Inglaterra promoveu a inovação com um bem fundamentado plano sobre direitos de propriedade intelectual. Já a Austrália se vende com a oferta de serviços qualificados e desenvolveu produtos tecnológicos inovadores muito vinculados ao turismo, que é um dos focos estratégicos do país.
O trabalho produzido pela Firjan afirma que esse novo conceito econômico foi cunhado no final da década de 1990 pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS) do Reino Unido. O departamento lançou o primeiro mapeamento das indústrias criativas com o objetivo de mostrar que estas vão além do papel fundamental da cultura e que possuem um vasto potencial de geração de empregos e riquezas. “Com uma visão abrangente, essa iniciativa agrupou atividades econômicas, cujo principal insumo produtivo era a criatividade, desde o design ao desenvolvimento de software. Sob a perspectiva do processo produtivo, o estudo mapeou não só as empresas essencialmente criativas, como também aquelas que se relacionavam com elas, jogando luz sobre a importância das cadeias criativas”.
O estudo da Federação carioca aponta 14 segmentos potenciais no Brasil para o desenvolvimento da economia criativa. Entre as áreas estão os setores de arquitetura e engenharia, artes, artes cênicas, biotecnologia, design, expressões culturais, cadeia de produção de filmes e vídeos, mercado editorial, moda, música, pesquisa e desenvolvimento, publicidade, software e computação e Telecom. Segmentos que encontram semelhanças com o perfil de Curitiba.
O economista Valiati ressalta ainda que o Brasil já possui o escopo institucional com a existência da Secretaria da Economia Criativa, vinculada ao Ministério da Cultura. Além disso há projetos-piloto em desenvolvimento, através de Observatórios de Economia Criativa, instalados em cinco universidades federais Fluminense, da Bahia, Amazonas, Goiás e Rio Grande do Sul. Valiati é o coordenador do observatório da universidade gaúcha.