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Cuidado Apoiado

Livro digital traz estratégia de Curitiba na área da Saúde

Está disponível para download a publicação “Autocuidado Apoiado / Manual do Profissional de Saúde”, que relata a implantação da experiência na Unidade de Saúde Alvorada – a primeira das seis unidades municipais de saúde a integrar o Laboratório de Inovação em Saúde da Organização Panamericana de Saúde (Opas) na área de atenção básica.

Está disponível para download a publicação “Autocuidado Apoiado / Manual do Profissional de Saúde”, que relata a implantação da experiência na Unidade de Saúde Alvorada – a primeira das seis unidades municipais de saúde a integrar o Laboratório de Inovação em Saúde da Organização Panamericana de Saúde (Opas) na área de atenção básica. Os interessados em conhecer os primeiros resultados da experiência devem acessar o site www.apsredes.org, o Portal da Inovação da Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, que traz o assunto em destaque. 

Em pouco mais de noventa páginas escritas por técnicos da Secretaria Municipal da Saúde, o livro relata desde a preparação da equipe para a incorporação da estratégia até a abordagem dos pacientes da Unidade de Saúde para participar dessa nova forma de abordar os problemas de saúde a partir dos fatores que os desencadeiam e alimentam. Até março, a experiência poderá ser vista também em vídeo, em fase de elaboração pela Opas. Nessa terça-feira (11), a secretária municipal da Saúde, Eliane Chomatas, gravou depoimento para a equipe encarregada do documentário.

Na prática, a obra resume a saga vivida desde meados de 2011 pela Unidade Alvorada na condição de centro de monitoramento e abordagem dos fatores comportamentais que, quando não modificados pela população, contribuem para o desenvolvimento e o agravamento de doenças como diabete, pressão alta e depressão. As duas primeiras afetam cerca de 190 mil curitibanos usuários da rede pública de saúde, enquanto a última incide de 4% a 11% da população. Por isso, o controle eficiente de cada uma é considerado pelo Ministério da Saúde como um desafio a ser vencido.

“Ser selecionada pela Opas como laboratório e poder ver essa experiência contada é o reconhecimento de que Curitiba reúne as condições favoráveis para a implantação de novas tecnologias, além de uma equipe com competência técnica e garra para usá-las em benefício da comunidade”, observou a diretora do Centro de Informação da SMS, Raquel Cubas.

Virada - A experiência ainda é recente, mas a equipe da Unidade Alvorada, no Uberaba, vem observando mudanças na saúde de seus pacientes. De um ano e meio para cá, não foram mais registradas entradas no Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) da região para estabilizar quadros agudos intensos de doenças como diabete, pressão alta e depressão nem solicitadas consultas extras – que acontecem quando o paciente apresenta alguma alteração antes da visita programada ao médico. Ao mesmo tempo, a prescrição e o consumo de medicamentos desceram 15%, enquanto a necessidade de exames caiu pela metade.

Esses resultados coincidem com a implantação da estratégia de autocuidado compartilhado. Essa proposta para enfrentamento das doenças crônicas é o motivo para a Organização Panamericana de Saúde (Opas) ter escolhido Curitiba para ser o primeiro laboratório brasileiro de inovação no manejo de condições crônicas em unidades básicas.

Nessa linha, o autocuidado apoiado veio para criar nos pacientes crônicos a consciência sobre a responsabilidade de cada um quanto ao seu estado de saúde-doença, motivando-os a reorganizar toda a sua rotina – o que envolve fatores como alimentação, atividade física e lazer – no sentido do ganho de qualidade de vida.

Instrumentos - Para isso, o trabalho de transformação dos pacientes em agentes da própria saúde acontece no consultório do médico, durante as consultas programadas de acompanhamento, e nas reuniões mensais de manutenção com a equipe multiprofissional do Naaps – o Núcleo de Apoio em Atenção Primária à Saúde.

Na Unidade Alvorada, a nutricionista Lúcia Sumie Omi, a psicóloga Caroline Souza Nascimento, o educador físico Kaimi Costa e o farmacêutico Osvaldo Pontarolo Vaz dão suporte às intervenções propostas pelos médicos e pela equipe de enfermagem. Isso significa tirar as dúvidas mais freqüentes e sugerir a reorganização gradativa da rotina dos pacientes de acordo com variáveis socioeconômicas – medidas que, pelo depoimento dos profissionais de saúde, estão funcionando.

“Aumentou a adesão dos pacientes no sentido da eficiência da prática física. Hoje, quando alguém falta aula e me encontra na rua, vem explicar porque não compareceu mas que está andando bastante”, exemplifica Kaimi.

Estímulos - “A diferença é que, agora, Unidade de Saúde e pacientes estão andando cada vez mais de braço dado”, resume o generalista Cláudio Alvino da Silva. “Os pacientes já perceberam que apenas a garantia de consulta, remédio e exame, isoladamente, não é sinônimo de saúde boa se eles não se esforçarem para vencer os fatores que os colocam doentes”, completa o médico, que aproveita as visitas à casa dos pacientes para conferir, na prática, como eles estão adaptando suas rotinas.

