Garantir uma alimentação saudável, equilibrada e humanizada para crianças e adolescentes acolhidos por medida protetiva é uma missão levada a sério pela Fundação de Ação Social (FAS). Por trás de cada refeição servida nas oito unidades próprias que acolhem 155 crianças e adolescentes há um extenso processo técnico e cuidadoso de responsabilidade de uma profissional da área de nutrição.
Para o presidente da FAS, Renan de Oliveira Rodrigues, o cuidado com a alimentação vai além da nutrição física, é também um gesto de carinho, um reforço de dignidade e uma forma de construir vínculos. “A alimentação que a FAS oferece é um importante fator de aproximação e formação de novas memórias, já que muitos dos nossos atendidos vêm de histórias complexas e tristes”, afirma.
A nutricionista Carolina Câmara, que há 15 anos cuida dos cardápios de unidades de acolhimento da FAS que atendem crianças, adolescentes e adultos, diz que alimentação vai além de simplesmente nutrir o corpo.
“As pessoas que atendemos já têm tão pouco na vida e histórias tão impactantes que trabalhamos para oferecer o melhor para cada um”, explica Carolina.
Planejamento
O trabalho começa com uma análise das necessidades nutricionais e de possíveis melhorias na composição das refeições. O objetivo, segundo Carolina, é oferecer uma alimentação variada e de qualidade. “Procuro incluir alimentos diferentes, como palmito, azeitona, bife de frango à rolê. Essa variedade ajuda a criar novas memórias afetivas para os acolhidos”, explica.
Os gêneros alimentícios são divididos em dois grandes grupos: perecíveis, como carnes, pães, leite, frios e hortifrútis, que chegam a 111 itens, e os da cesta básica, que somam 109 itens.
A seleção é feita seguindo sugestões das unidades de acolhimento, que conhecem melhor as preferências dos acolhidos.
Critério e responsabilidade
Após a definição, são realizados os orçamentos e elaboradas as orientações técnicas. Uma das etapas mais importantes do processo é a análise sensorial das amostras, feita na Cozinha Experimental, que fica na sede da FAS. “É um momento essencial para garantir que as marcas fornecidas tenham qualidade. Quando o produto não atende ao padrão esperado, ele é reprovado”, destaca Carolina.
As entregas seguem um cronograma criterioso, os alimentos da cesta básica são adquiridos pelo setor de almoxarifado e entregues mensalmente. Já os perecíveis são enviados diretamente às unidades, pães três vezes por semana; hortifrútis, duas vezes; carnes, semanalmente; e leite, frios e derivados de forma semanal ou quinzenal.
Atenção e acolhimento
O adolescente L.G., de 13 anos, vive em uma unidade da FAS desde outubro do ano passado e diz que a comida é uma das coisas de que mais gosta no local. “Gosto de salada, arroz e carne. Às vezes até repito. No fim de semana, quando assam carne, é ainda melhor”, conta o menino.
V.G., de 15 anos, tem preferência por pratos simples. “Arroz e feijão são os meus preferidos. Não como salada nem pão, mas gosto do café preto pra acordar. Na janta como tudo, só não peixe, porque sou alérgico, aí peço um ovo, que gosto mais”, diz. Ele também fala com carinho sobre os passeios. “Gosto quando vamos no Parque Barigui ver os carros antigos. Leva fruta, bolacha, é tipo um piquenique.”
A rotina alimentar na unidade inclui café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e até um lanche à noite. “Antes de dormir, tem chá com bolacha. Às vezes tem pão com hambúrguer e até bombom”, completa V.G.
As datas especiais, como aniversários, são comemoradas com festas individuais com bolo, salgadinho, refrigerante, doce e gelatina colorida.
J.P., de 17 anos, chegou à unidade em dezembro de 2023 com 160 quilos. Após atendimento com endocrinologista e uma mudança na alimentação da casa, já eliminou 30 quilos. “Todo mundo começou a comer melhor”, contou o jovem, que também passou a fazer atividade física no Clube da Gente CIC.