Se mais de 200 crianças e adolescentes de 7 a 17 anos da Vila Nova Barigui, na CIC, estão fazendo atividades esportivas, culturais e de lazer neste momento é porque muita gente destinou para o Fundo da Infância e da Adolescência (FIA) parte do Imposto de Renda (IR) a pagar e que iria para o caixa da União.
Toda essa garotada é atendida pelo Projeto Vida, uma organização da sociedade civil (OSC) parceira da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano (SMDH) que há 27 anos trabalha para manter a meninada longe do uso de drogas, do bullying e do abuso sexual. Esse trabalho vai de segunda a sábado e mantém quem participa conectado com atividades que fazem brilhar os olhos de toda criança e todo adolescente saudável – como dança, produção digital e esportes, entre várias outras.
É o caso de Ana Clara Brandelero, que participa de oficinas e estuda música. Além de já ter alguma familiaridade com o teclado, a menina está começando a estudar flauta transversal – um dos instrumentos da banda sinfônica que a equipe da OSC pretende reativar em breve. “Eu gosto de vir aqui. É bom pra aprender coisas novas”, diz.
A ajuda que vem do imposto
A destinação do IR representa cerca de 10% do custeio mensal da OSC, que gira em torno de R$ 180 mil. É o que conta o seu fundador, Paulo Pereira de Novaes, que iniciou o trabalho social literalmente na rua: com uma motorhome, percorrendo escolas e comunidades para levar a mensagem da prevenção a todo tipo de violência que põe em risco a infância e adolescência.
Hoje, além de três vans que dão continuidade às ações itinerantes iniciadas com o antigo veículo pelo Brasil, o Projeto Vida conta com a chamada Escola Social. É o amplo espaço inteiramente coberto da Vila Nova Barigui que, há 15 anos, oferece cursos e oficinas no contraturno escolar.
São atividades que trazem esperança para quem não teria acesso a atividades atraentes e grátis como as oferecidas ali e, sem outras opções de lazer e aprendizagem, poderia ficar exposto a riscos de toda sorte.
Frutos da solidariedade
São mais de 20 modalidades de cursos e oficinas em áreas que atraem a meninada pela manhã e à tarde: capacitação profissional, inclusão digital, esporte e cultura. Tudo é mantido por 73 pessoas, entre profissionais contratados e voluntários para dar suporte aos inscritos e também um time fundamental de colaboradores: a equipe responsável pelas áreas contratos, parcerias e contabilidade.
Além da destinação do IR, ajudam a manter o trabalho social recursos vindos de emendas parlamentares, créditos do programa Nota Paraná, doações que chegam por meio da conta de luz e até o bazar de roupas montado com itens doados. Cada peça é vendida por valores simbólicos. Quem precisa e não tem como pagar, leva de graça.
Família Vida
A professora aposentada Maria Aparecida de Oliveira, aos 75 anos, faz de tudo um pouco e não quer saber de ficar em casa. Ela atua no reforço escolar e, nas horas vagas, ajuda a manter os materiais pedagógicos em ordem. “Gosto muito dessa família”, diz, referindo-se à comunidade que forma o Projeto Vida.
Também fazem parte dessa família Lorran Matheus Pinheiro Costa, ex-aluno de música e que atua na área esportiva, e Marcelo Alexandre, que entrou no projeto por causa do hip-hop e agora ensina aos mais jovens o que ele sobre essa cultura.
Além das aulas, quem participa ganha lanche e uniforme do Projeto Vida, cujas blusas são confeccionadas por alunas do curso de corte e costura oferecido pela entidade.
Adultos da comunidade também têm espaço em práticas como as aulas de música e alfabetização, e somam cerca de 50 pessoas atendidas.
O público beneficiado por todas as ações nesses quase 30 anos é estimado em meio milhão de pessoas. Esse número engloba, além de crianças e adolescentes, suas famílias e comunidades.
“Por ano, sensibilizamos até 35 mil pessoas e percorremos uns 50 mil quilômetros com as vans”, diz o diretor administrativo do projeto, Diego Alves da Silva, que também é educador musical.
Destinação em crescimento
O número de contribuintes que destinam para projetos sociais até 3% do IR a pagar está crescendo. Em Curitiba, em 2024, 8.323 pessoas ajudaram a financiar projetos aptos a captar recursos oriundos do tributo. Este ano, foram 10.118.
O crescimento também se reflete no potencial de arrecadação - o valor máximo a ser destinado. Enquanto em 2024 ele chegou a 4,03% dos R$ 299.216.809,00 que poderiam ser destinados a projetos sociais, em 2025 chegou a 5,28% dos até R$ 288.968.201,39. O potencial de arrecadação caiu em 2025 devido à revisão das faixas de contribuição aplicada pela Receita Federal.
Empatia em números
A arrecadação deste ano ficou em R$ 15.276.388,08 e foi maior do que a registrada no ano anterior, quando a destinação chegou em R$ 12.219.329,71. No segundo semestre, os recursos serão depositados nas contas dos Conselhos da Criança e Adolescente (R$ 11.167.000,00, correspondentes a 73% do total) e da Pessoa Idosa (R$ 4.445.000,00 ou 27% do total).
Um dos desafios da SMDH é sensibilizar os contribuintes para melhorar o percentual de destinações. A ideia, diz a titular da pasta, Amália Tortato, é atingir 10% do potencial de arrecadação até 2028.
Âncora
Passo a passo para fazer o bem
Veja como destinar o seu IR para projetos sociais, e acordo com a Receita Federal:
Para fazer a destinação diretamente na declaração do IR, siga estes passos:
- Preencha sua declaração normalmente no programa da Receita Federal;
- Acesse a aba “Doações Diretamente na Declaração”;
- Escolha entre Fundos da Criança e do Adolescente ou Fundos do Idoso e clique em “Novo”;
- Selecione o fundo municipal, estadual ou nacional de sua escolha;
- O sistema informará o valor máximo disponível para destinação. Confirme os dados;
- Gere o DARF correspondente e efetue o pagamento até o prazo final da declaração.
Caso tenha imposto a restituir, o valor da destinação será somado ao montante da sua restituição. Se houver imposto a pagar, o valor será abatido do saldo devedor, sem custo adicional para o contribuinte.