O projeto Equidade – uma das principais políticas da Prefeitura de Curitiba para a melhoria da qualidade da educação no município – foi apresentado nesta quinta-feira (10) a representantes de instituições de ensino, universidades, fundações, empresas e institutos interessados em se tornar parceiros da iniciativa. O encontro, que teve a presença do prefeito Gustavo Fruet, marca uma nova fase do projeto, voltado para 47 escolas municipais consideradas vulneráveis, por diferentes fatores. Os primeiros parceiros do Equidade também participaram da reunião.
Lançado em março, o projeto Equidade já cumpriu a etapa inicial, de preparação da escolas e apresentação às famílias. Agora, passa a agregar parceiros como a Faculdade de Educação Superior do Paraná (Fesp) e a Embaixada da Finlândia – que juntas apadrinham a Escola Municipal Omar Sabbag, no Cajuru – e também a Universidade de Cambridge e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
“É motivador contarmos com pessoas que, como nós, acreditam no poder transformador da educação e que o compreendem como um trabalho que não é tangível, que terá seus resultados a médio e a longo prazos, mas que é o mais importante fator para a garantia do desenvolvimento das pessoas e da cidade”, disse o prefeito Gustavo Fruet durante o encontro, realizado no Salão Brasil da Prefeitura.
Fruet explicou que o Equidade promove ações diferenciadas nas 47 escolas selecionadas para o projeto, nas quais estuda um total de 26 mil estudantes. O objetivo é diminuir as desigualdades que existem entre as unidades da rede e garantir a todos os alunos o efetivo direito à aprendizagem.
“Resolvemos enfrentar as resistências e nos aprofundamos em estudos e pesquisas para compreender por que em uma mesma rede temos escolas que estão entre as cinco melhores dos País e outras em que o rendimento dos estudantes não é satisfatório. E dessa forma, identificamos que algumas escolas precisam de mais apoio e, em alguns casos, de ações emergenciais para garantir a todos os estudantes o direito à aprendizagem”, disse Fruet.
Entre as ações previstas no projeto estão reforço escolar para estudantes, ampliação da formação continuada de professores, acompanhamento personalizado das escolas, articulação intersetorial e o maior envolvimento da comunidade, entre outras medidas. Para cada escola uma estratégia, adequada às especificidades da unidade.
Uma das importantes características do projeto destacadas pela secretária municipal da Educação, Roberlayne Borges Roballo, é articulação de ações que ultrapassam os limites das salas de aula e para as quais a participação dos parceiros é fundamental. “Este é um grupo que ousa pensar junto com a gente o futuro da nossa cidade”, disse Roberlayne. Segundo ela, o projeto rompe as barreiras das provas, do ranqueamento e da meritocracia. “Invertemos a lógica e adotamos uma nova forma de entender a rede de ensino a partir das vulnerabilidades e da compreensão de que equidade não é dar o mesmo a todos, mas oferecer àqueles que mais precisam as oportunidades para que alcancem o mesmo nível dos que já estão bem”, disse Roberlayne.
Parceiros
Os bons resultados já podem ser observados nas escolas e estão atraindo a atenção de parceiros que acreditam no projeto. Um dos primeiros a se unir à proposta foi a Embaixada da Finlândia, que junto com a Fesp apadrinha a Escola Municipal Omar Sabbag, no Cajuru. Por meio da Quiron, uma empresa social que trabalha pelo desenvolvimento da educação e do protagonismo, a Fesp fará com que, a partir de 2016, cada universitário da instituição seja tutor de um dos 150 estudantes do 9º ano da escola municipal. Os tutores vão agir a partir de uma metodologia de motivação e aumento da autoestima que foi desenvolvida pela Quiron.
Antes de iniciar a prática com os estudantes, a equipe da Quiron trabalha na formação dos professores que serão os articuladores destas ações. “É um privilégio ser parceiro da cidade neste projeto que provoca o desenvolvimento humano”, disse o cônsul da Finlândia e presidente da Fesp, Carlos Eduardo Guimarães. Unir-se à proposta foi uma decisão tomada assim que o presidente da instituição conheceu a metodologia e os objetivos do Equidade. “É um projeto concreto, que parte da observação e da pesquisa e que reúne ações transformadoras”, disse.
