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Caps Bairro Novo

Pacientes trocam quadrilha por Boi de Mamão

Festa junina dos frequentadores dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) Bairro Novo. Curitiba, 12/06/2012 Foto: Jaelson Lucas/SMCS

Um pouco do resultado das atividades promovidas durante as oficinas terapêuticas para pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) – a rede formada por 13 unidades públicas de atendimento em saúde mental – pode ser apreciada nesta terça-feira (12), durante uma festa junina. Ao invés de quadrilha, os 130 frequentadores do Caps Bairro Novo encenaram a dança do Boi de Mamão, do folclore catarinense, para o qual criaram figurinos, adaptaram a letra da música e tocaram instrumentos musicais.

A apresentação aconteceu no salão da igreja Nossa Senhora do Sagrado Coração, no Pinheirinho, e reuniu familiares e amigos dos pacientes.  A performance foi criada durante as oficinas de musicoterapia do Caps Bairro Novo, especializado no atendimento de dependentes químicos. Os pacientes, que frequentam a unidade durante o dia, escolheram o tema: a história do boi que foge, morre, é encontrado pelo dono e retorna à vida com  ajuda de um curandeiro.

Segundo a autoridade sanitária local, Nívea Pigatto, a escolha não foi aleatória. “Eles se interessaram pelo enredo porque identificaram a possibilidade de estabelecer um paralelo entre ela e a própria vivência”, diz. Assim, explica, o boi seria cada um dos envolvidos na encenação, enquanto o fugir equivaleria à dependência química. O morrer poderia ser comparado ao que os pacientes chamam “o fundo do poço” e o reviver à chance de recuperação a partir da atitude consciente de querer e buscar a ajuda por meio do serviço de saúde e do apoio das pessoas mais próximas.

Superação - Para o conselheiro em dependência química Alcides Pereira da Rocha, a atividade também simboliza o aprendizado que os dependentes podem fazer durante o processo de recuperação e, a partir dele, estabelecer uma nova rotina de vida.

Aos 54 anos, fala com a autoridade de quem conviveu com as drogas e, em 2005, foi um dos primeiros pacientes do Caps Bairro Novo e trocou o trabalho de técnico em eletricidade pelo de consultor para ajudar e se ajudar. “Também é uma forma de me manter longe do que já causou tanto mal a mim e à minha família”, argumenta.

Com a dependência administrada e depois de uma capacitação, tornou-se consultor, atuou nas regionais Boqueirão e Pinheirinho e, há quase três anos, retornou à mesma unidade do Bairro Novo que o ajudou a vencer o vício. Exemplo vivo de que é possível enfrentar e superar a dependência, Rocha é enfático sobre a relação dependente-droga: “A recuperação não acontece para quem precisa. Ela vem para quem precisa mas deseja e aceita efetivamente o tratamento”, afirma.

Acostumado a atender dependentes em tratamento e seus familiares em casa e no Caps, o consultor acredita que a população em geral é pessimista quanto ao problema porque o que se destaca socialmente são os casos de dependência química como problema social de difícil resolução. Para ele, é necessário considerar os casos de pessoas que, como ele, são de sucesso. “É  um problema sério, grave e onde os abandonos e recidivas acontecem.

Mas é preciso olhar para o lado positivo da proposta da recuperação e ele está aí para quem quiser ver”, garante.
Em abril passado, o Caps Bairro Novo registrou 45 altas. Foram 23 casos de abandono de tratamento, quinze transferências para outros serviços mas sete porque obtiveram sucesso nos cerca de nove meses que passaram no local.