O asfalto chegou na Avenida República Argentina em 1952. Antes disso, a artéria era de chão batido como a maior parte da malha viária de Curitiba na época.
A chegada das equipes e a movimentação das máquinas foram registradas em fotografias que estão sob a guarda do Departamento de Gestão do Arquivo Público Municipal da Prefeitura de Curitiba. Uma dessas imagens mostra ao fundo um bonde elétrico que fazia a linha do bairro Portão e tem importância histórica redobrada, uma vez que 1952 foi o último ano em que os bondes circularam na capital.
Este registro da história da formação da cidade e muitas outras preciosidades são apenas uma amostra do rico acervo do Arquivo Público Municipal, unidade da Secretaria de Administração e Tecnologia da Informação (Smati).
“Por meio do empenho e profissionalismo dos servidores e colaboradores, cada registro segue cuidadosamente preservado, garantindo que a memória de Curitiba continue viva e acessível a todas as próximas gerações”, afirma o secretário da Smati, Elisandro Frigo.
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Elisandro Frigo, secretário de Administração e Tecnologia da Informação.
Dia dos Arquivos
No Dia Internacional dos Arquivos, comemorado nesta segunda-feira (9/6), os gestores do Arquivo Público querem chamar os curitibanos para mergulhar na história da cidade, que zelosamente é guardada e cuidada numa estrutura de 2.500 metros quadrados, na Rua João Bettega, 3.350, no bairro CIC.
“Nós queremos mostrar para as pessoas que existe uma história e ela está guardada aqui. Quem conhece de onde veio e compreende onde está, sabe para onde vai. Então nós queremos mostrar isso para os jovens em uma linguagem que eles entendam que isso existe e é importante”, disse a diretora do Arquivo Público Municipal, Karla Martinelli.
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Karla Martinelli, diretora do Arquivo Público Municipal.
Muita história para contar
No dia 1° de julho, o Arquivo Público Municipal completa 21 anos de existência, mas com muita história para contar. Afinal, ele foi criado em 2004, mas guarda documentos que relatam a história de Curitiba desde 1797, data do item mais antigo, o livro de foro do rocio, com os registros do que acontecia na cidade. Naquele ano, Curitiba, que hoje tem 332 anos, já era centenária.
“Nosso objetivo é fazer com que as pessoas conheçam o arquivo histórico, porque muitas vezes elas nem têm a noção de que ele existe”, reiterou Karla.
80 mil caixas de documentos
O gerente de Acervo e Pesquisa do Departamento de Arquivo Público, Kelton Sabatke, explica que os documentos são uma ótima fonte de conhecimento e mostram os primeiros esboços do desenho urbano de Curitiba. O local guarda mais de 80 mil caixas de documentos dispostos em estantes organizadas e limpas em um grande salão.
Quando se percorre os corredores do Arquivo Público, é possível sentir a fragrância dos saches confeccionados pelos funcionários, estrategicamente dispostos entre as estantes, que têm a função de aromatizar o local e repelir insetos.
Ali estão alvarás de comércio e construções, plantas arquitetônicas, documentos administrativos, fotografias, negativos e muitos registros históricos interessantes.
Rua XV de Novembro nasceu Imperatriz
Na sala de Obras Raras Rose Mary Rodrigues, fica a documentação mais relevante do arquivo. Uma delas é o livro de transferência de terrenos do quadro urbano de Curitiba.
“Temos essa documentação do começo da década de 1890 e o curioso desse registro é a assinatura do Barão de Serro Azul, que tem o seu nome escrito em letras de ouro no Livro dos Heróis da República”, exemplificou Kelton Sabatke.
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Kelton Sabatke, gerente de Acervo e Pesquisa do Departamento de Arquivo Público.
O documento registra o barão transferindo terrenos situados na Rua Imperatriz (atual Rua XV de Novembro) para Manoel Miró Júnior.
Revolta da Chibata
Outro registro mostra um lado dramático da história do Brasil. Documentos datados de 1911 do navio Satélite fazem relato ao ministro da Guerra general Dantas Barreto sobre a execução de marinheiros negros, presos pela participação na Revolta da Chibata, acusados de terem feito um motim a bordo.
A Revolta da Chibata eclodiu em novembro de 1910 e teve como principal razão a insatisfação dos marinheiros com os castigos físicos a que eram sujeitos, as chibatadas, o que representava um forte resquício do tempo da escravidão.
