Foi cheia emoção a cerimônia de formatura de duas turmas de mulheres, moradoras do bairro da Caximba, que aconteceu na noite desta sexta-feira (20) no Instituto Federal do Paraná- IFPR. Essas 17 mulheres concluíram a formação inicial e continuada em massagista pelo programa Mulheres Mil do governo federal, em parceria com a Prefeitura de Curitiba, por meio da Secretaria da Mulher e da Fundação de Ação Social (FAS).
Foram 300 horas de aulas ministradas pelos professores do IFPR no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) Caximba, com o objetivo de dar acesso ao ensino técnico, ampliar horizontes à profissionalização e geração de renda, mas também para incentivar a continuidade dos estudos e a elevação da escolaridade entre mulheres jovens e adultas. Elas escolheram o curso que queriam estudar e a parceria entre o governo federal e a Prefeitura ofereceu as condições, incluindo o espaço na comunidade para as aulas acontecerem e uma ajuda de custo no valor de R$ 750.
Para a secretária da Mulher de Curitiba, Roseli Isidoro, a superação dos obstáculos cotidianos e a determinação das estudantes garante o sucesso de iniciativas como a do Mulheres Mil. “Ao olhar para o semblante de cada uma das formandas, das mais jovens àquelas com mais experiências, a gente imagina o que elas tiveram de enfrentar, de superar para estarem aqui hoje”, disse.
Ao todo, o Mulheres Mil em Curitiba, que é desenvolvido no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronetc), formou desde o ano passado sete turmas, a partir da parceria do Instituto Federal com a Secretaria da Mulher da Prefeitura e a FAS: cinco turmas de massagistas, uma de recepcionista e uma de operadora de computador. A Prefeitura de Curitiba solicitou ao MEC a liberação de mais 600 vagas em 2015 para serem distribuídas em todas as regionais da cidade.
O pró-reitor de Extensão, Pesquisa e Inovação do IFPR, Ezequiel Burkarter, que presidiu a cerimônia de formatura, disse que a intenção do Ministério da Educação (MEC) é de reforçar esses programas e parcerias. “Nós chamamos de itinerário formativo. Assim como o itinerário de um ônibus, são várias as estações na formação dessa mulher da Caximba que tem como porta de entrada no IFPR a formação inicial do Mulheres Mil. Durante o contato dela com a instituição, queremos estimular a continuação dos estudos em outras modalidades, em outros cursos técnicos avançados na massoterapia e assim por diante”, disse. “Já tivemos maquiadoras, que se desafiaram a continuar na formação técnica de Química e foram buscar a graduação em Química na faculdade. É preciso tirar do processo de inércia e a capilaridade da Prefeitura nas comunidades, faz com que o Instituto Federal chegue até o CRAS Caximba para ministrar as aulas e mostrar para a aluna de lá que toda a estrutura, a biblioteca, os demais espaços e o que tivermos nas demais unidades do IFPR ela também tem o direito de usar”, finalizou o Pró-Reitor.
Histórias de vida
Os professores Mônica da Silva Machado e André Alves Timbó se emocionam de lembrar as histórias de superação das alunas e os desafios e obstáculos vencidos ao longo do curso, mas comemoram presenciar a cada formatura a transformação na vida das pessoas. ”Conheci mulheres mil, realmente guerreiras e trabalhadoras. O atrativo inicial para elas voltarem a estudar ou virem fazer o curso foi ter uma ocupação, foi a perspectiva da renda extra, mas acabaram gostando, projetando seu dia a dia com essa nova formação e querendo continuar os estudos. Isso realiza a gente”, conta Mônica. A professora lembra que alunas superaram todo tipo de dificuldade para continuar. De problemas ou doença de filho, de marido, a dores e deficiência visual, causadas pelo avanço do diabetes, e até baixa autoestima. “Diante de sentenças pessimistas, de alguém que não conseguiria aprender, que seria menos inteligente que as demais, reforçamos conhecimentos em anatomia e outros conteúdos teóricos que desmontavam a tese da desigualdade e enfatizamos que todas poderiam aprender se quisessem”, comentou.
Sabendo disso, é fácil compreender porque a pergunta “foi fácil para vocês estarem aqui hoje?”, feita pela oradora da turma, Cleonice de Souza Sodré, arrancou aplausos e lágrimas das formandas e de seus familiares. Cirlei de Oliveira é uma das alunas que já decidiu abraçar a nova atividade profissional. Entre parentes e amigos, ela vem criando clientela. Durante muitos anos, trabalhou com estética, limpeza de pele e foi revendedora de cosméticos. Agora quer juntar um pouco de dinheiro, investir nos materiais necessários e se formalizar na massoterapia. “No futuro, vou fazer o cartão de visita com o meu nome, tirar alvará e começar a atender. Não fico mais sem esse trabalho”, disse Cirlei.
Lauriani de Mattos Kelczeski é mãe de um casal de adolescentes. Costureira, se desafiou à formação inicial em massagista para dar o exemplo aos filhos e também já pensa em avançar na profissão de massoterapeuta, em clínica particular. “Sempre cobrei dos meus filhos que corressem atrás de conhecimento e não perdessem as oportunidades. Quando me vi diante do Mulheres Mil, tive a oportunidade de servir de exemplo daquilo que sempre ensinei a eles. Isso é bom para a relação da gente”, afirma Lauriani. Por orientação da mãe, a filha mais velha de Lauriani fez curso pelo Pronatec, estagiou no Banco do Brasil, se prepara para um concurso público e hoje faz faculdade de administração de empresas.
Érica Fernanda Santos de Oliveira, de 23 anos, é uma das alunas mais jovens a se formarem na turma do CRAS Caximba. Ela é mãe de duas crianças e enfrentou dificuldades para frequentar as aulas, mas continuou e já atua profissionalmente. Érica está se especializando em prática laboral e reflexologia podal e cursa aperfeiçoamento no próprio Instituto Federal do Paraná. “Pensei em desistir. Os professores me estimularam, perceberam que sempre tive vontade de atuar na profissão e não me deixaram parar. Continuei e agora só vou para a frente. Abriu uma nova perspectiva na minha vida”, conta.