Contratados pela Fesp para desenvolver a metodologia para a escola municipal, os fundadores da Quiron se envolveram tanto ao projeto que deram início à criação do Comitê de Amigos do Projeto Equidade na Educação com o apoio da Assessoria de Relações Institucionais da Prefeitura de Curitiba. “O objetivo é divulgar as ações do projeto e buscarmos parceiros estratégicos que possam somar conhecimentos e recursos para juntos agirmos no projeto Equidade”, disse o CEO e cofundador da Quiron, Fernando Granato.
Durante o encontro, Granato apresentou aos futuros parceiros a experiência desenvolvida pela Quiron para que a Fesp apadrinhe uma das escolas do projeto. “Ainda restam 46 escolas e seria transformador para a cidade que outros parceiros integrassem e colaborassem para elevar Curitiba ao nível de excelência educacional”, disse.
Estímulo
A integração bem sucedida da Quiron com a Fesp no apadrinhamento do projeto motivou quem assistiu a apresentação da proposta. O representante da Universidade Positivo, Paulo Tomazinho, manifestou o interesse do grupo em participar do projeto. “Ficamos muito empolgados e vamos buscar uma forma de nos integrarmos ao excelente projeto”, disse Tomazinho.
A coordenadora pedagógica da Faculdades Opet, Cintia Cargnin Ribas participou do encontro com o objetivo de reforçar o interesse da instituição de ensino superior em se unir ao projeto. “Temos trabalhado na perspectiva de oferecermos formação continuada aos professores das escolas do Equidade e na oferta de serviços para as comunidades destas escolas a partir do envolvimento dos estudantes dos cursos ofertados pela Faculdade”, disse Cintia. Entre as ideias está a realização de oficinas com estudantes do curso de estética para trabalhar autoestima e a construção de uma nova identidade das comunidades e de oficinas de reaproveitamento de alimentos promovidas por estudantes do curso de gastronomia.
Defender a importância do projeto Equidade é muito fácil para Cintia, que acompanha muito de perto os bons resultados já obtidos. Ela divide-se entre a Faculdade Opet e a Escola Municipal Pilarzinho, onde trabalha no apoio pedagógico. A unidade é uma das integrantes do projeto. “Na nossa escola, uma das ações do Equidade busca o aumento da frequência dos estudantes e isso já começou a acontecer. Desde que reunimos as famílias, conscientizamos os pais e elaboramos estratégias para melhorar a frequência registramos 60% de redução nas faltas”, comemora Cintia.
A meta do Comitê Amigos do Projeto Equidade na Educação é conseguir desenvolver planos de ação, com a participação de parcerias nas escolas do Equidade. Os planos podem ser tanto para a formação de profissionais da educação das escolas, otimização da gestão da escola ou para a oferta de educação complementar para os alunos. Também podem ser desenvolvidas intervenções na estrutura das escolas.
O ponto de partida do projeto Equidade é o reconhecimento das diferenças entre as escolas, tanto no nível de aprendizagem dos alunos quanto no aspecto sociocultural do entorno, que tem forte influência no desenvolvimento educacional.
Média cluster
As 47 escolas foram escolhidas com base em uma média cluster, calculada por pesquisadores da Secretaria Municipal da Educação a partir do cruzamento de dados como o desempenho dos estudantes na Prova Brasil, do governo federal; o Índice de Desenvolvimento Básico da Educação (Ideb); a taxa de aprovação dos estudantes; a taxa de analfabetismo no entorno da comunidade escolar; o número de estudantes beneficiários do programa federal Bolsa Família, de beneficiários do Bolsa Família com baixa frequência e da renda média domiciliar per capita do entorno da comunidade escolar. Esse grupo de escolas reúne 26% dos estudantes da rede municipal.
Para chegar à média cluster a equipe trabalhou na leitura e interpretação de dados apresentados nas avaliações dos estudantes de forma articulada, buscando compreender as múltiplas variáveis que influenciam os resultados. Essas definições apontaram as assimetrias da desigualdade e a concentração das escolas com necessidade de intervenção emergencial. A maioria localiza-se em territórios de vulnerabilidade ou fragilidade social. Outras não, o que demostra a importância da avaliação aprofundada sobre cada realidade e a elaboração de planos de metas individualizados.
Em algumas escolas a proficiência dos estudantes em determinados componentes curriculares tem sido o foco do trabalho. Outras apresentam média maior nas avaliações, mas o analfabetismo ao entorno da escola traz implicações para o desenvolvimento dos estudantes, e por isso a inclui como alvo das ações.