Quando o portão dos Armazéns da Família se abrem, começa muito mais que um dia de trabalho. É o início de um novo capítulo nas histórias que unem servidores em torno de um propósito comum: garantir alimento de qualidade e a preços acessíveis para quem mais precisa. Essa é a rotina de Maria José de Oliveira, 57 anos, e Helena Rebouças, 56, duas servidoras públicas que há décadas dedicam suas vidas ao programa com orgulho, carinho e muita empatia.
Gratidão e serviço
Coordenadora do Armazém da Família Maria Angélica, Maria José é servidora há 31 anos. Sua trajetória no programa começou em 1996. Natural de Palotina, no interior do Paraná, veio para Curitiba após o casamento e, como mãe de quatro filhos, viu-se diante do desafio de ajudar no orçamento doméstico.
“Comecei como dona de casa, fazia pintura, costura, o que aparecesse para ajudar”, conta. Foi por meio de um projeto chamado Tudo Limpo, ainda na gestão do ex-prefeito Rafael Greca, que ela ingressou na Prefeitura. Anos depois, passou por creche, núcleo de abastecimento e, mais tarde, retornou ao Armazém da Família, onde encontrou seu lugar definitivo. “Voltei como operadora de caixa em 2017 e hoje sou coordenadora. Eu amo esse trabalho. Tenho gratidão por ser servidora, sou muito feliz”, afirma.
Maria José destaca o vínculo especial com os clientes como a maior recompensa. “A gente acaba conhecendo a vida deles, aprende receitas, compartilha histórias. Eles confiam na gente, porque veem nosso cuidado com os produtos, as datas, as prateleiras”, diz.
Mais que compras
Do outro lado da cidade, no Armazém da Família do Boqueirão, Helena Rebouças soma 27 anos de dedicação — todos dentro do programa. “Entrei em 1997 na Secretaria de Turismo, mas era longe demais. Consegui uma vaga no Armazém no Jardim Paranaense, mais perto da minha casa, e me apaixonei pelo trabalho”, conta ela, que se tornou coordenadora em 2004.
Helena viu o programa se transformar ao longo dos anos. “Lá no começo, os produtos ficavam em pallets no chão, mas o movimento era enorme. Tantas famílias carentes sendo atendidas. A estrutura mudou muito, mas o vínculo com os clientes só cresceu”, conta.
Ela acredita que trabalhar no Armazém vai além da função administrativa.
“As pessoas querem atenção, querem conversar. Elas chegam e perguntam por mim e se eu não estou, estranham. É um laço emocional muito forte, tem gente que faz compra aqui há 15, 20 anos e não se vê comprando em outro lugar”, salienta Helena.
Uma das histórias que mais a marcou aconteceu na véspera de Natal de 2010. “Uma senhora chegou com o filho e fez uma compra enorme, mas não sabia que precisava pagar. Quando viu que não teria como levar, ficou arrasada. Juntei a equipe e fizemos uma vaquinha. Cada um deu um pouco. Fizemos uma cesta e deixamos o menino levar o que ele queria. Ele disse: ‘Tia, meu irmãozinho hoje vai poder comer isso, comer aquilo’. Aquela cena me emocionou profundamente. Até hoje eles frequentam o Armazém e eu vi aquele menino crescer.”
Um programa que transforma vidas
Criado pela Prefeitura de Curitiba, o Armazém da Família é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. Atualmente, atende 353 mil famílias cadastradas, beneficiando cerca de um milhão de curitibanos, além de 163 entidades sociais.
Com preços até 30% mais baixos do que os praticados no mercado, o programa oferece alimentos básicos, itens de higiene e limpeza, garantindo mais dignidade e segurança alimentar para as famílias com renda de até cinco salários mínimos.
“O Armazém representa muito mais que economia”, ressalta o secretário Leverci Silveira Filho. “É uma ação concreta de cuidado com o bem-estar da população, com atenção à nutrição, à qualidade dos produtos e à relação direta com a comunidade”.
Atendimento
Os Armazéns da Família funcionam de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, das 9h às 14h. Para ser beneficiário, é necessário ser morador de Curitiba, maior de 18 anos e ter renda familiar de até cinco salários mínimos. O cadastro é simples e pode ser feito online.