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Educação infantil

Do botão à alimentação: saiba como é o cuidado com as crianças nos CMEIs de Curitiba

Todos os dias, com chuva ou com sol, frio ou calor, 32 mil crianças de 0 a 5 anos de idade - público equivalente à lotação de 130 ônibus biarticulados - saem de casa bem cedinho em direção a um dos mais de 200 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Curitiba. Foto: Gabriel Rosa/SMCS

Todos os dias, com chuva ou com sol, frio ou calor, 32 mil crianças de 0 a 5 anos de idade - público equivalente à lotação de 130 ônibus biarticulados - saem de casa bem cedinho em direção a um dos mais de 200 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Curitiba. A maior parte delas (em torno de 86%) ficará o dia inteiro (das 7h às 18 horas) na unidade, sob os cuidados dos profissionais da área, onde irão brincar, fazer refeições e participar de atividades como leitura de livros, artes e até de informática.

“O CMEI superou minha expectativa. Os profissionais são dedicados, as salas são bem montadas e completas, com materiais, brinquedos e equipamentos de qualidade É a nossa segunda casa”, diz Vanessa Domingues de Oliveira, mãe da pequena Ágatha Gabriele, de um ano e 11 meses, que frequenta o CMEI Fúlvia Rosenberg, no Boqueirão.

A intensa procura pelos CMEIs e o reconhecimento da população se devem a um conjunto de serviços que, além do planejamento pedagógico, inclui aspectos como alimentação especial para crianças com algum tipo de necessidade específica e a montagem da unidade. É um trabalho que começa muito antes de a primeira criança ser matriculada num novo CMEI. O enxoval de cada unidade é formado por mais de 500 itens, em que são levados em conta detalhes como a maciez de uma toalha e o tamanho de um botão.

“O bom atendimento dos CMEIs está ligado também às atividades que precedem a sua instalação, e que o acompanharão permanentemente”, destaca o superintendente executivo da Secretaria Municipal de Educação, Antonio Ulisses Carvalho. Ele se refere às equipes cuja atribuição é justamente equipar e manter as instalações, garantindo as condições necessárias para que todas as tarefas compreendidas no atendimento às crianças sejam desenvolvidas plenamente.

“Um CMEI não pode ser entregue à população e iniciar as atividades sem que esteja plenamente equipado e funcional”, afirma. A aquisição e instalação de todos os materiais e equipamentos compreendidos no enxoval consome de quatro a seis meses de intenso trabalho. A lista básica, composta por mais de 500 itens, inclui o vestuário de bebês, fraldas, roupas de cama, mesa, banho, material de expediente e escolar, cortinas, móveis, eletroeletrônicos, brinquedos, utensílios domésticos, limpeza e até areia do parquinho.

O tamanho do botão

“A compra de cada item requer um cuidado especial, pois precisa atender indicadores de qualidade e de segurança. É importante lembrar que atendemos crianças pequenas, o que exige atenção redobrada, especialmente aos detalhes”, enfatiza a gerente de Logística da Secretaria da Educação, Maria Cristina Brandalize, área responsável por compras.

O mobiliário precisa ter os cantos arredondados, o botão de uma roupa infantil ou as peças de um brinquedo devem ter tamanho adequado, a cor e a qualidade das cortinas vão atender aos padrões e uma toalha de bebê precisa ter a maciez esperada. “Testamos até mesmo um suporte de cortina, para saber se resiste ao ser puxado por uma criança, e sempre efetuamos uma análise minuciosa dos brinquedos a serem adquiridos”, diz Maria Cristina.

As compras costumam ocorrer paralelamente ao andamento das obras e são realizadas por meio de pregões eletrônicos de alcance nacional. Essa abrangência é importante, entre outros motivos, porque aumenta a concorrência e permite localizar fornecedores incomuns, como de poltronas para amamentação ou travesseiros antirrefluxo (para os bebês).

O valor médio do enxoval de um CMEI varia de R$ 150 mil a R$ 200 mil, conforme a capacidade da unidade. A secretaria é responsável também pelo fornecimento dos serviços básicos como água, energia e telefone.

