A vida de Uidimar Schmidt da Silva, 50 anos, é marcada por desafios, recaídas e recomeços. Após anos de dependência química e de ficar em situação de rua, ele encontrou na Fundação de Ação Social (FAS) e na rede intersetorial da Prefeitura de Curitiba o apoio necessário para recuperar a dignidade, reconstruir seus projetos e planejar um futuro em que pretende ajudar quem enfrenta os mesmos problemas que ele superou.
Uidimar, que há cinco anos trabalhou como cuidador social na FAS, contratado por uma empesa terceirizada, está acolhido na Unidade de Acolhimento Institucional (UAI) Boqueirão, onde recebe acompanhamento social e os encaminhamentos necessários para recomeçar.
Antes, ele tinha sido atendido no Centro Pop e na Casa de Passagem Doutor Faivre, que integram o Centro Intersetorial de Atenção a Pessoas em Situação de Rua – a FAS SOS -, onde em fevereiro deste ano procurou atendimento.
Com problemas de saúde, ele foi encaminhado para atendimento do Consultório na Rua, programa da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que também tem equipes dentro da FAS SOS. Depois de exames, ele foi diagnóstico com retrolistese na coluna cervical, o que exigirá uma cirurgia.
Em 2021, Uidimar também foi atendido em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) da capital, onde ficou internado por quatro meses para tratamento da dependência química.
Currículo na área da saúde
Enquanto se prepara para a cirurgia, Uidimar também está se dedicando a um curso de terapeuta em dependência química, área em que já tem experiência prática e pretende trabalhar profissionalmente. O curso é on-line e foi presente de um casal de amigos, ele terapeuta e ela psiquiatra.
“A FAS tem um papel fundamental na minha vida. Por eu já ter trabalhado na fundação, ninguém me rejeitou quando souberam do meu uso de entorpecentes. Pelo contrário, recebo apoio e incentivo até hoje”, conta.
Uidimar vive em Curitiba há 35 anos, longe da família que mora em Presidente Prudente (SP). É formado em radiologia, técnico em enfermagem, socorrista, cuidador e massoterapeuta, com experiência em hospitais e clínicas da cidade. Mas a dependência química, que durou 25 anos, o levou a perder empregos e viver momentos de vulnerabilidade. Chegou a pesar 50 quilos e a fumar até 50 pedras de crack por dia, segundo ele.
Momento da virada
Ele conta que o momento de virada aconteceu quando, cansado de viver nas ruas, pediu ajuda a Deus. “Eu trabalhava com reciclagem e estava com seis pedras de crack na mão. Usei três e nenhuma fez efeito. As outras joguei no rio. Naquele dia percebi que era a chance que eu pedia a Deus para mudar de vida”, lembra.
Hoje, um ano e meio após ter deixado de usar substâncias psicoativas, Uidimar mantém a fé como parte essencial da sua recuperação. Tornou-se evangélico, frequenta a igreja com a namorada, que também o apoia, e fala diariamente com os irmãos e a filha, psicóloga, que vivem em Presidente Prudente.
Além da cirurgia, o próximo grande passo será terminar o curso de terapeuta e buscar trabalho na área. Ele conta que já tem convites para atuar em serviços de apoio a pessoas em situação de dependência química.
Novos projetos
O presidente da FAS, Renan de Oliveira Rodrigues, destaca a importância dos serviços da fundação e das demais secretarias municipais para histórias como a de Uidimar. “O caso do Uidimar mostra como o acolhimento da FAS e toda a rede intersetorial pode transformar vidas”, diz.
“A FAS não oferece apenas abrigo e alimentação, mas acompanhamento, apoio emocional e incentivo para que cada pessoa construa novos projetos. Nosso compromisso é ajudar quem viveu na rua ou em vulnerabilidade a reencontrar caminhos de dignidade e autonomia”, completa Renan.
Para Uidimar, seu processo de superação é resultado do trabalho da FAS, da Saúde, da igreja, mas também do empenho pessoal. “A vida na rua é muito difícil, é preciso ter vontade e acreditar, só assim conseguimos sair dela”, ressalta.
Trabalho intersetorial
Além da FAS, outras secretarias e instituições parceiras trabalham juntas para ampliar o alcance das políticas públicas para a população em situação de rua. O programa Mesa Solidária, por exemplo, oferece refeições diárias em cinco pontos da cidade. Na saúde, o Consultório na Rua realiza atendimento de saúde em diferentes pontos da cidade.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano mantém o projeto Nova Morada Vida Nova, com 100 vagas de acolhimento e foco na reinserção social de pessoas em situação de vulnerabilidade ou dependência química.
Na área do trabalho, o município oferece cursos gratuitos pelo Liceu de Ofícios e Inovação, muitos deles realizados dentro das próprias unidades de acolhimento. A FAS também promove encaminhamentos para vagas de emprego, favorecendo a autonomia dos usuários.
Qualquer cidadão em situação de vulnerabilidade pode buscar o atendimento da FAS por conta própria em uma das unidades da instituição, que fará os encaminhamentos necessários de acordo com as demandas de cada um.