A Capela Santa Maria iniciou o fim de semana com uma cena que desconstruiu a imagem tradicional da música de concerto. Na estreia do programa Rock por Arcos, da Orquestra de Câmara de Curitiba, os músicos subiram ao palco com camisetas de bandas, coturnos, jaquetas escuras, acessórios metálicos e maquiagens marcadas. Entre eles, batons pretos e delineados carregados substituíram a formalidade habitual das apresentações da casa.
O público, por sua vez, respondeu à atmosfera com entusiasmo, a primeira sessão da noite, realizada nesta sexta-feira (14/11), teve ingressos esgotados, assim como as outras sessões programadas para o sábado (15/11), incluindo a extra, aberta após a demanda superar a capacidade da sala.
Sob a regência de Gustavo Petri, maestro convidado e diretor artístico da Brasil Jazz Sinfônica, o concerto apresentou arranjos camerísticos para alguns dos maiores clássicos do rock mundial. No repertório, obras de Pink Floyd, Metallica, Beatles, Nirvana, Guns N’ Roses, Led Zeppelin, Linkin Park, entre outros nomes que atravessam gerações.
A proposta de Petri, que também assina os arranjos, é criar uma ponte entre dois universos que, à primeira vista, parecem distantes mas que, segundo ele, sempre dialogaram.
“O rock e a música de concerto compartilham intensidade, energia e, muitas vezes, até estrutura. Quando traduzimos esses clássicos para as cordas, mostramos que eles têm uma profundidade que vai além do som de guitarra. É um convite para ouvir o que já é familiar de um jeito completamente novo”, afirmou o maestro após a primeira sessão.
Pianista, compositor e antigo integrante da banda paulista Banda de Choque, Petri já desenvolve esse trabalho há anos, equilibrando sua formação erudita com a vivência no universo popular.
O figurino dos músicos foi um dos elementos mais comentados da noite. A decisão de substituir o formalismo por elementos do rock, camisetas de banda, maquiagem carregada e detalhes metálicos, contribuiu para a sensação de imersão no estilo.
Nas primeiras fileiras, era possível notar o espanto positivo de quem já frequenta a Capela há anos e encontrou uma orquestra quase irreconhecível. A advogada Jaqueline Socher que acompanha regularmente as temporadas da Camerata, estava animada com o concerto. “Estou acostumada a ver a orquestra com vestidos longos e gravatas. Hoje, quando os músicos entraram com camisetas de rock e batom escuro, já ficou claro que a experiência seria diferente. Isso abre portas para novos públicos e mostra a versatilidade do grupo.”
Entre os estreantes na Capela estava Andressa Lor, fã de rock e trouxe a família para assistir. Ele conheceu o concerto pelas redes sociais e decidiu ir pela curiosidade de ver uma orquestra tocar Metallica. “Eu nunca tinha vindo a um concerto de música de câmara. Vim só para ver como ficaria ‘The Unforgiven’ com cordas. Mas saí impressionada. Parece outra música, mas com a mesma força. Eu voltaria outras vezes”, comentou.
Entre os destaques da noite, foram também trechos de obras como Final Countdown, What I’ve Done, Eye of the Tiger, While My Guitar Gently Weeps e Smells Like Teen Spirit que alternaram entre explosões de energia e momentos de delicadeza, mostrando a versatilidade que o formato camerístico pode oferecer.
Continuidade da programação
Para encerrar a temporada da Camerata, a Capela Santa Maria recebe outros dois concertos. Nos dias 28 e 29 de novembro, o Coro da Camerata Antiqua de Curitiba apresenta Chansons d’un autre temps, com regência de Lucie Barluet e Marília Vargas, em homenagem aos 95 anos de Ingrid Müller Seraphim.
Na sequência, nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, a Camerata apresenta seu concerto de Natal sob regência de Peter van Heyghen (Bélgica), com obras de Johann Heinrich Rolle e participação de solistas convidados. Ingressos no ZET.