Casos especiais

Além de comprar, transportar e instalar os materiais, a Secretaria da Educação é responsável ainda pela manutenção e reposição dos utensílios, o que inclui até mesmo itens para atender a necessidades especiais. “Algumas crianças apresentam algum tipo de alergia a produtos e materiais ou sensibilidade a alguns alimentos, e precisamos estar preparados para atendê-las”, diz.

Atualmente cerca de 400 crianças atendidas na rede, na educação infantil, necessitam de um regime alimentar especial, devido a algum distúrbio metabólico ou outra necessidade. São casos de diabetes, fenilcetonúria (doença genética causada pela ausência ou pela diminuição da atividade de uma enzima do fígado), entre outros, que exigem ingredientes e cardápios especiais. Em todos os CMEIs, crianças com até 2 anos de idade recebem cinco refeições por dia, e as maiores, quatro.

Os materiais a serem supridos e mantidos compreendem todas as áreas de um CMEI, incluídos o berçário, salas de maternal e da pré-escola, lactário (para preparação de alimentos para bebês e crianças de até 1,5 ano), lavanderia, banheiros (adulto e infantil), fraldário, depósito, refeitório, cozinha e sala de administração, além dos espaços externos (solário, parquinho e jardim).

Cuidar e educar

Toda essa infraestrutura tem como objetivo principal criar o melhor ambiente para o cuidado e a formação das crianças. “Trabalhamos focados em cuidar e educar”, resume Maria da Gloria Galeb, diretora de Educação Infantil da SME, destacando as mudanças conceituais da educação infantil, introduzidas a partir de 2013, que deram uma nova dimensão às atividades dos CMEIs.

“O conceito de creche como uma instituição assistencialista ou preparatória para o Ensino Fundamental foi superado. Um CMEI deve oferecer um ambiente em que as práticas sociais reais estejam presentes”, observa. Essa mudança é reforçada com a introdução do pedagogo na estrutura, para auxiliar no planejamento das atividades. “Hoje os conhecimentos próprios das crianças são valorizados e a função do professor de educação infantil é articular estes saberes e experiências ao patrimônio de conhecimento da humanidade”, acrescenta.

As temáticas das atividades passam a ser as de real interesse das crianças e até o comportamento e atitudes dos professores foram alterados. “Antes, os professores entregavam os materiais, hoje eles estão ao alcance e são escolhidos pelas próprias crianças. Os professores produziam os materiais para decorar as paredes e agora são as produções infantis que ocupam os espaços e decoram a escola”, explica.

Entre as diversas atividades desenvolvidas, estão as rodas de conversas, a leitura de livros, as práticas de movimento (para que as crianças conheçam suas capacidades corporais), as artes (no sentido amplo). Mesmo na hora de brincar, muitas mensagens são trabalhadas e é por isso, por exemplo, que o acervo de brinquedos dos CMEIs atendem a importantes exigências.

“Um bom exemplo é o das bonecas. Trabalhamos com bonecas negras, brancas, asiáticas e também com Síndrome de Down. As diferenças fazem parte das nossas vidas e é importante que as crianças percebam e convivam com elas com naturalidade”, diz.

Atendimento integral

Curitiba é a capital brasileira que atende o maior percentual de crianças de 0 a 5 anos com educação em tempo integral na rede pública. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira (Inep) mostram que 86% das crianças dessa faixa etária matriculadas em 2015 ficavam de sete a 11 horas por dia nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs).

Neste primeiro semestre foram inaugurados seis novos CMEIs e outros dez serão entregues à população até o fim do ano. Outros nove estão em construção, para serem inaugurados em 2017, além de nove unidades que foram colocadas em funcionamento entre 2013 e 2014. A área construída de um CMEI varia entre 600 e 960 metros quadrados e uma unidade pode abrigar 116, 150 ou 200 crianças.

Ao todo, o investimento na construção de uma unidade varia entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões. Estes são também os valores estimados na manutenção anual de cada unidade, ou seja, o valor total de custeio dos 205 CMEIs instalados em Curitiba é da ordem de R$ 320 milhões por ano, o que significa um custo de R$ 740,00 mensais por criança, o equivalente a quase R$ 9 mil por ano. Trabalham hoje nos CMEIs aproximadamente cinco mil funcionários efetivos, além de outros 1,2 mil terceirizados (serviços de limpeza, conservação e alimentação).