Em Curitiba, para onde quer que se olhe há algo que passou pelas mãos dos profissionais do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Seja nos equipamentos públicos, nos parques e praças, nos imóveis preservados, nas iniciativas culturais, no desenvolvimento urbano, na reciclagem dos espaços públicos, na valorização das etnias, nas soluções de mobilidade. Por isso, nas comemorações dos 50 anos, a tradicional logomarca verde deu lugar ao dourado com o slogan “Essa marca vale ouro”.
Nessas cinco décadas, o Ippuc contou com o talento, a expertise e a dedicação de centenas de servidores e colaboradores. “Gerações de servidores deram o melhor de si por essa instituição e por amor à nossa cidade. Também é por causa do Ippuc que Curitiba possui um dos planos diretores mais longevos do Brasil. Por tudo isso, é um privilégio fazer parte dessa história”, comemora o presidente do Ippuc, Sérgio Póvoa Pires.
Quando o Ippuc foi fundado, em 1965, precisava aplicar as diretrizes do novo Plano Diretor e, ao mesmo tempo, atender aos desafios diários impostos pela cidade que tinha, então, cerca de 600 mil habitantes. Para tanto, passou a contar com quatro supervisões distintas e integradas. A Supervisão de Implantação nasceu com objetivo de gerenciar as questões operacionais para garantir a efetiva adoção do Plano Diretor. Com o passar do tempo, as atividades do Instituto foram se tornando mais complexas e coube a esta supervisão especializar-se no gerenciamento técnico de projetos.
Assim, a Supervisão de Implantação passou a elaborar novas metodologias para poder atuar junto aos agentes financiadores de grandes projetos da cidade como, por exemplo, a Linha Verde. Isso tem sido fundamental, especialmente no trato com organismos multilaterais de crédito como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Banco Mundial (BIRD). “Todos os programas com financiamentos nacionais ou internacionais desenvolvidos pelo município contam com o nosso trabalho, desde a fase de preparação, passando pela implantação e seguindo até a finalização dos contratos”, conta o supervisor Assis Francisco Anastácio.
Outra área vital para o Ippuc é a Supervisão Administrativa e Financeira. É esta área que garante o funcionamento do o dia a dia da instituição. É ali que são gerenciadas atividades como controle de protocolos e correspondências, manutenção e serviços gerais, compras e licitações, transporte interno, controle de patrimônio, políticas de pessoal e folha de pagamento, além da indexação dos dados dos Planos Plurianuais e das Leis Orçamentárias. “Temos orgulho em realizar o nosso trabalho, buscando sempre ser referência em nossa atividade, pois garantimos a infraestrutura para que o Ippuc cumpra a sua missão”, destaca o supervisor Joelson Luiz do Espírito Santo.
Pesquisa e Planejamento
Na década de 1980, o Instituto fez um pequeno anúncio no qual dizia que “o Ippuc não tem bola de cristal. Mas, para planejar uma cidade, é preciso ter visão de futuro”. De fato, isso acontece porque as decisões do corpo técnico e os projetos são amparados por ampla pesquisa – o primeiro “P” do Ippuc. A Pesquisa foi a áreado Instituto que mais aproximou os cidadãos dos planejadores. Os levantamentos dos pesquisadores – que faziam incontáveis viagens de ônibus, ou ficavam nos pontos e terminais com suas pranchetas – não apenas traziam a realidade curitibana para dentro do Instituto como também projetavam a imagem dele e, de certa forma, fizeram parte da paisagem curitibana naqueles primeiros anos.
“Apesar de ser uma atividade prosaica, era vista pela população com respeito e admiração. Os cidadãos confiavam que aquela simples contagem de passageiros viria a ser um dos ingredientesde mais um projeto inovador, que logo estaria trazendo mais qualidade de vida para a cidade”, recorda-se o Supervisor de Informações, Oscar Schmeiske.
Em um tempo em que não havia computadores, os dados coletados pelo trabalho de centenas de pesquisadores precisavam ser tabulados. Assim, era feita uma coleção de planilhas, todas preenchidas a mão, cheias de indicações de onde uma se conectava à outra. “Não raro, os volumes de uma pesquisa, com centenas de páginas, eram colados em paredes ou, então, espalhados pelo chão para que fosse possível ter uma visão geral”, relembra Oscar Schmeiske.
Depois de tabulados os dados, as informações eram transportadas para gráficos cuidadosamente desenhados ou, então, transformadas no “produto” mais admirado no Ippuc: os mapas. O responsável pela elaboração dos diversos mapas era um cartógrafo suíço chamado Julius Forrer, um dos profissionais mais cultuados dentro da instituição, tal a importância e a perfeição do trabalho realizado por ele. “Eram esse mapas que subsidiavam o trabalho dos planejadores que, por sua vez, elaboravam os projetos que traduziam as necessidades e também os desejos da sociedade”, conta Oscar Schmeiske.
Muitos anos depois, a Supervisão de Informações passou a contar com o auxílio da tecnologia para realizar seu trabalho. Computadores, dados de satélite, GPS, telefones celulares e Internet são parte das ferramentas utilizadas pela equipe de pesquisa para analisar e decifrar uma cidade cada vez mais complexa.
Entre os novos desafios deste setor está a coleta, a composição e o cruzamento dos dados de Curitiba e das cidades da região metropolitana. Para tanto, o Ippuc disseminou sua expertise entre os técnicos das cidades vizinhas para que todos possam coletar, analisar e indexar dados da mesma maneira. Isso é de grande importância, tendo em vista que todas as questões fundamentais do planejamento urbano – do transporte ao fornecimento de água, da habitação à destinação do lixo – precisam ser pensadas e resolvidas de maneira conjunta entre os municípios da região.