Silva trabalha há 8 anos na rede municipal de saúde e desde o início do ano na Alvorada, com cerca de 10 mil habitantes em sua área de abrangência. Desse total, 2,5 mil pessoas – entre usuários e não usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) - têm patologias crônicas de diversos graus. Perto de 210 fazem acompanhamento regular na unidade de saúde e seguem à risca as dicas – e não mandamentos – da equipe formada, além do médico, por uma enfermeira, dentistas, auxiliares, nutricionista, farmacêutico e psicóloga.

Superação - A aposentada e representante comunitária Maria de Jesus Pereira Lima ajuda a explicar o resultado. Com 70 anos mas aparentando não mais que 60, conseguiu acelerar a perda de peso, chegando a 64 quilos. Uma vitória para quem já chegou a ter 80 e, por causa da pressão, tomar diversas unidades diárias de comprimidos de dois medicamentos diferentes.

Hoje, graças a transformação que fez em sua alimentação – na casa dela não há lugar para refrigerantes ou frituras e a carne vermelha é dispensável - e à prática física na academia ao ar livre do bairro, Maria ajuda a equipe da unidade a convidar as pessoas para as reuniões mensais dos grupos de manutenção, divididos em cores de acordo com à predisposição para o adoecimento em razão dos fatores de risco social. O vermelho reúne os doentes crônicos mais suscetíveis, o amarelo os que podem ter suas condições agravadas e verde os menos suscetíveis.

A virada começou com a perda da mãe, de quem cuidou ao longo de 8 anos, antes da implantação da proposta do cuidado compartilhado. Para a aposentada, agora os pacientes têm mais vantagens. “Antes era mais palestra e as pessoas se expressavam pouco. Agora elas contam como estão fazendo para melhorar e acabam motivando as outras a tomar uma atitude prática. A gente não segue simplesmente uma recomendação: incorpora na prática porque entende a utilidade”, diz. “Estou muito satisfeita”, completa.

A ex cantineira Sueli Terezinha Fritzen, de 61 anos, mudou-se para o Uberaba mais ou menos na mesma época em que o o autocuidado apoiado começava a ser implantado. Foi quando ela e a filha deixaram a casa onde moravam com outros familiares, no Cristo Rei: “Parei de cuidar dos outros e estou cuidando de mim. Meu dia, agora, é pra mim”, conta a hipertensa, que também define o estágio atual de vida como “uma fase privilegiada”. “Não como gordura, faço atividade física leve e já perdi 3 quilos porque sei que isso é necessário para controlar a pressão alta e viver com qualidade”, conta ela, que desceu de 92 para 89 quilos.

Como tantos outros pacientes, Sueli anota os progressos na ficha criada pela equipe da Unidade de Saúde para acompanhamento. O material está sendo substituído pelo caderno de exercícios do autocuidado apoiado, que acaba de ser lançado pela Secretaria Municipal da Saúde, com o manual destinado aos profissionais de saúde. O material traz dicas, explicações e, como um diário, espaço para registros relacionados a alimentação, medicamentos, atividade física e lazer.

“Coloquei mais atividade física e comida saudável na minha vida. Sal não tem lugar na minha mesa. Em compensação, tomo menos remédio pra pressão alta”, conta a viúva Maria da Silva Plácido, uma dona de casa que tem 67 anos de vida, treze filhos, “uns trinta netos”, estima ela, e três bisnetos. “Vivo bem porque eles aí (na Unidade de Saúde) mostram o caminho. Segue quem quer”, completa ela, revelando mais alguns segredos de boa saúde: não fuma, não bebe e anda bastante.

O outro lado - Mas não são somente os pacientes que ganham com o a proposta. Ela acaba interferindo diretamente na rotina dos trabalhadores da unidade, que passaram a se colocar no lugar dos pacientes. É o caso da auxiliar de enfermagem Luciana Ferreira Freire e da enfermeira Cláudia Campoi Roman, que começaram a desenvolver uma prática regular de atividade física.

Luciana matriculou-se numa academia de ginástica, que freqüenta duas vezes por semana. A rotina é intercalada com caminhadas na esteira instalada em casa. Já Cláudia está fazendo ginástica localizada e step. “Ao invés de cobrar ou orientar prática física, motivamos com o nosso exemplo. Nós fazemos algo que dizemos que é bom e que eles, pacientes, devem fazer também. Com isso, com certeza estamos melhores física e emocionalmente”, explica Luciana, de 36 anos e há 5 na rede municipal de saúde.

Essa identificação, conta Luciana, leva os profissionais de saúde a terem mais paciência com o ritmo dos pacientes – que nem sempre correspondem na mesma velocidade esperada. É o caso da alimentação nada saudável do aposentado Antônio Ferreira da Silva, de 77 anos, à base de torresmo no café da manhã.

Seo Antônio, que comia o alimento declaradas três vezes por semana, comprometeu-se com a auxiliar em reduzir a ingestão para duas vezes por semana. “Não tenho o direito de imaginar que, da noite para o dia, uma pessoa nessa idade vai concordar com a mudança de um hábito que ele deve cultivar desde criança. A redução desse tipo de alimento na dieta, por pequena que ainda seja, é um indício de um começo, de que ele está aberto à mudança”, conclui.