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Trabalho duro

Feirante: uma profissão que passa de pai para filhos

Feirante: uma profissão que passa de pai para filhos. - Na imagem, Família do seu Fernando Schuelong, 75 anos. Curitiba, 05/05/2017 Foto: Valdecir Galor/SMCS

Maçaru Koga, 82 anos, lembra como se fosse hoje - e não há 70 anos - a aventura do menino que ia com o pai na então “longínqua” chácara da viúva Carolina Greca, no Ahú, buscar verduras e legumes que seriam vendidos na Praça Tiradentes, ou melhor, no terreno onde hoje é o Banco do Brasil. “Este foi meu primeiro contato com as feiras, ajudando a família a vender hortaliças. Acabei virando feirante de pescados e hoje vejo com orgulho meu filho e netos também trabalhando”, recorda ele, que mesmo oficialmente aposentado, nunca pendurou o jaleco nos últimos 52 anos. 

Entre frutas, verduras, legumes, peixes e um mundo de cultura, gerações de feirantes continuam a manter a tradição de um dos ofícios mais antigos da humanidade. “Como todo o segmento, essas famílias estão tendo que se adaptar à modernidade, à concorrência e às exigências dos fregueses”, salienta o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, Luiz Gusi, responsável pelas 93 feiras da Prefeitura.   

Barricas de peixes

Em 1965, ao mesmo tempo em que abria sua peixaria, Maçaru Koga montou sua banca de pescados, que percorria várias feiras de Curitiba. “Eram outros tempos. Os peixes e camarões chegavam em barricas e a gente tinha que ter muito gelo para conservar os produtos”, lembra. “Depois, em 1979, eu fui o primeiro vendedor de pescados a trocar a banca pelo trailler”, recorda o feirante, que sempre teve o apoio da esposa Eloisa, 77 anos.

Ainda menino e depois adolescente, quem também ajudava no atendimento ou carregando os pescados era o primogênito da família. “Eu ia para escola e voltava correndo para ajudar. Depois de formado, entrei em um banco, mas saí de lá e, em 1991, resolvi trabalhar com meu pai. Aprendi muito com ele e gosto do que faço”, salienta Sérgio Koga, 54 anos.

Após assumir o comando dos negócios, ao lado da esposa Cássia, 52 anos, Sérgio foi o responsável por uma nova etapa do trabalho da família Koga nas feiras: a substituição do antigo trailler por um veículo mais moderno. “Essa troca significou uma melhoria no serviço oferecido para nossos fregueses, pois o sistema de refrigeração dos pescados é muito melhor”, lembra ele, que pode ser visto atendendo no pequeno caminhão nas feiras do São Francisco, Rebouças, Ahú, Água Verde e Alto da Glória.

Hoje, Heloise, 23 anos, e Matheus, 21 anos, filhos de Sérgio, seguem os passos do pai e do avô. “Desde os 9 anos, eu venho aos sábados, adoro o clima da feira, de atender as pessoas e quero continuar o trabalho da nossa família”, garante Heloise, que cuida do atendimento nos pontos, enquanto o irmão ajuda mais na limpeza e preparação dos pescados.

Apesar do horário puxado, a família Koga está de pé às 4h30 da manhã diariamente, a jovem garante que não trocaria de trabalho. “Há muito respeito, carinho e amor entre nós. Como não amar o que faço?”, completa Heloise.

Caixote como berço

Quem frequenta as feiras do Bigorrilho, Batel, Jardim das Américas e Vila Hauer, provavelmente, já fez compras na banca de hortifrutigranjeiros de Fernando Schuelong, 75 anos. Oficialmente aposentado, ele também não consegue deixar de ir diariamente aos pontos da Prefeitura conferir se frutas, verduras e legumes estão fresquinhos para a venda.

Mas o atendimento e a correria diária, que inclui montar a barraca, ir ao Ceasa comprar os hortifrutigranjeiros e atender os clientes, já foi passada para a segunda geração. Hoje, quem comanda a banca são os filhos Rogério, 49 anos; Reginaldo, 46 anos; e Elizabeth, 39 anos. “Eles se criaram aqui. Quando eram pequenos, chegaram a dormir nos caixotes”, conta seu Fernando, que atua há 43 anos como feirante.   

