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Professora se reinventa e, contando histórias, conquista alunos de uma escola inteira

A professora Selma Rosana Buzeti, contando histórias para os alunos da Escola Municipal Dom Manuel da Silveira D´Elboux. Curitiba, 28/11/2022. Foto: Ricardo Marajó/SMCS

A biblioteca da Escola Municipal Dom Manuel da Silveira D´Elboux tem sido espaço de muitas transformações. Desde 2019, a sala é palco de dezenas de personagens, aventuras, surpresas, segredos escondidos, alegria e medo, por trás de inúmeras histórias para crianças pequenas e grandes que frequentam a unidade do bairro Hugo Lange.

O encantamento começa na porta com mensagens que instigam jovens leitores ávidos por uma boa história. As crianças querem saber: que história será contada hoje? Caracterizada com adereços simples ou nenhum, sempre imbuída do espírito que cada personagem requer, a experiente professora Selma Rosana Buzeti, 53 anos, fisga as crianças com seu olhar e sua voz. Juntos, professora e estudantes mergulham num mundo de onde ninguém quer sair.

Servidora municipal desde 2009, ela deixou 25 anos de sala de aula para ser agente de leitura na biblioteca da escola em 2019, por razões de saúde.

 

“Nessa transição, meu maior medo era perder o contato com as crianças. Eu preciso estar com crianças. Eu amo minha profissão e tenho orgulho de ser professora”, afirma Selma.

 

 

Criada em um meio de contação de histórias quando criança, influenciada pela mãe, profissional da área, na escolha da profissão, e leitora de carteirinha, Selma recebeu do pai a inspiração que faltava. “Se você ama ser professora, seja uma professora de biblioteca”, disse o pai num dos momentos difíceis para a servidora. “Ele me fez parar para pensar nisso e acabei descobrindo que havia um encanto guardado”, revela.

Como se transformar

Professora desde os 29 anos, Selma tratou de aprender a fazer o que gostaria na biblioteca, fez cursos de contação, ouviu muitas histórias e desenvolveu seu próprio método. Mesmo na pandemia, a transformação continuou. Além de indicar livros adequados a cada faixa etária para que as crianças pudessem ler em casa por meio de arquivos PDF autorizados, ela contava histórias quando as aulas eram remotas. 

As histórias escolhidas para a contação são criteriosamente catalogadas, conforme o título, a faixa etária indicada, os recursos necessários. “Se eu não estiver aqui, outra professora pode utilizar como guia e pode contar a história”, diz a generosa professora. No livro onde ela guarda as informações de 2022, há mais de 50 histórias registradas.

O resultado é que as crianças ingressam na biblioteca curiosas para saber o que vai acontecer. “Eles gostam de vir aqui e embarcam comigo”, afirma ela que se diz tímida. Antes desse encontro, Selma identifica a história, prepara o que for necessário, memoriza o texto, ou grande parte dele (se for uma história mais longa). “Contar histórias tem me ajudado muito. E sei que tem sido importante para eles também. Ouço relatos dos pais”, comenta.

Uma criança do terceiro ano já iniciou seu próprio livro, outra se inscreveu na programação da rádio da Escola Dom Manuel para contar a história que ouviu da professora. Selma conta que recebe ligações de alunos que passam no vestibular e agradecem a influência. “Quem sabe um dia eu vá escrever a minha própria história, contando minha trajetória no magistério”, diz ela.

A professora reconhece que o desafio aumenta com as crianças maiores, do 5º ano, que costumam receber muita informação, utilizam bastante o digital e têm mais dificuldade de acessar o mundo da imaginação numa contação de história. “Para eles, trago obras com elementos mais atuais, parto para gêneros que eles gostam muito, como o suspense e o terror”.

Independentemente do ano que as crianças estão, os assuntos das histórias podem ser escolhidos também a partir da necessidade de abordar temas percebidos pelos professores, como violência, bullying, discriminação.

Dicas da especialista

Para quem quer se aventurar no mundo da contação, Selma dá algumas sugestões. A primeira delas é que não existe uma receita para contar histórias. Existem várias técnicas e quem vai contar – pais ou professores – pode escolher a melhor para si.

A segunda é “não deixe de ser você, quando contar uma história”. A terceira tem a ver com encantamento. “Para encantar alguém, você tem que se encantar primeiro. Quando eu conto histórias, esqueço do mundo lá fora”, diz Selma.

Ela observa ainda que crianças gostam muito de histórias inventadas. Fatos reais podem se transformar em boas histórias. As crianças podem continuar histórias previamente iniciadas.

O apoio da direção, diz ela, é o que torna possível que todas as suas ideias sejam colocadas em prática. “O trabalho do professor não acontece sozinho. A gente precisa de apoio para que as coisas aconteçam”, conclui.

A biblioteca da Escola Dom Manuel faz parte da rede formada pelas 195 bibliotecas da Rede Municipal de Bibliotecas Escolares de Curitiba, entre escolares, temáticas, especializada e Faróis do Saber.