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Neve de 1975: Curitiba toda branca há 50 anos

Uma combinação de fatores levou, no dia 17 de julho de 1975, a ocorrência deste fenômeno meteorológico que até hoje encanta os curitibanos

Texto: Roberto Couto

Há 50 anos, no dia 17 de julho, uma combinação de fatores levou à ocorrência de um fenômeno meteorológico que até hoje encanta e está no imaginário dos curitibanos: a neve de 1975.

Os invernos menos rigorosos dos últimos anos até nos fazem questionar se podemos ter uma nevezinha em 2025.  A boa notícia é que é, independente das mudanças climáticas devido ao aquecimento global, o fenômeno pode se repetir e deixar mais uma vez “Curitiba branca de neve”.

Manchete de todos os jornais

“Curitiba branca de neve” era o título da capa do jornal O Estado do Paraná na edição do dia seguinte à neve de 1975. Manchetes de outros grandes veículos impressos de Curitiba, como Gazeta do Povo (“Neve maravilha os curitibanos”), Tribuna do Paraná (“Neve aquece Curitiba”) e Diário Popular (“Neve parou a cidade”), também mostravam como o fenômeno transformou aquele 17 de julho em um dia bem atípico, encantando a maioria da população, pois a neve não era vista na cidade desde 1928.

Fotógrafos corriam para tirar os melhores flagrantes no Centro e nos bairros e repórteres eram orientados por seus editores sobre as matérias que seriam feitas. O jornalista Júlio Zaruch, 79 anos, lembra que as redações tiveram que rever a maioria das suas pautas, jargão usado pela imprensa para a programação de matérias que é feita para a edição do dia seguinte.

“Como em todos os cantos da cidade, não foi diferente a empolgação entre as equipes dos jornais. O diretor de redação de O Estado do Paraná, jornalista Mussa José Assis, posicionou-se diante de sua máquina de escrever e fez uma – talvez a – das mais belas manchetes da imprensa paranaense e brasileira sobre aquele dia: ´Curitiba branca de neve´, com fotos de vários pontos da cidade”, recorda Zaruch, na época com 29 anos.

Fotos abaixo são do Setor de Arquivo da Biblioteca Pública do Paraná.

Detentas foram soltas para ver a neve

Veículos de comunicação também relataram as reações curiosas de autoridades ao fenômeno da neve em Curitiba, há 50 anos, como o registrado na reportagem da revista Veja, em sua edição na semana seguinte à ocorrência:

“A Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba, que em dias comuns costuma ultrapassar as trinta ocorrências, registrou apenas três, na noite de quarta para quinta. E o delegado Douglas Haquim, na manhã de quinta, quando toda a cidade transbordava de contentamento invernal, mandou soltar 26 prostitutas detidas pelas ruas na noite anterior. ‘Elas também merecem ver a neve’, justificou o delegado´”.

Trecho acima da matéria “A paisagem europeia do Sul”, na edição da Veja de 23/7/1975, página 40.

TVs fizeram imagens coloridas

Nas televisões, a neve de 1975 também virou de cabeça para baixo toda a grade de programação e as equipes fizeram pedidos fora do comum para as áreas de engenharia.

“Excepcionalmente, a direção técnica autorizou puxar cabos e levar para a área externa uma das pesadas câmeras do estúdio. Fizemos imagens coloridas”, lembra o jornalista Marcos Batista, 73 anos, que na época, aos 24 anos, era editor-chefe da TV Paranaense (atual RPC).

Vídeo acima foi cedido pelo Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS PR).

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Curitibanos esgotaram estoques de filmes

Assim como os jornais, revistas e televisões da época, curitibanos de todas as idades também mudaram a rotina logo cedo, por volta das 6 horas da manhã, para ver e aproveitar o fenômeno. Por toda a capital, famílias brincavam de guerra de bola de neve ou esgotavam os estoques de filmes fotográficos para registrar o cenário branco. As crianças nem precisaram se preocupar se haveria ou não aula, pois estavam em plenas férias escolares de julho.

