Diferentes públicos são impactados por projetos da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) que visam a prevenção do uso de drogas. Ao todo, quatro programas foram desenvolvidos em 2015 para envolver crianças, adolescentes, professores, profissionais da saúde e pessoas em situação de rua. Para este ano, a expectativa é de que mais seis novas iniciativas sejam colocadas em prática como forma de encarar as consequências provocadas pelo consumo de drogas como um problema de saúde pública e aliar medidas de prevenção com serviços de atendimento e recuperação de dependentes químicos.
O ano de 2015 foi marcado pela instalação do Departamento de Políticas sobre Drogas na SMS. “Olhar as ações de prevenção e os problemas relacionados ao uso de drogas pelo viés da saúde é um avanço. É preciso enxergar o usuário de drogas como um cidadão que precisa e tem direito a atendimento médico e acesso a outros serviços. Assim, fazemos parte do programa Curitiba Mais Humana”, afirma o diretor do departamento, Marcelo Kimati Dias. A equipe tem trabalhado em conjunto com o Departamento de Saúde Mental para que políticas públicas tenham olhares de diferentes ângulos.
Estima-se que Curitiba tenha hoje cerca de 150 mil usuários de álcool e drogas. Os dependentes químicos que aceitam o tratamento oferecido pela Prefeitura são atendidos pela rede de saúde e vinculados a uma rede de cuidados intersetoriais que engloba também projetos desenvolvidos pela Fundação de Ação Social (FAS) e por outras secretarias, como Esporte, Cultura, Trabalho, entre outras. O novo departamento da SMS promove ações baseadas no princípio de priorização de populações vulneráveis, na ampliação do acesso e na coordenação de ações intersetoriais.
Entre os programas desenvolvidos em 2015 estão o #TamoJunto, o ônibus Intervidas e o Centro Regional de Referência (CRR), além de ações assistenciais nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), nas unidades básicas de saúde e em hospitais conveniados. “Os usuários de drogas são encarados como uma população vulnerável. É preciso promover ações e políticas que tragam impacto na prevenção dos problemas decorrentes do uso de drogas e no atendimento e recuperação dessas pessoas”, afirma o secretário municipal da saúde, César Monte Serrat Titton.
Reconhecimento
Ao longo de 2015, o trabalho de Curitiba foi reconhecido pelo governo federal diante de dois projetos desenvolvidos pela SMS. A capital paranaense foi considerada um caso de sucesso, com resultados positivos e atuação intersetorial exemplar, na implantação do programa #TamoJunto, que estimula a prevenção do uso de drogas entre estudantes com idades entre 13 e 15 anos e familiares a partir de uma metodologia internacional adaptada para a realidade brasileira.
O trabalho é conduzido com os jovens ao longo de um semestre letivo, com 12 aulas, além de três oficinas com pais e responsáveis. Durante os encontros, os alunos têm a oportunidade de associar as mensagens sobre drogas ao dia a dia e debatê-las com os colegas, fortalecendo habilidades pessoais e sociais, como pensamento crítico e criativo, tomada de decisões, resolução de problemas, comunicação eficaz, assertividade, autoconhecimento, empatia, entre outros.
Para 2016, Curitiba também dará continuidade ao trabalho com o Jogo Elos, que tem a finalidade de abordar indiretamente o mesmo tema com meninos e meninas mais novos. Direcionado a crianças entre 6 e 10 anos, o Jogo Elos é um programa preventivo articulado pelo governo federal que tem o intuito de construir novos modos de convivência social a partir de uma proposta lúdica. Divididos em equipes, os estudantes são estimulados a seguir determinadas regras de convivência, combinadas previamente em conjunto com colegas e professor, que venham a impactar sobre comportamentos agressivos, hiperativos, tímidos e de isolamento. Esse tipo de atitude é considerado como fator de risco para possíveis problemas psicossociais, como o envolvimento com o álcool e drogas e a prática do bullying. A previsão é de que até o final de 2016, o projeto já esteja em andamento em oito escolas municipais.
Um estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid) mostrou que, em 2010, 60,5% dos estudantes brasileiros já tinham provado álcool e 25,5% já haviam provado algum tipo de entorpecente, como maconha, cocaína, crack, ecstasy, anfetaminas e solventes. Em Curitiba, estimava-se que, em 2013, 78,1% dos jovens entre 13 e 15 anos já tinham experimentado bebida alcoólica alguma vez na vida. Em relação a drogas ilícitas, um estudo de 2012 revelou que 14,4% dos estudantes curitibanos afirmaram que já tinham experimentado algum tipo.
Ao longo do ano passado, 1.503 alunos de 11 instituições de ensino, 234 familiares e 64 servidores municipais foram impactados pelos dois programas.
Intervidas
Outro projeto de Curitiba reconhecido nacionalmente em 2015 foi o ônibus Intervidas, que esteve entre os 10 projetos de todas as regiões do país selecionados para serem visitados pela equipe do Ministério da Justiça como exemplos de políticas públicas voltadas ao atendimento de usuários de drogas e álcool. De abril a dezembro deste ano, foram 1.251 atendimentos e 485 participações em atividades conduzidas por uma equipe multidisciplinar.
O ônibus Intervidas visa o atendimento de usuários de drogas e álcool em locais públicos. Nas noites de quinta-feira, o grupo formado por oito profissionais trabalha com a população de rua das 18h30 às 21h30, na Praça Osório. Nesse intervalo, dependentes químicos que costumam frequentar o local para consumir bebidas e entorpecentes são convidados a participar de atividades que envolvem música, esporte, leitura e artes circenses, objetivando a ressocialização, a reinserção e o vínculo.
Ao criar vínculo com essas pessoas, os profissionais da saúde passam a orientá-las sobre redução de danos e sensibilizá-las para que sejam encaminhados a outros equipamentos da prefeitura, como abrigos, Caps, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), reforçando um trabalho intersetorial entre várias secretarias. A Praça Osório foi o primeiro espaço a receber o programa, que deve ser ampliado para outras localidades da região central em 2016.
Avanço
Um outro avanço de 2015 a ser destacado no âmbito das políticas sobre drogas foi a implantação do Centro Regional de Referência (CRR) para formação em Políticas sobre Drogas, uma parceria com a Universidade Federal do Paraná com a finalidade de formar servidores municipais sobre o assunto. Em 2015, 100 profissionais já estão sendo capacitados no curso Políticas sobre Drogas e Saúde Mental. Para 2016, a expectativa é que sejam ofertadas novas formações voltadas a 300 funcionários das áreas de urgência e emergência, populações vulneráveis, entre outras.