Da mesma forma que o setor de pesquisa, os primórdios da área de planejamento também contavam com ferramentas hoje em completo desuso. O sofisticado pensamento dos arquitetos era traduzido em desenhos da cidade feitos com caneta graphos, canetinhas a nanquim, normógrafo, decalques denominados “letraset”, retroprojetor, mesa de luz, papel vegetal e poliéster. Todos os mapas eram desenhados e pintados a mão.
“Essa produção artesanal aproximava muito as pessoas. Como tudo estava à mostra, exposto sobre as mesas ou pendurado nas paredes, todos viam o trabalho de todos e, dessa maneira, podiam opinar, trazendo novas ideias. E como o trabalho manual era demorado, as pessoas ajudavam umas às outras, em mutirão, virando noites, para que pudéssemos cumprir os prazos”, relembra a arquiteta Ariadne Mattei Manzi, supervisora de Planejamento, que pertence à segunda geração de arquitetos do Ippuc e teve a oportunidade de trabalhar também com os profissionais da primeira geração.
O desafio de traduzir e refazer a cidade, de acordo com o estabelecido pelo Plano Diretor, encantava a todos. “Tínhamos consciência do papel que desempenhávamos. Trabalhar no Ippuc era desejo de todo arquiteto. Havia fila de espera até para ser estagiário. Isso gerou muita garra, companheirismo e comprometimento com a cidade. A gente cresceu profissionalmente num grupo coeso, sempre com o mesmo olhar, e isso fez muito bem para Curitiba”, conta Ariadne.
Com o passar dos anos, o crescimento da cidade foi exigindo não apenas a criação de novas soluções urbanas, mas a elaboração de um número muito maior de equipamentos públicos. Na década de 1960 eram apenas algumas dezenas e, na atualidade, são 2,6 mil. Dessa forma, a supervisão de planejamento teve de acompanhar a velocidade das transformações de Curitiba. “Em apenas um ano nós criamos todas as Ruas da Cidadania e todas as Unidades de Saúde 24 Horas”, relata a supervisora Ariadne.
No mundo e na comunidade
Ao mesmo tempo em que foi se tornando conhecido por suas soluções urbanísticas, o Ippuc passou a receber demandas externas. Eram instituições, prefeituras, governos estaduais, estudantes, pesquisadores e profissionais das áreas de arquitetura e urbanismo que desejavam aprender a expertise do Instituto, levando conhecimento para seus locais de origem. O caso mais emblemático é o do ônibus Expresso que se tornou mundialmente conhecido como BRT (Bus Rapid Transit) e já foi copiado ou adaptado por mais de 150 cidades ao redor do mundo.
Assim, a cada ano, a Assessoria de Relações Externas do Ippuc (AREX) recebe cerca de 1,3 mil visitantes que vêm em busca de conhecimento.Além disso, visitas técnicas, cursos, seminários, palestras e workshops fazem parte do dia a dia da instituição – seja para capacitação externa, interna ou mista, numa oportunidade estendida a servidores de outros órgãos do Município. E a troca de conhecimento tornou-se uma via de duas mãos: assim como o Ippuc ensina, também busca aprender. Para tanto, a AREX é responsável pela realização de acordos de cooperação técnica e intercâmbio com outros países, tais como Japão, Suécia, Holanda e diversos países da América Latina.
“Esse tipo de capacitação é muito importante, pois amplia os horizontes dos profissionais do Ippuc, dando-lhes novas oportunidades e possibilitando a busca de novas soluções para Curitiba. Da mesma forma, o planejamento urbano de Curitiba tornou-se referência mundial e nos permitiu, entre outros feitos, conquistar o título de Cidade Criativa, pela Unesco, na categoria Design”, aponta Luisiana Paganelli, Assessora de Relações Externas.
Da mesma forma que busca ampliar horizontes e disseminar sua expertise, o Ippuc também tem o compromisso de manter permanente diálogo com a comunidade local. Para isso foi criado o Conselho da Cidade de Curitiba (Concitiba), órgão colegiado de política urbana que tem sua estrutura vinculada ao Instituto e reúne representantes do poder público e da sociedade civil.
Entre as atribuições do Concitiba estão formular, elaborar e acompanhar as diretrizes do desenvolvimento urbano e regional de Curitiba no diz respeito a equipamentos para serviços básicos e de interesse comunitário, infraestrutura urbana, habitação, saneamento ambiental, desenvolvimento sustentável e mobilidade urbana, com ênfase para o transporte coletivo, trânsito e acessibilidade.
A partir de 2013, por determinação do prefeito Gustavo Fruet, o número de integrantes do Concitiba foi duplicado, passando de 32 para 64 membros, entre suplementes e titulares. Os conselheiros tiveram papel fundamental durante a revisão do Plano Diretor de Curitiba. Na Plenária Expandida do Concitiba, que contou também com a participação de 18 representantes das Regionais, foram aprovadas 47 emendas ao anteprojeto de lei do Plano Diretor, posteriormente encaminhado para a Câmara Municipal.
“Todas as emendas foram acatadas pelo prefeito Gustavo Fruet. Isso demonstra não apenas a relevância da participação do Concitiba nos destinos da cidade como, também, a disposição da administração municipal em dialogar com a sociedade”, destaca o arquiteto e urbanista Laércio Leonardo de Araújo, secretário executivo do Concitiba. Desta forma, o Ippuc segue desenhando Curitiba com criatividade, conhecimento e tecnologia, em consonância com a comunidade e vislumbrando a integração metropolitana.