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Referência musical

O legado que ecoa: a musicista Henriqueta Garcez completaria 100 anos em novembro

O legado que ecoa, Dona Henriqueta Garcez completaria 100 anos em novembro. - Na imagem, o afinador de pianos, Donzete Bonifácio. Foto: Divulgação

Curitiba comemora, em novembro, o centenário de nascimento de uma das figuras mais influentes da formação musical do Paraná: Henriqueta Monteiro Garcez Duarte. Pianista, educadora, gestora cultural e referência nacional, ela foi decisiva para a criação do Instituto Pró-Música de Curitiba e dos Cursos e Festivais Internacionais de Música, embrião da atual Oficina de Música de Curitiba, evento que transformou a capital em um dos principais polos de formação e difusão musical do país. 

A musicista, que faleceu em 2020, aos 95 anos, deixou seu legado vivo por meio do acervo preservado no Conservatório de Música Popular Brasileira e pelo piano que pertenceu à artista, hoje instalado no salão principal do Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura, onde continua sendo utilizado em cerimônias oficiais.

“Henriqueta deixou um legado que ultrapassa sua própria geração, tanto pela excelência artística quanto pelo papel visionário na estruturação institucional da música em Curitiba. Sua memória está guardada não apenas em documentos e partituras, mas também no som real de seu piano, que segue ativo em um espaço público”, afirma Janete Andrade, coordenadora de Música do Instituto Curitiba de Arte e Cultura.

Da infância no interior ao circuito internacional

Nascida em 1925, em União da Vitória, na região sul do Paraná, Henriqueta iniciou os estudos de piano ainda na infância, orientada pela avó materna. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro (RJ), onde foi aluna da famosa Magdalena Tagliaferro. Seguiu sua formação no Conservatório de Madrid, na Espanha, e na Academia de Música de Viena, na Áustria, aprofundando-se na tradição europeia que marcaria seu estilo. 

Sua carreira ganhou projeção internacional, com apresentações ao lado de grupos de prestígio, como o Quarteto de Cordas Mozarteum de Salzburg, o Quarteto Lindsay e o Quinteto de Sopros de Munique. Como solista, tocou sob a regência de Souza Lima, Isaac Karabtchevski e Roberto Schnorrenberg, circulando por salas da Europa, Estados Unidos e diversas cidades brasileiras, uma trajetória rara entre músicos brasileiros de sua geração.

Durante esse período de estudos no exterior, Henriqueta buscava constantemente atualizar o conhecimento musical da cidade. Ao retornar a Curitiba, visitava a antiga fábrica de pianos Essenfelder e compartilhava com os técnicos tudo o que havia aprendido. 

O luthier Donizete Bonifácio, técnico de pianos há mais de 40 anos, recorda que “ela chegava trazendo o que havia de mais moderno no estudo do piano e compartilhava tudo com o pessoal da Essenfelder. Acompanhava os instrumentos de perto e tinha um ouvido impressionante para avaliar cada piano. Era realmente uma mulher muito à frente do seu tempo”.

Semente da Oficina de Música

Ao lado do marido, o engenheiro Eduardo Garcez Duarte, Henriqueta fundou, em 1963, o Instituto Pró-Música de Curitiba, marco na estruturação da área cultural da cidade.

Em dezembro de 1964, participou da criação dos Cursos e Festivais Internacionais de Música do Paraná, que reuniam professores estrangeiros, artistas renomados e jovens músicos brasileiros. Esses festivais se tornariam, anos depois, a base da Oficina de Música de Curitiba, que em 2026 chega à sua 43ª edição consolidada como uma das mais importantes do país.

Entre 1974 e 1978, Henriqueta dirigiu a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Em 1997, recebeu o título de Cidadã Benemérita de União da Vitória, e em 2017 foi homenageada como Membro Honorário da Academia Paranaense de Letras.

A influência de Henriqueta também segue viva no ensino. O estudante de piano Jessé Souza, aluno de uma das discípulas diretas da pianista, Carmen Célia Fregoneze, destaca essa continuidade geracional. Para ele, “estudar com alguém que aprendeu com Dona Henriqueta é fazer parte de uma grande árvore genealógica do piano. Muito da técnica, da interpretação e da maneira de pensar a música dela continua chegando até nós”. Ele acrescenta que perceber essa linhagem “é emocionante, como se ela ainda orientasse, de alguma forma, o nosso jeito de tocar”.

Acervo preservado e piano a serviço da cidade

A família de Henriqueta doou ainda ao município seu acervo de partituras, fotografias, documentos pessoais e registros históricos, hoje preservados no Conservatório de MPB. O material está em processo de catalogação e pode ser consultado gratuitamente por pesquisadores, estudantes e músicos, mediante agendamento pelo e-mail: conservatoriodempb@icac.org.br.