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História

Memórias dos pioneiros da Rodoferroviária

A Estação Rodoferroviária de Curitiba completa 40 anos de funcionamento nesta terça-feira (13). -Na imagem, Aryon e Maria José, do restaurante Carretão na Rodoferroviária. Curitiba, 07/11/2012 Foto: Brunno Covello/SMCS

Aos 81 anos, Aryon de Lara lembra perfeitamente do dia 27 de outubro de 1972, quando a Estação Rodoferroviária de Curitiba começou a funcionar informalmente, uma vez que a inauguração oficial foi dia 13 de novembro. Lara, então funcionário lotado na área administrativa da Rede Ferroviária Federal S/A, onde permaneceu de 1951 a 1981, aceitou convite do então político e empresário Sinval Martins para trabalhar como funcionário no Restaurante Carreta (hoje Parada Lanches) e participar como sócio do também recém-instalado Restaurante Carretão, ambos na Rodoferroviária.

Por volta de 1961, Aryon de Lara, então recém-casado, dividia seu tempo entre as funções na RFFSA - onde chegou a fazer parte da Comissão de Inquérito Administrativo, obrigando-o a frequentes viagens pelo país -, e o setor de expedição do jornal Diário Popular, que deixou de circular por volta de 2008, e era dirigido pelo falecido jornalista Abdo Aref Kudri.

Sinval Martins, por sua vez, além da política, ficou conhecido pela rede de casas especializadas em carnes nobres, iniciada pelo extinto Restaurante Carreteiro, que ficava na avenida Silva Jardim, e rapidamente se transformou em ponto de encontro de políticos, jornalistas e intelectuais que saboreavam o espeto corrido, assistindo os então inovadores shows musicais ao vivo, por conta de artistas como Eliana Pittmann, Cláudia Barroso, a dobradinha sertaneja Tonico & Tinoco, Mariano Galhardo (irmão do não menos famoso Carlos Galhardo), Altemar Dutra e, inclusive, Maysa Mattarazzo.

“Era o tempo em que Martins expandiu seus negócios, quando participou da licitação então feita na nova rodoviária, ali instalando dois novos pontos similares à casa-matriz, especializados em carnes e boa música”, lembra Lara. “O churrasqueiro da casa, famoso pelos temperos que usava no preparo dos pratos, era João Dalazen, gaúcho de origem, e que Martins “importou” de Clevelândia, município paranaense em que foi prefeito”, continua Lara.

O mesmo Lara não imaginava que o Carretão empregaria o filho desse especialista em carnes, João Oreste Dalazen, ainda jovem, colocando-o no caixa do estabelecimento. Ewra a época em que a casa ganhou projeção por conta do espeto corrido, da alcatra na chapa e o arroz à carreteiro, que deverá voltar ao cardápio quando o estabelecimento ganhar novo espaço no terminal rodoviário.

Mal sabia Lara, proprietário do Carretão desde o início dos anos 1980 – época que coincide com o trágico assassinato de Sinval Martins -,  que João Oreste Dalazen, gaúcho de Getúlio  Vargas, onde nasceu em 12 de janeiro de 1953, se tornaria o atual presidente do Tribunal Superior do Trabalho desde 2 de março de 2011. “A carreira do jovem Dalazen foi meteórica, e foi com o fruto do trabalho na casa que custeou seus estudos, graduando-se em Direito pela Universidade Federal do Paraná, decolando para voos cada vez mais altos, chegando a ministro do TST a partir de 1996”, orgulha-se Aryon de Lara.

A administradora do restaurante, Maria José Soares de Lara, conta que Aryon, nascido na avenida Silva Jardim, 15, em Curitiba, em 1931, passou a infância brincando no banhado onde hoje se encontra o repuxo, na parte frontal dos jardins da Rodoferroviária, e onde derrubava os coquinhos de palmeiras ali então existentes com ajuda de um estilingue. Em 2002, conta ainda, o Carretão ganhou um prêmio internacional de uma indústria de refrigerantes, por ocasião da Copa do Mundo, por causa da decoração da casa, que imitava um imenso campo de futebol.

Quarenta anos depois de receber nomes famosos do mundo político, da área de shows, além de curitibanos ilustres e, obviamente, passageiros em trânsito por Curitiba no terminal rodoviário, o restaurante dirigido por Aryon de Lara, que ocupará novo espaço após o término dos trabalhos de revitalização da Rodoferroviária, a partir de setembro de 2013, continua ofertando os já tradicionais pratos de resistência conhecidos: a alcatra para duas pessoas, conhecida como alcatrão”, servida sempre às quartas-feiras acompanhada de salada de tomate, cebola e farofa com bacon, e o não menos tradicional filé duplo.

Lembranças de estrada – O atual agente de viagens Antônio Xavier da Silva é outro pioneiro da Rodoferroviária de Curitiba. “Nesses 40 anos, o que mais impressiona é a evolução tecnológica no campo dos transportes”, conta quem convive com o setor desde 1969, quando, aos 15 anos, se empregou como cobrador na hoje extinta Viação Dovaltur, então dirigida pelo empresário Dorival Piccoli, irmão do também falecido empresário Saul Piccoli, que à época dirigia a Empresa de Ônibus Nossa Senhora da Penha.

“Aos 15 anos consegui o emprego graças ao padrasto, que já trabalhava na empresa, e passei a fazer as linhas Curitiba-Guaraqueçaba ou Curitiba-Antonina, então compartilhadas pela Dovaltur e a Empresa Sulamericana de Transporte em Ônibus, hoje exploradas pela Viação Graciosa”, conta Xavier. Em 1972, quando a nova rodoviária começou a funcionar, viu sair o primeiro ônibus do Expresso Centauro, de Curitiba para São Paulo. Pouco depois, a empresa foi incorporada pela Penha, que então fazia o mesmo trajeto.

Xavier, na verdade, se transfere ao novo terminal enquanto funcionário da então existente Estar Turismo, onde fica até 1973, como agente de viagem, quando ocupa a mesma função, durante os três anos seguintes, no Expresso Princesa dos Campos. A partir de 1976, trabalha na Penha. “Foi um tempo dificílimo, quando o Brasil conviveu com a inflação altíssima, praticamente incontrolável e diária, mas permaneci na empresa até 1984”, diz.

Por volta de 1985 ingressou na Pluma – Conforto e Turismo, então dirigida pela família Galiotto, do Rio Grande do Sul. A empresa, hoje, após sucessivas mudanças de diretoria, é de propriedade de um grupo empresarial de Minas Gerais. Em 2001, finalmente, Xavier se aposenta, mas não parou de trabalhar. De 2001 a 2005, morando em Ponta Grossa, prestou serviços terceirizados à própria Pluma e ao Nacional Expresso.

“O Nacional Expresso começou a servir Curitiba – de onde partem regularmente os ônibus para Goiânia – graças ao antigo administrador da Rodoferroviária, Jair José de Carvalho, que conseguiu instalar um guichê para atender os passageiros dessa linha, bem como a do Real Expresso, que também mantém linha regular entre Curitiba e Brasília, concorrndo com a Viação Itapemirim.

“Quem viaja para Goiás, precisa de 22 horas para vencer a distância que passa pelas cidades de São José do Rio Preto, Itumbiara, Uberlândia, Araguari, Caldas Novas e Goiânia”, ensina Xavier, lembrando que, em Curitiba, os ônibus das duas empresas que representa compartilham espaço com outras duas, Transpen e Transfada, na Cidade Industrial de Curitiba.