Uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira, o romance Catatau, de Paulo Leminski, está completando 50 anos e será tema de um dos debates do III Festival da Palavra de Curitiba. A obra que colocou o poeta curitibano no centro da vanguarda literária será comentada pelo escritor Manoel Ricardo de Lima, professor de Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por Áurea Leminski, filha do poeta.
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O bate-papo será no domingo (14/9), às 10h, na Casa da Cultura Polônia Brasil. A programação completa do III Festival da Palavra de Curitiba pode ser conferida AQUI.
“Celebrar os 50 anos de Catatau é muito especial, porque essa obra continua mobilizando leitores, críticos e estudiosos em todo o país e estimulando novas interpretações e diálogos, o que mostra sua força e atualidade”, diz Áurea Leminski.
Romance experimental
Catatau colocou o escritor curitibano no centro da vanguarda literária brasileira, desafiando críticos e leitores pela sua ousadia e criatividade. O romance-ideia, como o próprio autor o definiu, tem como ponto de partida uma possível vinda de René Descartes ao Nordeste brasileiro como parte da expedição holandesa de Mauricio de Nassau. O filósofo é submetido a um choque de realidades entre a matriz colonialista e o mundo nos trópicos.
A partir dessa narrativa, Leminski produz um texto experimental enquanto utiliza inúmeros recursos linguísticos e expõe toda a sua erudição e o seu vasto conhecimento idiomático.
O livro até hoje é fonte para estudiosos. Ao longo dessas cinco décadas, vários artigos e estudos foram feitos para decifrar o “enigma” de Catatau. Décio Pignatari, em texto publicado em 2004, quando a obra estava prestes a completar 30 anos, chegou a considerar Catatau “o que de mais instigante e original se produziu no século passado brasileiro”.
Para o poeta, tradutor e dramaturgo Mauricio de Arruda Mendonça, Catatau é uma das obras-primas da literatura brasileira de invenção do século 20.
“Num texto lúdico, parodiando as narrativas dos viajantes e empregando recursos do concretismo e do tropicalismo, Leminski cria uma fábula inovadora e radical, firmando-se como um dos grandes explicadores do Brasil”, descreve Arruda Mendonça.
Cada vez mais, essa prosa experimental desperta curiosidade e firma o nome de Leminski no cenário literário brasileiro e internacional. De acordo com Áurea Leminski, uma tradução do Catatau está sendo preparada pelo poeta e tradutor curitibano Ivan Justen Santana, ainda sem previsão de lançamento.
Leminski, Augusto de Campos e o concretismo
Catatau teve sua primeira edição em 1975 e levou oito anos para ser escrita. Na dedicatória do livro, Leminski cita Augusto de Campos, um dos maiores poetas brasileiros vivos, que é um dos homenageados desta terceira edição do festival.
A dedicatória é dirigida ao trio de poetas concretistas, formado também por Décio Pignatari e Haroldo de Campos (ambos já falecidos). Os três exerceram forte influência sobre a produção de Leminski, que desde cedo se identificou com a poesia concreta em ascensão nos anos 1960.
Áurea destaca que a amizade e a troca intelectual entre Leminski e Augusto de Campos foram fundamentais. “Augusto foi um importante interlocutor, alguém que compreendeu e incentivou o experimentalismo do Leminski. Homenageá-lo neste III Festival da Palavra é também celebrar essa história de afeto e criação que atravessa gerações”, afirma.
Homenagens
Paulo Leminski (1944-1989) foi um artista de múltiplos talentos, unindo com grande habilidade erudição e cultura popular. Publicou livros de poesia, biografias, traduções e fez parcerias musicais. Depois do lançamento de Catatau, em 1975, uma das obras marcantes foi a coletânea Distraídos Venceremos (1987). Em 2003, a Companhia das Letras lançou a antologia Toda Poesia, um sucesso que fez sua obra chegar às novas gerações de leitores.
No ano em que se comemora os 50 anos de Catatau, Leminski foi escolhido para ser o homenageado da edição 2025 da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Em 2024, quando se completaram os 80 anos do seu nascimento, a 41ª Oficina de Música foi dedicada a ele. Recentemente, a Prefeitura de Curitiba inaugurou uma escultura em bronze do artista, localizada na Rua da Música, no Parque Jaime Lerner.
Serviço
III Festival da Palavra de Curitiba
Bate-papo 50 Anos do Catatau de Paulo Leminski, com Áurea Leminski e Manoel Ricardo de Lima (RJ)
Local: Casa da Cultura Polônia Brasil (Rua Ébano Pereira, 502 - São Francisco)
Domingo (14/9), às 10h