Com gravadores e câmeras em mãos, cerca de dez crianças do Caximba decobriram um novo mundo: o do cinema documental. A experiência faz parte do projeto Janela Periférica, apoiado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) por meio do edital Aldir Blanc.
Durante uma das atividades, Ana Júlia de Andrade, de 9 anos, grava um vídeo com a ajuda de uma amiga e compartilha suas impressões sobre o bairro onde vive. Em frente à câmera, ela lança uma pergunta aos vizinhos de regional: “E aí na CIC? Como é? É legal também?”
A iniciativa une arte e educação, utilizando o cinema como ferramenta pedagógica para que as crianças contem suas próprias histórias e apresentem o universo em que vivem.
A criadora e coordenadora do projeto, Priscila Pacheco, se inspirou em sua própria trajetória para desenvolver a ideia. “Eu cresci em uma região periférica e me tornei mãe ainda na adolescência. Na época, tive contato com um projeto de cinema como esse, e foi determinante para minha carreira”, contou.
Atualmente jornalista com especialização em cinema, Priscila destaca a importância dos editais de fomento. “Com o financiamento, criamos iniciativas que movimentam a economia criativa e, além disso, trabalham com questões sociais, educação e saúde”, afirmou.
Pela cidade
O Janela Periférica está sendo desenvolvido em três regiões de Curitiba. Primeiro, no Pinheirinho, atuou com crianças do projeto Construindo Futuros, depois, no Caximba, com a Associação Biblioteca Amigos do Caximba e entre 10 e 12 deste mês, estará na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), no Centro de Integração Social Divina Misericórdia.
A pergunta de Ana Júlia para os colegas da CIC é uma das ações do projeto, que promove a troca entre os grupos por meio de vídeo-cartas, material que integrará o documentário final.
A presidente da Associação Biblioteca Amigos do Caximba, Edilaine Aparecida de Lima, conta que a iniciativa se encaixou perfeitamente nas atividades com as crianças. “A gente trabalha bastante a contação de histórias com eles, então isso reforça de maneira muito positiva. Mas, além da educação e da cultura, o projeto aproxima as crianças do mundo do cinema, que normalmente é de mais difícil acesso para elas”, destacou.
Ponto de vista
Anderson Júnior Marques Rosa de Souza Lima, de 11 anos, é uma das crianças atendidas pela associação que participou do projeto e conta que a experiência foi marcante. “Eu nunca tinha feito algo assim. Gostei muito de aprender a tirar fotos e a gravar”, disse.
As fotografias também encantaram Ana Júlia, que sonha em ser fotógrafa quando crescer. “Eu gostei que é a gente que tá fazendo, filmando, contando a nossa história. Eu me sinto eu mesma!”, afirmou.
A coordenadora Priscila explica que essa é justamente a proposta do projeto, que trabalha com o conceito de cartografias sociais, a criação de mapas afetivos feitos pelas próprias crianças, mostrando como veem o território onde vivem. “Esses mapas servem como roteiros para as gravações, destacando o que as crianças consideram mais importante. Além disso, o filme é gravado em primeira pessoa, para revelar o ponto de vista delas”, detalhou.
Com o fim das gravações, a equipe do projeto fará a edição e montagem do documentário, que será exibido em 12 de dezembro, na Cinemateca de Curitiba.