Bigode na identidade
O arquivo também tem coisas curiosas, como a descrição de características físicas em documentos pessoais.
“Esse é um registro muito curioso, muito único, que é uma carteira de identidade de 1919, com mais de 100 anos. O curioso é que ele cita que a pessoa tinha bigode. Então, eles eram bem específicos na hora de fazer a descrição da pessoa”, observou Kelton.
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Kelton Sabatke, gerente de Acervo e Pesquisa do Departamento de Arquivo Público.
Mercado virou Paço Municipal
O Arquivo Municipal também mostra que um dos locais mais concorridos de Curitiba, o Mercado Municipal, já teve sede na Praça Generoso Marques e no Largo Dr. Theodoro Bayma, no Batel. As mudanças foram realizadas para acomodar a evolução urbana da cidade.
“Quando o prefeito Cândido de Abreu resolveu construir a sede nova da Prefeitura, o Mercado Municipal, que ficava na Praça Generoso Marques, acabou sendo demolido. Eles usaram a estrutura do mercado como tapume para a construção do Paço da Liberdade e esse mercado foi edificado depois no Batel e só depois foi construída a sede no Centro”, explicou Kelton.
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Kelton Sabatke, gerente de Acervo e Pesquisa do Departamento de Arquivo Público.
Sala de Pequenos Reparos
Para dispensar todo o cuidado necessário à guarda e preservação de todo este material, o Arquivo Municipal conta com uma sala de Pequenos Reparos para recuperar documentos muito antigos que sofrem com a ação do tempo
A gerente do setor, Elisângela Frazão Marques, explicou que utiliza papel japonês e cola especial de methyl celulose com água deionizada, também conhecida como água desmineralizada, para não danificar os documentos.
Para a limpeza dos documentos é usado pó de borracha que retira manchas e amarelados.
“É um trabalho muito delicado. Leva até dois anos para reparar um único livro. Atualmente, estamos trabalhando no reparo do Livro do Rocio, que designava a área rural, onde ficavam as fazendas de Curitiba”, mostrou.
Criatividade e economia
Em outro setor a Sala de Digitalização, o trabalho é o de colocar a documentação no ambiente digital. Já existem cerca de 100 mil imagens digitalizadas. Destas, cerca de 18 mil estão indexadas, o que facilita a pesquisa.
O setor é equipado com um dos menores scanners do mundo, que é um mouse de computador e também conta com um dos maiores scanners de mesa existentes, que foi desenvolvido pelos funcionários do Arquivo.
O gerente de Digitalização e Tecnologia, Fábio Adriano Pessine, explicou que a ideia de montar o grande scanner surgiu da necessidade.
“O Arquivo Público precisava deste recurso, mas o preço para adquirir um equipamento dessa envergadura era inviável. Então, surgiu a ideia de adaptar uma microfilmadora antiga, da marca Recordak, retirando os componentes, implantando sistema de iluminação, uma câmera EOS Cannon, com placa de captura de vídeo que transfere direto para monitor”, explicou Fábio.
O equipamento é equipado ainda com uma grande mesa luminosa, com altura regulável por um macaco para levantar automóvel, que se ajusta conforme a gramatura do documento.
Modernização reduz o papel
A cada mês, o Arquivo Público digitaliza em torno de 80 mil páginas. Este número já foi bem mais alto, chegando a 200 mil páginas digitalizadas/mês. A queda é o reflexo da transformação digital dos serviços públicos, diretamente ligada à implementação do protocolo eletrônico.
Mais de 1 século em microfilmes
Outro setor com números impressionantes é Sala de Microfilmes, que já conta com 14.280 rolos de filmes, contendo de 3 a 4 mil documentos em cada rolo, que datam do período de 1895 a 1997 e totalizam mais de 40 milhões de páginas. O local, assim como a Sala de Obras Raras e a Sala de Multimeios (que guarda negativos, slides e fotografias) tem acesso controlado e é climatizado para preservação do material.
Além da economia do espaço, o microfilme é considerado como documento original e se for mantido nas condições ideais tem vida útil de até 500 anos.
Como acessar o Arquivo
Todo o processo de digitalização de microfilmagem de documentos tem o objetivo de tornar o acervo mais acessível para a população. Para acessar o acervo histórico da Prefeitura, basta fazer o pedido à equipe do Departamento de Gestão do Arquivo Público Municipal, pelo e-mail arquivopublico@curitiba.pr.gov.br.