Homens atendidos pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) Solidariedade, da Fundação de Ação Social (FAS), fizeram uma apresentação nesta quarta-feira (3/12) na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), campus da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). O grupo participou da Roda de Música realizada no palco da cantina da instituição, o que marcou o encerramento da Oficina de Musicoterapia realizada desde agosto na unidade.
O Centro POP é um equipamento que oferece espaço de convivência social, higiene pessoal, alimentação, guarda de pertences, acesso à documentação e atendimento socioassistencial, com foco no fortalecimento de vínculos e na garantia de direitos de pessoas em situação de rua.
Encerramento da oficina
A oficina de musicoterapia foi desenvolvida ao longo do segundo semestre pela estudante Cláudia Silvia, do 4º ano do curso de Bacharelado em Musicoterapia, como parte de seu estágio externo. Os encontros aconteceram todas as terças-feiras, no Centro POP Solidariedade.
No encerramento, nove participantes da oficina apresentaram músicas gospel, sambas e três composições autorais do acolhido Luciano Andrade Santos, 31 anos. As canções falavam da mãe, já falecida, de um amor da adolescência e do cotidiano no Centro POP.
“Hoje estou em situação de rua por questões familiares que me levaram a uma depressão. A gente não espera, mas acaba acontecendo. Mas estou lutando para ser uma nova pessoa”, disse Luciano. Ele agradeceu a oportunidade de mostrar o seu trabalho para os alunos e estudantes da FAP.
Luciano veio de Caraguatatuba (SP), onde trabalhava em uma rádio, e está sendo acompanhado há três meses pelo Centro POP. “Faço minhas próprias composições, mas o problema é que ainda não sou conhecido”, comentou. Seu trabalho está disponível nas redes sociais no perfil levita_luu e no YouTube como Luciano Andrade.
Oficina de Musicoterapia
Cláudia explicou que o grupo fez dois ensaios para a apresentação e que, durante a oficina, foram usadas diferentes técnicas da musicoterapia, como recriação de canções conhecidas, improvisações com instrumentos e exercícios musicais.
“Não teve o caráter de aula de música, mas sim de uma manifestação espontânea da musicalidade deles. A partir disso fomos desenhando o que era possível e o que tinha mais força. Percebi que o samba era a expressão mais espontânea, talvez até ligada à ancestralidade deles, já que muitos são negros. Também surgiram composições próprias, músicas gospel e um pouco de sertanejo”, contou.
A estudante destacou ainda a importância do estágio no Centro POP. “Foi o melhor lugar para eu estagiar. Eles têm uma alegria e uma espontaneidade que são um enfrentamento à realidade difícil que vivem. Na roda de música, eles se soltam, brincam, se divertem. É uma forma de chamar o olhar da sociedade para que sejam tratados com o respeito que merecem.”
Fortalecimento de vínculos
Para Juliana Guerra, apoio técnico do Centro POP Solidariedade, a oficina trouxe muitos benefícios para os participantes. “O convívio social gera bem-estar, trabalha a autoestima e os sentimentos. Reduz o isolamento, facilita a interação entre as pessoas, promove engajamento, troca de experiências e fortalece vínculos”, avaliou.
O professor Hermes Soares dos Santos, orientador do estágio de Cláudia, explicou que os estudantes do terceiro ano fazem estágio em grupo em instituições de longa permanência para idosos, e que no último ano são livres para escolher o local do estágio externo. “A Cláudia sempre demonstrou interesse pelas questões sociais. A cada encontro ela desenvolvia a oficina, elaborava relatórios e discutíamos sobre o trabalho”, explicou.