Shirley Ordônio, mãe de Letícia, estudante do 2 º ano da Escola Municipal Dom Manuel da Silveira D’Elboux, conheceu nesta semana a universitária Jessica Iancoski. Acadêmica do 7º período do curso de Psicologia na PUC, Jessica está entre os 460 universitários contratados pela Prefeitura para fazer acompanhamento das crianças em inclusão que têm alta ou altíssima prioridade.
Jessica é a estagiária designada pela escola para acompanhar Letícia de perto, como profissional de apoio. A menina tem paralisia cerebral e precisa de atenção durante a aula.
“Fui incentivada pela minha turma da faculdade. Dos 40 alunos, 25 estão fazendo o estágio”, conta Jessica. “Este estágio vai me dar mais sensibilidade. Estou aqui para aprender como proporcionar o desenvolvimento da criança e como posso ajudá-la a crescer”, diz Jessica.
Shirley, mãe de Letícia, comemora a presença da estagiária com a filha. “Estou animada com a vinda dos universitários porque eles têm no currículo o tema da inclusão e fazem parte de uma nova geração, têm a cabeça mais aberta, livre de preconceitos do passado”, defende.
Shirley ficou tão surpresa quando soube da presença dos universitários que escreveu para a Prefeitura: “Primeiro dia de aula já com tutora, sem burocracia. Simplesmente cheguei e ela estava lá pronta para receber a Lelê. Isso não tem preço! Este ano certamente será diferente”, escreveu a mãe, que tem mais dois filhos na mesma escola. “Estamos no rumo certo da construção de uma sociedade mais inclusiva.”
O pai da menina, Marco Antônio Zeni, observa que os estagiários estão dispostos a aprender. “Eles têm dedicação, interesse em saber. Isso é bom para os nossos filhos, mas também para o estagiário, que vai aprender na prática”, diz ele.
Orientações
A diretora da Escola Municipal Dom Manuel da Silveira D’Elboux, Silvana Valério, conta que a estagiária terá as orientações necessárias para ajudar a menina Letícia.
A diretora ressalta que não existe atendimento padrão para estudantes em inclusão. “Cada criança tem sua forma de aprender. O papel da escola, entre outras coisas, é sensibilizar e orientar a família, indicando o acompanhamento adequado”, diz ela.
A Escola Dom Manoel, no Hugo Lange, tem 14 alunos em inclusão, um em cada turma. “Estes alunos fazem muito por todos nós. Enquanto estão aqui conosco, as nossas crianças estão aprendendo a respeitar as diferenças”, declara.
Atividade legal
A secretária da Educação, Maria Sílvia Bacila, explica que o processo de inclusão na rede necessita avançar e garantir que meninos e meninas recebam o atendimento necessário para desenvolvimento e formação. “A atuação dos acadêmicos como apoio é uma forma de trabalho legal, conforme exige a lei”, afirma.
O programa de trabalho dos acadêmicos como apoio às crianças com deficiência - e necessidades de ensino mais atencioso - vai contemplar de forma mais próxima as crianças, ampliando o acesso e a qualidade do processo de inclusão na escola pública. “Pedimos que as famílias acolham o novo com a certeza de que nenhum direito será negado. Pelo contrário.”
Maria Sílvia ressalta que os acadêmicos pertencem a uma geração de inclusão, que já vivenciou o processo nas escolas como estudantes. “Isto lhes assegura a internalização do conceito com referências da infância e da adolescência. A vivência proporciona o que há de mais importante na inclusão: a disposição para ensinar aquele que necessita de ações diferenciadas”, declara a secretária.
Formação
Maria Sílvia afirma ainda que os acadêmicos passaram por uma formação inicial nas universidades e terão uma agenda específica dos departamentos de inclusão e desenvolvimento profissional com o objetivo de assessorar o trabalho como profissional de apoio.
A primeira formação dos acadêmicos acontece na segunda (20) e terça-feira (21). Os universitários terão ainda acompanhamento permanente dos professores titulares da turma, do pedagogo da escola e dos pedagogos do Núcleo Regional de Ensino, além da equipe do Departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado.
A secretária enfatiza ainda que o professor regente continuará conduzindo as atividades, auxiliando o desenvolvimento pleno do estudante na escola. “O apoio jamais tirará a vez e a voz do professor regente. É ele quem sempre conduziu e continuará sendo assim”, completa.
Os acadêmicos auxiliam o trabalho do professor regente na locomoção, na alimentação e nas atividades de higiene dos estudantes. Eles também trabalharão com o atendimento individual dos estudantes que precisam de acompanhamento nas atividades de ensino e aprendizagem.
Experiência bem sucedida de Pinhais mostra que Curitiba está no caminho certo
Pâmela de Freitas é um exemplo de que o suporte a estudantes especiais é benéfico para eles e também para a formação de novos professores
A exemplo da rede de ensino de Curitiba, escolas de Pinhais, na Região Metropolitana, também contratam estagiários de nível superior para dar suporte aos estudantes com necessidades especiais. Uma delas é a Escola Municipal Chafic Smaka, onde a experiência começou há três anos e o resultado, garante a equipe da unidade, é melhor que o esperado.
Desde o segundo semestre do ano passado, a estudante de Pedagogia Pâmela de Freitas, de 21 anos, dá suporte de aprendizagem a um estudante que agora tem 7 anos e cursa o 2º ano do Ensino Fundamental. Ele é uma das oito crianças com diagnóstico de autismo da escola.
“Acompanhei o aluno durante todo o ano passado e posso garantir que, respondendo ao trabalho intensivo feito pela Pâmela, o garoto teve avanço gigantesco”, observa a professora do menino no ano anterior, Juliane Taborda, que visitou o ex-aluno na semana de volta às aulas.
Professora da turma de 2ºano do mesmo garoto, Juliana Dezidério confirma a constatação da colega. “Ele está desde o Pré com a gente. Mas foi de meados de 2016 para cá que ele teve uma sensível melhora, está escrevendo, conhece todas as letras, algumas sílabas e números do 1 ao 30. É um resultado extremamente satisfatório e que não teríamos como conseguir sem o suporte, no caso específico dele, da Pâmela.”
Sintonia
Para estimular o aluno sob seus cuidados, Pâmela repassa ao estudante, em tempo real, as informações e demandas da regente. Juntos, eles utilizam um conjunto de livros didáticos idealizados e executados na escola especialmente para estudantes com as necessidades de crianças como ele – com figuras em relevo e peças de encaixar.
Para a diretora da escola, Andréa Demeterco Quadros, o progresso atingido pelo menino autista se deve, em grande parte, ao esforço da estagiária. “Ela tem dom, gosta, é apaixonada e está em sintonia com toda a equipe”, opina.
Pâmela confirma. “Desde o Magistério, eu gosto desta área. E depois que me formar, quero me especializar”, diz a futura professora, que mora em Almirante Tamandaré, estuda à noite no Centro de Curitiba e faz o estágio em Pinhais.