“Aprendi a gostar desta profissão e não me arrependo de tê-la abraçado, apesar de ser um trabalho duro”, observa Rogério, que com os irmãos acorda diariamente às 2 da manhã. Segundo ele, o pai nunca permitiu que eles trabalhassem na feira durante a infância ou adolescência.  “Era hora de estudar. A gente podia vir, mas tinha que arranjar um jeito de brincar. Nem que fosse enrolando alface. Só quando ficamos mais velhos, ele deixou a gente trabalhar”, lembra.

Reginaldo conta que é difícil fazer o pai parar e aproveitar a aposentadoria. “Mas a gente entende. Como ele, nós gostamos do que fazemos e é muito bom ver nossos fregueses satisfeitos. Ter uma freguesia que sempre compra da gente exige dedicação e muito trabalho”, acrescenta.

Delivery

Atuando como feirante há 42 anos, João Boganika, 76 anos, divide o comando hoje da banca de hortifrutigranjeiros com a filha Lúcia, 48 anos. A poucos passos deles, está outro filho, Paulo, 52 anos, com um trailler de frutas. “Gosto muito o que faço e da convivência com os clientes. Eu aprendo com a freguesia, trocamos até receitas, há um clima de amizade aqui”, garante Lúcia, que com o pai e irmão trabalham nas feiras do Bigorrilho, Batel, Jardim das Américas, Vila Hauer e 29 de Março.  

Seu João lembra que começou a trabalhar como feirante no bairro Uberaba, mas no mesmo ano transferiu-se para o ponto do Batel e depois para outros locais durante a semana. “Tenho fregueses fiéis em várias feiras, que conheço há muitos, muitos anos. Infelizmente, alguns já morreram. Mas os filhos e netos continuam a ser nossos clientes”, afirma. 

Para conquistar novos públicos e cativar os fregueses, a família Boganika aposta na diversificação dos produtos e até em delivery para os clientes. Enquanto na banca comandada por seu João e a filha Lúcia, a ideia é oferecer produtos orgânicos e alimentos semi -processados (picados, por exemplo), o filho Paulo aposta no atendimento personalizado. “Além de buscar sempre produtos de alta qualidade, também ofereço para nossos fregueses entrega em casa”, conta.   

Para Paulo, as feiras têm sofrido muito, nos últimos anos, com a concorrência. Mas ele garante que nada desanima. “A gente acorda muito cedo, trabalha muito, mas amamos o que fazemos e quem nos ensinou a ter esse amor foi o nosso pai”, concluiu.   

De orgânicas a gastronômicas, Prefeitura tem 93 feiras espalhadas por Curitiba

A Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento é responsável por 93 feiras da Prefeitura. São sete diferentes categorias que passam por um rigoroso e periódico monitoramento realizado pela Gerência Técnica de Controle de Qualidade da Secretaria:

Feiras Livres: são 39 pontos vendendo hortigranjeiros convencionais e que ocorrem de terça-feira a domingo, no horário da manhã (há algumas variações de horários).

Feiras Noturnas: são 13 pontos, comercializando hortigranjeiros convencionais, de terça-feira a sexta-feira, das 17 às 22 horas.

Feiras Gastronômicas: são 3 pontos, oferecendo para o público diferentes estilos de pratos preparados, de quinta-feira a sábado, das 17 às 22 horas (Cristo Rei e Capão Raso) e das 12 às 21 horas (Batel).

Feira do Litoral:  a venda de frutos do mar e outros produtos do litoral ocorre todo sábado, na Praça 19 de Dezembro, das 7 às 14 horas.

Feira Direto da Roça e Mar: 9 pontos vendem alimentos de produtores da Grande Curitiba e frutos do mar do Litoral, com a maioria das feiras ocorrendo sábado e domingo pela manhã (apenas a feira do bairro Mercês é realizada sexta-feira e sábado, das 8 às 18 horas).

Feiras Orgânicas: 13 pontos oferecem alimentos livres de agrotóxicos, as terças, quartas, quintas e sábados, pela manhã (apenas a feira do Cristo Reio é noturna, das 17 às 21 horas).

Nossa Feira: 15 pontos vendem, de segunda a sexta, produtos de agricultores familiares da Grande Curitiba diretamente para o consumidor ao preço único de R$ 2,29 o quilo. Além disso, os pontos contam com bancas de pastel, pamonha, pescado, frios e petiscos. As feiras ocorrem a partir das 16 horas (algumas pontos a partir das 17 horas) até 21 horas, de segunda a sexta-feira. No Parolin, uma Nossa Feira ocorre, no sábado, das 9 às 13 horas.