Qual a cor dos olhos de Deus? Foi essa a pergunta que norteou um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos três meses no Centro POP Doutor Faivre, unidade da FAS SOS que atende pessoas em situação de rua na região central de Curitiba. A provocação guiou debates, reflexões e vivências sobre racismo e diversidade étnico-racial dentro do 2º ciclo de palestras e debates Diversidade Étnico-Racial e as Raízes Históricas da Colonização nas Américas, encerrado na tarde desta segunda-feira (17/11).
A pergunta, segundo os organizadores, foi feita para mostrar que todas as pessoas são iguais, independente de religião, cor da pele ou opinião. A iniciativa, realizada desde setembro, envolveu rodas de conversa e de leitura, exibição de documentários da National Geographic e discussões sobre a história dos povos indígenas e das civilizações pré-colombianas, além dos impactos da colonização europeia e suas consequências nos dias atuais.
O educador social Arno Emílio Gerstenberger Júnior, responsável pelo projeto, explicou que o objetivo foi proporcionar conhecimento teórico e prático para que diferenças de cor, raça, etnia, religião e classe social sejam entendidas como elementos de uma sociedade plural, livre de racismo e discriminação. As atividades também marcaram o mês da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
Acolhido na Casa de Passagem Doutor Faivre, que também funciona na FAS SOS, Gustavo Vinícius Lopes conta que o projeto ampliou sua visão de mundo. “O que posso dizer é que ter cultura não requer apenas discernimento, entendimento ou educação. A cultura influencia muito no reconhecimento das pessoas, no caráter, nas influências e tudo mais”, explicou Gustavo, que é pizzaiolo.
Ele relata que a convivência com o grupo transformou seu cotidiano.
“Hoje em dia eu agradeço por ter essa convivência com eles, porque eu nunca vi diferença entre a gente. Aqui eu me sinto em casa, porque são vários tipos de pessoas e várias circunstâncias diferentes”, afirmou Gustavo.
Exposição e música
No encontro de encerramento teve palestra sobre diversidade étnico-racial, apresentação cultural do grupo Batuque Formiga, projeto social e musical de São José dos Pinhais que usa a música e a percussão como ferramentas de inclusão e uma exposição de livros, materiais e produções realizadas pelos participantes ao longo dos três meses.
O projeto abordou a história dos povos primitivos e populações tradicionais das Américas do Sul e Central, o resgate das civilizações pré-colombianas (incas, maias e astecas), o descobrimento das Américas e a colonização europeia, passando pelo tráfico de pessoas escravizadas até a análise das questões raciais na atualidade. A proposta se alinha a um trabalho mais amplo da FAS de promoção de direitos, combate ao racismo e valorização da diversidade étnico-racial.
Participação
De acordo com Arno, o projeto tem uma grande participação dos usuários dos serviços do Centro POP. “Eles se sentem muito representados. Primeiro, por estarem muitas vezes na rua, em situações de periculosidade, segundo, pela cor da pele, e porque são muito discriminados no dia a dia. Então, eles se identificam muito com o tema e participam bastante.”
Para Arno, as atividades têm contribuído para uma mudança profunda nas relações. “Tudo isso colabora para que eles quebrem paradigmas e preconceitos e aceitem a diversidade, de pensamento, de religião, de classe social, de cor de pele e consigam viver mais harmoniosamente entre si. A gente nota que esse convívio está acontecendo.”