Que plantar e colher os próprios alimentos ajuda a melhor a qualidade nutricional as moradoras do conjunto habitacional Maringá II, no bairro Cachoeira já sabiam. Porém, aprenderam uma novidade durante uma atividade ambiental promovida pela coordenadoria do Serviço Social da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) no empreendimento. Descobriram como reaproveitar restos da construção civil para criar uma horta capilar e cultivar dentro de casa ou em pequenos espaços, ervas, temperos e verduras.
O passo a passo que ensinou o cultivo das hortas capilares – chamadas assim devido a forma diferenciada de irrigação, com a captação da água feita pelas raízes das plantas – aconteceu na sala da dona de casa Solange Nunes Ferreira, de 40 anos. O espaço ficou pequeno para acomodar as vizinhas que se reuniram para aprender juntas.
A praticidade está entre as vantagens deste tipo de horta que só precisa ser regada uma vez na semana e garante boa germinação mesmo em locais pequenos e fechados. A montagem é rápida e fácil, a partir da reutilização de caixas de isopor e canos de PVC, ambos facilmente encontrados nos restos da construção civil.
Boas caixas de isopor podem ser garimpadas nas lixeiras dos restaurantes que servem frutos do mar. Outros materiais necessários também são fáceis de encontrar: serra para o corte dos canos, terra de boa qualidade, sementes ou mudas do que se pretende plantar.“É tão rápido e fácil de fazer que vou adotar a ideia e criar várias hortas dentro e fora de casa”, disse Solange.
A economia proporcionada pela horta é outro atrativo que incentivou Solange e as a vizinhas a participar da oficina. “Não precisa mais gastar para comprar verduras, temperos e ervas. E o melhor é que a montagem da horta sai de graça, basta procurar os materiais que muitas vezes estão no lixo”, disse Solange.
Para a vizinha Maria Carvalho Wilt, de 37 anos que já cultiva flores e plantas no quintal de casa a oficina serviu para aprimorar conhecimentos, em especial sobre o plantio em espaços fechados. “Adorei a técnica da caixa de isopor e vou tentar fazer a minha. Acho que um jardim bem cuidado e uma boa horta deixam a casa ainda mais bonita”, contou Maria.
A prática do plantio das hortas integra o trabalho de acompanhamento social e ambiental realizado sob coordenação da Cohab nos conjuntos construídos para reassentamentos de famílias que vivem em situação de risco.
A construção das moradias, explica o presidente da Cohab, José Lupion Neto é apenas uma das ações desenvolvidas por meio dos projetos de reassentamentos do município. “As famílias são inseridas em ações de inclusão social que as ajudam a melhorar a qualidade de vida. O trabalho tem início com os primeiros contatos, para o conhecimento dos moradores e segue até a conscientização sobre a recuperação e preservação de áreas verdes que acontece antes, durante e pós o reassentamento”, diz Lupion.
É o que tem acontecido no Moradias Maringá II, empreendimento de 43 casas térreas e sobrados, construído no bairro Cachoeira para atender famílias que viviam em situação de risco na Vila Nori, uma área de ocupação irregular no bairro Pilarzinho. O conjunto foi construído com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC 1, e faz parte do programa habitacional do município, por meio do projeto Vila Nori.
As famílias foram transferidas para as novas moradias em setembro de 2015, substituindo uma vida precária e sofrida em uma área de morro, com risco de desabamentos, por um período de importantes transformações.
Cultivo de hortas e jardins – Após a realocação, assistentes sociais e técnicos ambientais frequentam a área para acompanhar a rotina das famílias. Segundo o técnico ambiental que atua no projeto da Vila Nori, Vagner Natalício Cypriano de Aguiar, incentivar e dar suporte ao cultivo de hortas e jardins é uma forma de beneficiar o solo e promover a conservação das áreas. “Isso causa impacto imediato na saúde e na qualidade de vida dos moradores. As hortas e jardins ocupam os espaços permeáveis, facilitando o escoamento e drenagem no ambiente. Com as hortas os moradores produzem seu próprio alimento, garantem alimentação saudável, livre de agrotóxicos e fresquinhas, além de servirem como fonte de renda extra. Já os jardins têm função estética, paisagista e valorizam a residência”, diz Vagner.
A oficina de horta capilar deu sequência a uma série de atividades já desenvolvidas no conjunto Maringá II, entre elas as oficinas individuais nas residências sobre a importância da adoção de hortas e jardins, sobre a hipermeabilização do solo e reciclagem, separação de lixo doméstico, além do plantio e mudas nativas nas áreas coletivas do condomínio. Há previsão de que uma nova oficina aconteça em breve, desta vez para ensinar técnicas de jardinagem com garrafas descartáveis e jardins verticais.