Curitiba voltou a ganhar os holofotes internacionais como referência em inovação e sustentabilidade no turismo. A capital paranaense foi apresentada como case de sucesso durante a Semana do Turismo da Universidade de Ciências Aplicadas, em Lima, no Peru. O Ministério do Turismo do Brasil foi convidado a compartilhar sua experiência com o modelo de transformação de destinos e a coordenadora-geral de Inovação, Inteligência e Estatísticas do Turismo, Bárbara Blaudt Rangel, destacou o protagonismo curitibano na implementação da metodologia de Destinos Turísticos Inteligentes (DTI).
Na ocasião, Bárbara apresentou as práticas adotadas por Curitiba nas áreas de gastronomia, hotelaria, sustentabilidade e governança participativa, reforçando o papel da cidade como referência para outros municípios brasileiros e latino-americanos. O modelo de DTI busca integrar inovação, tecnologia, acessibilidade e sustentabilidade na gestão do turismo, promovendo experiências mais completas e eficientes tanto para moradores quanto para visitantes.
“Curitiba mostra que a inteligência turística vai além da tecnologia: está na forma como as pessoas se organizam, cooperam e transformam o território. A cidade inspira outros destinos e comprova que a inovação pode ser, acima de tudo, uma política pública de impacto coletivo”, afirmou Bárbara Blaudt Rangel.
Atualmente, 28 municípios brasileiros já trabalham a transformação inteligente de seus territórios, e 21 deles aplicam oficialmente a metodologia DTI. Entre eles, Curitiba se destaca por sua governança sólida, gestão colaborativa e resultados expressivos em curto prazo, consolidando-se como um dos principais exemplos nacionais.
A seguir, Bárbara Blaudt Rangel detalha, em entrevista, a visão do Ministério do Turismo sobre o papel de Curitiba e os desafios do Brasil na consolidação dos Destinos Turísticos Inteligentes.
O Ministério do Turismo tem destacado Curitiba como referência em turismo inteligente. O que faz da cidade um exemplo nacional nessa área?
A forma como Curitiba vem executando o projeto é diferenciada, com uma verdadeira governança, tocada por meio do Ecossistema DTI. Isso fez com que a cidade conseguisse executar mais ações e em tempos mais rápidos do que outros destinos, que tinham inclusive começado com pontuação mais alta do que a de Curitiba. Além disso, nota-se que o projeto não está sendo executado por apenas uma pessoa da equipe, mas dividido entre vários atores, o que também ajuda na sua manutenção quando há trocas de gestão.
Quais ações ou projetos de Curitiba mais chamam a atenção do Ministério pela inovação e sustentabilidade no turismo?
É até difícil pensar nas melhores ações ou nos melhores projetos, já que muitos se destacam, a começar pelo planejamento estratégico e a gestão transparente e inclusiva. Mas posso citar também: o Portal do Turismo Inteligente de Curitiba, que é bem completo e bem estruturado; a preocupação com o cumprimento dos requisitos de acessibilidade em todos os atrativos turísticos; os CATS e as unidades móveis de promoção e informação turística; a promoção e o apoio à comercialização dado a produtores locais, com produtos disponibilizados nas lojas “Curitiba Sua Linda”; e a cobertura wi-fi, que funciona inclusive para estrangeiros.
Curitiba está entre os 28 municípios que aplicam a metodologia de Destinos Turísticos Inteligentes. Como o MTur avalia o nível de maturidade da cidade nesse processo?
Acho que essa é a questão mais difícil de responder, já que depende muito de um conhecimento específico e amplo de cada destino que está aplicando o modelo metodológico brasileiro, para depois poder se fazer uma comparação entre todos. E talvez esse esteja sendo a principal falta do Ministério nesse momento, que é a incapacidade atual de poder fazer comparações entre o grau de cumprimento de ações, e consequentemente, de maturidade de cada destino. Mas olhando de longe, sou capaz de afirmar que Curitiba possui um dos maiores níveis de maturidade no processo. Em uma questão em específico, sei que ainda não é possível afirmar que a população inteira da cidade conhece o projeto e se sente inserido nele, mas essa é, de fato, a parte mais difícil, e sei que Curitiba tem feito o seu dever de casa no que se refere à participação cidadã.
Qual será o papel de Curitiba dentro da Rede DTI e como essa rede pode fortalecer ainda mais o turismo local?
Eu vejo Curitiba como uma cidade farol, que guia os outros destinos em direção a um caminho mais correto e mais eficiente. E o legal é que isso beneficia um movimento contrário, ou seja, favorece a própria cidade de Curitiba, já que por ser um caso de sucesso, passa a atrair mais visitantes, nesse caso em específico gestores e empreendedores de outros municípios que compõem a Rede, que querem visitar a cidade para ver in loco as melhores práticas que foram aplicadas ali.
Quais são os principais desafios e oportunidades que o Ministério enxerga para Curitiba e para os demais destinos turísticos inteligentes do Brasil?
A continuidade das ações nas mudanças de governo e a priorização de iniciativas relativas ao projeto são sempre os maiores desafios, seguidos da capacidade de se estabelecer uma boa governança, coisa que Curitiba já conseguiu, e de se obter recursos para a melhoria das ações pretendidas. Já no que se refere às oportunidades, o fato de que o tema deixa de ser novidade para ser algo que é falado, debatido, estudado, seja em órgãos públicos, em eventos e até na Academia, isso é nossa maior oportunidade. Quanto mais as pessoas conhecem e percebem as vantagens da aplicação desse modelo de gestão, mais fácil é implantar as suas ações, sem precisar haver tanto esforço para o convencimento de suas vantagens.