Depois de passar quase cinco anos em uma unidade de acolhimento institucional, mantida pela Fundação de Ação Social (FAS), o adolescente Lucas Matheus Sobral Vieira de Freitas, de 18 anos, está de casa nova. Em agosto de 2020 ele se mudou para uma das repúblicas também da fundação que oferecem moradia, proteção e apoio a jovens acolhidos que, ao completarem 18 anos, estão em situação de risco pessoal, social e de abandono, sem vínculos com familiares e sem condições de ter onde morar ou se autossustentar.
Lucas divide a moradia com mais um adolescente que também foi desligado do serviço de acolhimento. A república fica em um apartamento da Cohab, no Caiuá, na CIC. O espaço é bancado pelo município – que paga o IPTU, taxa de condomínio e energia elétrica - e os adolescentes são responsáveis pela organização, limpeza e custos de alimentação, material de higiene e limpeza.
O adolescente foi acolhido por determinação da Justiça, em 2016. Desde então viveu no Lar Infantil Sol Amigo, instituição conveniada à Fundação de Ação Social (FAS).
“Foi muito boa minha experiência no lar, mas estou gostando muito de ser independente e poder fazer as minhas coisas, é o que eu sempre quis”, conta o rapaz que nasceu em Curitiba e prefere não manter contato com a família.
Incentivo e trabalho
Há um ano Lucas vem se preparando para a tão sonhada independência. Incentivado pela instituição de acolhimento, fez um curso técnico de administração e se matriculou, em dezembro de 2020, no curso superior de Tecnologia em Construção de Edifícios no Instituto IDD, que oferece graduação nas áreas de engenharia e arquitetura. O início das aulas depende da resposta do alistamento militar.
O curso foi escolhido depois que Lucas foi encaminhado e passou a estagiar no Grupo Mayer, que trabalha com licenciamento e elaboração de projetos para imóveis. Em novembro do ano passado, depois de 11 meses de estágio, foi contrato.
Paralelamente, Lucas abriu com a namorada uma loja de roupas, que funciona de maneira on-line, possibilitando compra de itens por meio eletrônico. “Meu plano para o futuro é ser um empreendedor, um empresário”, diz.
Foco é o segredo
Tantos projetos e realizações são fruto da dedicação de Lucas, diz Jefferson Portugal Marchiorato, gerente de Serviços para Jovens e Acolhimento Familiar da FAS.
“Desde o início de sua vinculação à unidade de acolhimento, Lucas se mostrou um adolescente inteligente, dócil, amistoso, pró-ativo, com objetivos claros de vida e disposição para alcançá-los”, conta.
Apesar de tantos compromissos, Lucas conta que gosta ainda de ler e ouvir música nas horas vagas, além de passar um tempinho nas redes sociais.
Mesmo com as dificuldades que enfrentou, o rapaz mantém o otimismo e dá um recado: “apesar de tudo o que acontecer na vida de cada um, sendo coisas boas ou ruins, não podemos desistir dos nossos objetivos. Nada na vida é fácil ou de graça”, diz. “Só conseguimos alcançar o que queremos com foco, determinação, dedicação, esforço. Sempre teremos julgamentos, porém temos que ser fortes e lutar para alcançar os nossos objetivos.”
Proteção
Curitiba tem hoje quatro repúblicas para atender jovens egressos de acolhimento institucional. O serviço é coordenado pela FAS. São duas unidades femininas e duas masculinas que, atualmente, abrigam nove pessoas.
As repúblicas são destinadas prioritariamente para jovens de 18 a 21 anos. A permanência nas unidades é de até dois anos, mas existe a possibilidade de reavaliação e prorrogação em função de projeto individual de atendimento realizado e acompanhado pela equipe técnica dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas).
Marchiorato explica que o atendimento técnico apóia a construção e o fortalecimento de vínculos comunitários, a integração e participação social e o desenvolvimento da autonomia das pessoas assistidas.
“Essa modalidade de acolhimento é desenvolvida em sistema de autogestão e cogestão, o que visa possibilitar a gradual autonomia e independência de seus moradores”, diz.
Durante todo o tempo, o trabalho busca a qualificação e inserção profissional e a construção de projetos de vida dos jovens.