O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) realizou o workshop “Curitiba + 50”. Voltado ao corpo técnico da instituição, o evento contou com profissionais que trouxeram temas como a importância da biodiversidade no espaço urbano, a questão energética e o papel das grandes cidades, as alternativas para o planejamento urbano e a metodologia e o papel da pesquisa Origem e Destino que será realizada a partir de janeiro de 2016. O evento fez parte da Semana Técnica de Planejamento Urbano, que integra as celebrações pelos 50 Anos do Ippuc, completados no dia 1º de dezembro.
O tema biodiversidade no espaço urbano foi apresentado por Betina Bruel, bióloga que trabalha na Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Ela fez um balanço sobre a destruição das florestas do estado do Paraná que, até 1890, era quase 100% coberto por vegetação nativa. Na atualidade, restam apenas 13% compostos por fragmentos arbóreos. Um dos biomas mais afetados é a Floresta com Araucária, composição florestal característica da região de Curitiba, do qual sobrou, em bom estado de conservação, cerca de 1%
Segundo a especialista, apesar do quadro desalentador, Curitiba ainda tem a vantagem de contar com uma grande quantidade de áreas verdes, públicas e privadas, que somam 26% da área do município e permitem que se chegue ao índice de 64,5 m2 de área verde por habitante. A bióloga Betina Bruel explicou que os serviços ecossistêmicos prestados por essas porções florestais são imensos: captação de CO2 da atmosfera pelas plantas e consequente redução do efeito estufa, regulação climática, conforto acústico e térmico, melhoria da qualidade do solo, aumento da capacidade de resistir aos eventos climáticos extremos e abastecimento de água, entre muitos outros. “Todos os projetos precisam levar em conta essa realidade, pois os serviços ecossistêmicos asseguram melhor qualidade de vida para a população que vive na cidade, além de gerar espaços de encontro e de lazer”, destacou Betina Bruel.
Na sequência, o engenheiro Jorge Andriguetto abordou a produção e o uso da energia nas cidades. Segundo ele, a população mundial começou a aumentar quando os seres humanos deixaram de ser caçadores e coletores para se fixar à terra como agricultores. Até 12 mil anos atrás, a população era estimada em cerca de 10 milhões de pessoas. Porém, em 1850, já tínhamos um bilhão de habitantes e, na atualidade, chegamos a 7,2 bilhões de pessoas. De toda essa gente, 54% vivem nas cidades. E, no Brasil, as cidades ocupam 0,25% de todo o território. “Temos de planejar as cidades levando em conta a necessidade de eficiência na produção, transmissão e uso da energia. Também precisamos encontrar meios de encontrar a eficiência energética, sem desperdícios”, concluiu.
O economista e urbanista Alberto Paranhos, do Observatório Urbano Global/ONU, falou sobre os desafios e as oportunidades das cidades na nova agenda internacional. Segundo ele, o foco mundial, incluindo os estudos de grandes pensadores, voltou-se para a vida nas cidades, sempre levando em conta o desenvolvimento sustentável. Isso se dá porque é inegável o poder transformador da urbanização e do planejamento urbano aliado ao design nos agrupamentos humanos. Sendo assim, financiamentos nacionais e internacionais, assim como políticas voltadas às cidades, começam a surgir com mais ênfase.
As mudanças no cenário que, paulatinamente, vão se tornando mais amigáveis para os municípios, levam em conta a necessidade de enfrentar grandes desafios como: habitação, produtividade e governança, densidade populacional, melhoria da eficiência dos serviços, crise hídrica, produção e racionalização no uso da energia, expansão das áreas de periferia e conurbação dos grandes centros urbanos. “Grandes projetos que buscam soluções para esses problemas começam a ganhar espaço nos organismos internacionais. Também é preciso estreitar laços com cidades de todas as partes do mundo, para compartilhar experiências e encontrar novas soluções, buscando sempre trabalhar com os enfoques social, econômico e ambiental”, avaliou Alberto Paranhos.
Por fim, os engenheiros João Carlos Scatena, André Azevedo Remedio e Washington Luis Reis abordaram o tema Pesquisa Origem e Destino – Modelos de Transporte e Plano de Mobilidade. Vinculados ao consórcio que, a partir de janeiro de 2016, dará início à pesquisa de campo para traçar o panorama dos deslocamentos e as demandas do transporte em Curitiba e na Região Metropolitana, eles apresentaram mais detalhes sobre a metodologia a ser utilizada.
A Pesquisa Origem e Destino
Realizada com recursos da Prefeitura Municipal de Curitiba e Agência Francesa de Desenvolvimento, a Pesquisa de Origem e Destino está orçada em R$ 6 milhões e 34 mil e vai abranger 14 municípios da Região Metropolitana de Curitiba: Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Contenda, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Mandirituba, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e São José dos Pinhais.
Serão três frentes de pesquisa. A principal delas será composta pelas entrevistas domiciliares, em mais de 60 mil residências, para identificar os hábitos de deslocamento: aonde vão, com que frequência, porque usam determinados meios de transporte, porque não usam outros, o que gostariam de usar e dificuldades enfrentadas. As entrevistas nos domicílios deverão ter início em janeiro de 2016.
A segunda frente de pesquisa será a contagem volumétrica e de velocidade de veículos que deverá ser realizada em duas fases: entre março e junho e, mais tarde, entre agosto e novembro de 2016 – meses em que os fluxos de deslocamentos são considerados típicos, pois as escolas, o comércio e o setor de serviços funcionam normalmente.
Serão contabilizados quantos veículos passam pelos locais escolhidos, quantas pessoas há dentro dos carros de passeio, quais são os tipos de veículos e, ainda, quantas pessoas transitam a pé. No caso dos veículos de carga, o condutor será abordado para o levantamento de dados específicos: o tipo de carga que está levando, de onde veio, para onde vai. Os locais de realização desta segunda fase da pesquisa serão indicados pela Prefeitura Municipal de Curitiba. No entanto, não haverá divulgação prévia desses locais, assim como das datas de realização das medições, para que não ocorram distorções na pesquisa.
O terceiro tipo de levantamento compreendido pela Pesquisa de Origem e Destino é de opinião. As pessoas serão abordadas nas ruas, em locais de grande concentração, ou por telefone. As perguntas dirão respeito ao grau de satisfação com o transporte coletivo, com o sistema viário e com o trânsito em geral, além dos problemas enfrentados e trajetos não atendidos. O prazo para a entrega da pesquisa ao município, já com os resultados tabulados, será de 18 meses a partir da assinatura do contrato.