Abrir vagas de centro-dia para pessoas idosas está nos planos da equipe do Centro de Assistência Social Divina Misericórdia (CASDM), na CIC. Há 43 anos, essa organização da sociedade civil (OSC) começou a atender crianças, adolescentes e pessoas com mais de 60 anos em situação de vulnerabilidade. Hoje, com a ajuda da destinação de recursos do Imposto de Renda (IR), além do apoio da Prefeitura e de empresas, o CASDM beneficia mais de 500 pessoas com atividades culturais, esportivas, de lazer e refeições. A entidade é conveniada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano (SMDH).
O serviço idealizado, conta a responsável pelo setor de projetos da entidade, a religiosa Emily Luci Buch, poderá funcionar em duas de suas quatro unidades: no Centro de Convivência para Pessoas Idosas Divina Misericórdia (Cecopi) e também no Centro Intergeracional Divina Misericórdia (CEIDM). “Percebemos que essa é uma demanda da comunidade e que pode ser suprida com a ajuda dos contribuintes do IR”, diz Irmã Emily. Os centro-dia beneficiariam os idosos de famílias de baixa renda, que não podem pagar pelo serviço de um cuidador para ficar com eles enquanto trabalham.
Curitiba foi a segunda capital que mais destinou recursos do Imposto de Renda a pagar para projetos sociais, em 2023, com 0,37% do potencial de arrecadação. A primeira foi Belo Horizonte, com 0,42%. Os dados estão no relatório “Grandes Números IRPF”, divulgado este ano pela Receita Federal.
Resultado que se vê
Vem da destinação do Imposto de Renda (IR) todo o dinheiro empregado, anualmente, para manter o Cecopi. São cerca de R$ 700 mil anuais de custeio integralmente coberto com o recurso, suficientes para cobrir despesas com atividades culturais, de lazer, oficinas de informática e práticas físicas para 150 idosos da comunidade Santa Helena, uma das vilas da CIC – o bairro mais populoso de Curitiba.
“Aqui é 100% IR. O que não vem da captação direta, vem dos fundos. Bom seria se pudéssemos ter situação semelhante nos demais espaços”, observa a Irmã Emily. O local é usado pelos idosos encaminhados pelo Cras (Centro de Referência da Assistência Social) todos os dias, de manhã e à tarde. Além de suporte em Psicologia, salas de informática e trabalhos manuais, eles participam de atividades de lazer coletivas.
A professora aposentada Adair Silvério Salton, de 84 anos, e o cabeleireiro também aposentado José Nunes, de 73, estão entre os atendidos. “Isso aqui é vida nova, remédio pra tristeza”, resume Adair, que tem marido, filhos, netos e bisnetos. Já para José, que tem três filhos, três netos, mas mora sozinho, ir ao Cecopi funciona como incentivo para se manter longe do álcool e outras drogas. “Aqui é um lugar especial, maravilhoso”, define.
Cultivando talentos
Já no bairro São Miguel funciona a maior unidade de atendimento do centro social. É o Centro de Integração Social Divina Misericórdia (Cisdimi), que recebe diariamente crianças e adolescentes de 6 a 17 anos interessados em atividades culturais, ecológicas e esportivas como judô e futebol.
É o caso da dominicana Wilanchie Alessandre, de 11 anos e 6 vividos em Curitiba, que pratica as duas modalidades. “Esporte não é só educação. É compromisso, respeito, controle das próprias emoções. É pra vida”, diz. Já Pablo Henrique Correia de Camargo, de 12 anos, está inscrito em quatro práticas. Além do futebol e do judô, onde é colega de turma de Wilanchie, também participa das oficinas de percussão e grafite. “Aqui a gente convive com quem gosta e aprende coisas que gosta também”, diz o adolescente, que cultiva o projeto de se dedicar ao futebol ou à tecnologia da informação.
O trabalho desenvolvido no Cisdimi já apresenta resultados. O espaço possui um grupo de dança contemporânea premiado em eventos locais, um time de futebol feminino focado em fazer bonito no mundial a ser disputado em Foz do Iguaçu, em dezembro, e ajudou a encaminhar uma promessa do futebol profissional: o jovem Naylan, selecionado para treinar na base do Grêmio porto-alegrense.
Na ampla área onde funciona o Cisdimi, as práticas relacionadas ao meio ambiente têm lugar especial. Sustentável, o local conta com compostagem dos resíduos orgânicos e cisterna para captação da água da chuva. É ali que está sendo formada a Agrofloresta Papa Francisco, onde começam a conviver a cultura de verduras, banana e mandioca.
Todos juntos
Na unidade do Sabará, também na CIC, crianças de 4 a 8 anos e idosos participam de atividades específicas e se encontram nos intervalos. Desses encontros nasceu, graças ao esforço coletivo, a alegre pintura de uma das paredes do Centro Intergeracional Divina Misericórdia (CEIDM). Lá, conta a religiosa Emily Buch, 90% das despesas são custadas com recursos destinados pelos contribuintes do IR.
Entre seus frequentadores está a técnica de laboratório aposentada Maria Elisa de Oliveira, de 72 anos, e a neta Ana Carolina Ferreira Martins, de 8, que vão juntas para as oficinas. “O importante é não ficar em casa e fazer coisas que te desenvolvam. Gosto muito de artesanato, pilates e dança”, conta.
Neusa Bergo tem 64 anos e, no mesmo CEIDM, encontrou a oportunidade de fazer o que não tinha sido possível até então: ler e escrever. “Aqui comecei a saber o que é escrever meu nome, ver horas e ler”, conta a idosa que veio da região de Campo Mourão, no interior do Paraná, e não pretende parar de aprender. “Agora estou indo nas aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos)”, revela, empolgada. Já para a sergipana Josefa Batista, de 69 anos, ir ao CEIDM é combater a depressão. “Estar com os outros ensina a superar a tristeza ou passar por cima dela”, ensina.