Trompete de boca e violão acompanhados de beatbox e loop. Os equipamentos eletrônicos usados no inusitado encontro da cantora e atriz Raissa Fayet e do produtor e músico Rafael Bley (Didones), no Palco do Teatro do Paiol, na sexta-feira (18/1), sintetizaram as transformações que a tecnologia está promovendo na música. A palinha dos dois talentosos artistas ocorreu na edição de janeiro do Paiol Digital – Especial Oficina de Música de Curitiba e arrancou muitos aplausos do público, que prestigiou o evento para entender como os recursos tecnológicos estão ajudando a criar, através da música, novas manifestações culturais, estéticas e sociais.
Promovido pelo Vale do Pinhão, o movimento da Prefeitura e do ecossistema para incentivar ainda mais o ambiente da inovação de Curitiba, o evento de janeiro, no Teatro do Paiol, foi aberto pela presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro. “A Oficina de Música não poderia deixar de discutir a importância da tecnologia na produção dos nossos músicos e só o Paiol Digital poderia ser o fórum deste tipo de debate”, afirmou ela, ao lado da presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, Cris Alessi, responsável pela organização do evento que, mensalmente, reúne nomes que fogem do lugar comum quando o assunto é inovação e empreendedorismo criativo.
Palestras
Além de Raissa Fayet e Rafael Bley (Didones), que abriram o Paiol Digital com a “jam-session” (apresentação de improviso), os produtores musicais Ramiro Pissetti e James Feeler fizeram palestras e dividiram com o público suas impressões sobre a atual cadeia produtiva da música, permeada pela tecnologia, além de discutirem sobre os novos modelos de consumo e caminhos para a criação. “Cada artista vai ter que entender quem ele é, o que ele quer fazer e como vai fazer. Cada um vai ter que inventar a sua história. Não existe mais aquele caminho que todo mundo vai fazer igual. A tecnologia só ajuda e concretiza”, salientou Feeler, que é fundador da produtora musical Jamute, com 44 Leões do Festival de Cannes.
Músico e produtor com formação em Music Business na Universidade da Califórnia (Ucla) e em Engenharia de Som na Escuela Audiovisual Internacional (Sae Barcelona), Didones acredita que a tecnologia democratizou a maneira como fazer música e descreveu as mudanças ocorridas na cena musical por conta da evolução tecnológica. “A gente tinha muito bem definido o que era mainstream (dominante) e o que era underground – que era tudo aquilo que não entrava na gravadora e a produção era muito difícil. Com a tecnologia isso dá uma misturada, pois os novos recursos ajudam a gravar, a distribuir e fazer o marketing também”, resumiu ele.
Uma das grandes revelações da nova MPB, Raissa Fayet fez a palestra sobre o tema “Música como tecnologia social e ambiental”. A cantora contou como ela e outros 40 artistas conseguiram produzir em tempo recorde (e viralizar na internet e redes sociais) um videoclipe para protestar contra a tentativa de reduzir a Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, uma unidade de conservação na região de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, que poderia perder quase 70% de sua área por causa de um Projeto de Lei.
“Queríamos que as pessoas se importassem com o que é essencial, como nossa água, nosso ar e nosso alimento. A arte tem esse poder de levar essa mensagem para as pessoas”, lembrou Raissa, que também criou recentemente a música de um videoclipe para protestar contra um projeto industrial em frente à Ilha do Mel, no litoral do estado. “As letras falam do meio ambiente e dos interesses. São vários os lugares que precisam de atenção, não só a Escarpa Devoniana e a Ilha do Mel”, alertou a artista. No fim do ano passado, a Assembleia Legislativa do Paraná arquivou a proposta de redução da APA da Escarpa Devoniana.
Ramiro Pissetti também participou do Paiol Digital de janeiro falando da projeções audiovisuais em espetáculos musicais e sobre festivais internacionais de arte & tecnologia.
A edição especial do Paiol Digital ainda teve a presença de André Midani, produtor musical e ex-presidente da Warner para a América Latina nos anos 1990, uma das mais importantes figuras da indústria do disco no país. Os nomes que descobriu explicam essa fama: de Elis Regina, a Chico Buarque, de Gilberto Gil a Ney Matogrosso, passando por Paulinho da Viola e Belchior. Midani contará sua trajetória nesta sábado (19/1), 16h, na Capela Santa Maria, no Centro.
O Paiol Digital – Especial Oficina de Música de Curitiba foi acompanhado ainda pelo diretor jurídico da Agência Curitiba, Frederico Lacerda; pelo diretor Administrativo e Financeiro da Fundação Cultural, Cristiano Morrissy; e pelo presidente do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (ICAC), Marino Galvão Jr.