Com cerâmica fria, tinta e pincéis, mães e filhos acolhidos na Pousada de Maria, unidade da Fundação de Ação Social (FAS) que recebe mulheres vítimas de violência, participaram de uma oficina de escultura nesta quarta-feira (23/7). A Oficina de Escultura Esculpindo Curitiba! foi promovida pela equipe educativa do Memorial Paranista, que pertence à Fundação Cultural de Curitiba (FCC).
Transformada em um ateliê, a unidade deu espaço à arte e à imaginação das famílias. Para muitas, foi uma oportunidade de criar, mas também de relaxar. “Gostei muito da oficina, foi um momento relaxante, com gosto de infância”, disse Maria (nome fictício), 26 anos, que modelou uma pequena capivara como presente para a filha de 4 anos, acolhida em outra unidade. Ao lado da filha menor, de 2 anos, Maria também registrou no papel as pequenas mãos da menina pintadas, para guardar de recordação.
Criatividade
Sob orientação de Victória Velazquez e Thayna Bressan, o grupo moldou figuras como capivaras, corações, estrelas, personagens infantis, paisagens e até um campo de futebol. O momento se transformou em diversão e cuidado entre mães e filhos.
Para Sirlete (nome fictício), 32 anos, que participou da oficina com duas filhas, a experiência foi surpreendente. “Achei que seria algo só para ouvir, mas pudemos colocar a mão na massa. Foi muito bom”, contou, enquanto moldava o rosto da personagem Minnie com a habilidade que guardava dos tempos em que pintava peças de gesso.
Já Raquel (nome fictício), 8 anos, usou a cerâmica para modelar corações que foram pintados de verde e vermelho. “Foi muito divertido, principalmente na parte da pintura”, disse ela, que é apaixonada por desenho.
Arte como ponte de acesso
A diretora-executiva do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac), Juliana Midori, disse que a realização da oficina na Pousada de Maria mostra como a arte pode trazer, alegria, alento e diversão. “Promover a oficina para essas mulheres e crianças é levar um respiro para elas, no momento difícil no qual estão passando”, comentou.
O supervisor do Memorial Paranista, Raul de Freitas, também falou da importância de levar a arte para espaços de acolhimento. “É uma forma de irmos até as pessoas que não têm a oportunidade de acessar a arte, seja pela distância, pela rotina ou pelas circunstâncias de vida”, afirmou.
A Oficina de Escultura Esculpindo Curitiba! tem sido levada a diferentes regiões da cidade, como o Teatro da Vila, na CIC, para alcançar públicos diversos com oficinas gratuitas.
Fortalecimento emocional
Para a coordenadora da Pousada de Maria, Paula Feitosa, a oficina contribuiu de maneira sensível no processo de reconstrução vivenciado pelas acolhidas. “Momentos como esse reconectam a mulher com suas histórias de vida. Um espaço seguro para expressarem seus sentimentos, vivências, percepções de capacidade e independência”, disse. “Além disso, oportuniza às mães a interação com seus filhos, fortalecendo vínculos afetivos e criando memórias positivas, essenciais para superação de violência a que foram expostos.”
Criada em 1993, a Pousada de Maria foi a primeira unidade de acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica do Brasil. Ela oferece um serviço de apoio e orientação psicossocial para mulheres, com acompanhamento técnico durante o período em que permanecem na unidade. Esse trabalho busca fortalecer a autoestima das mulheres por meio de atividades individuais e em grupo, além de preparar profissionalmente para oportunidades futuras.
As crianças e os adolescentes que acompanham as mães também recebem atenção, com atividades socioeducativas apropriadas para cada faixa etária e encaminhamentos para políticas públicas que atendam suas necessidades.
Dependendo da demanda de cada família, tanto as mulheres quanto os filhos são encaminhados a outros serviços da rede de atendimento, que incluem saúde, educação, sistema de justiça (como delegacias e Defensoria Pública) e suporte para emissão de documentos. A instituição ainda oferece acesso a cursos profissionalizantes e apoio para o cadastramento e entrevistas de emprego.