Era o caso de um menino de 5 anos, morador do bairro Jardim Social, que foi acordado às 7h30 pela mãe com o convite para olhar pela janela. “A gente levantou todo animado, ainda de pijama, para olhar a neve”, recorda o administrador de empresas Alexandre Fayzano, hoje com 55 anos (foto acima).

Logo, Alexandre, a mãe, Marliese, os irmãos, Marcelo e Luciana, o tio Maurício e a avó Mila saíram para a frente de casa para brincar com os flocos brancos e fazer um boneco de neve sobre o capô da Volkswagen Brasília da família.

“Meu tio Maurício teve que esperar descongelar a fechadura do carro, mas depois ele nos levou para dar uma volta pelo bairro. O boneco de neve no capô começou a desmontar com o vento. Foi tudo muito divertido”, completa, emocionado, Fayzano. 

Pode nevar? Sim, pode!

O fenômeno da neve é um sistema especial que precisa de várias condições para que a água da chuva forme os flocos de gelo. Além de ser necessário um ar muito frio, durante toda a queda da neve até o solo, é preciso umidade, chuva e nuvens carregadas. Geralmente, em Curitiba, é mais fácil ter chuva congelada ou uma chuva congelante do que neve.

“Para a ocorrência de neve é necessário que as nuvens se encontrem em temperatura inferior a 0ºC, o que faz com  que o vapor de água se condense na forma de cristais de gelo. Esses cristais, então, podem ganhar peso e cair, unindo-se a outros cristais e formando um floco de neve que chega ao solo”, explica o meteorologista Reinaldo Kneib, do Simepar.

O especialista ressalta ainda que previsão de neve é sempre para um horizonte de alguns dias. “Por isso, não dá para descartar a ocorrência de neve neste inverno ou em qualquer outro, mesmo que nos últimos anos o frio em Curitiba esteja sendo menos rigoroso”, acrescenta Kneib.

Neve X chuva congelada X chuva congelante

  • Neve: Flocos de neve de gelo se desenvolvem na nuvem. Estes flocos chegão ao solo no mesmo estado.
  • Chuva congelada: Neve que cai da nuvem passa por camada de ar mais quente, formando gotas. No meio do caminho, as gotas encontram camada de ar frio e recongelam antes de chegar ao chão.
  • Chuva congelante: Chuva ocorre de forma normal, mas a água se congela ao tocar uma superfície.

1975 x 1928 x 2013

O meteorologista do Simepar também confirma que, a neve de 1975 pode até ser a mais emblemática, mas não foi a maior da história de Curitiba. O fenômeno mais intenso com registros, inclusive fotográficos, ocorreu na noite de 31 de julho de 1928 (fotos abaixo). “A neve naquele ano durou dois dias e, segundo relatos, chegou a ter 50 centímetros de altura”, conta Kneib.

Já no dia 17 de julho de 1975, a neve começou a cair pouco antes das 5 da madrugada; sendo o bastante para deixar a grama coberta. E a animação ficou ainda maior, logo após as 10h30 da manhã, quando o fenômeno se repetiu por meia hora.

Em 23 de julho de 2013, os curitibanos voltaram a ver neve, mas ela foi mais tímida. O fenômeno foi registrado entre 8h e 8h30, quando a temperatura era de 2ºC. Entretanto, o que a maioria dos moradores acabou vendo, na realidade, foi a chamada “chuva congelada”. 

Casa da Memória reúne rico acervo de fotos

“Eu tinha 14 anos. Meu pai nos acordou bem cedo. Todo mundo se animou: estava nevando em Curitiba! Então, eu saí com a minha bicicleta pelas ruas no Jardim das Américas, sem nenhuma proteção, sem luva, nada. Até queimei a mão, por causa do frio, mas valeu a pena”, lembra Roberson Maurício Caldeira Nunes, coordenador do Centro de Documentação da Casa da Memória, que cedeu as imagens da neve de 1975 e 1928 que ilustram essa reportagem.

Além do acervo fotográfico sobre as neves de 1928 e 1975, a Casa da Memória reúne publicações sobre neve na capital como uma edição da revista Leite Quente, editada pela Fundação Cultural nos anos 1990, que teve como título “Curitiba branca de neve”, ou seja, que ganhou a mesma manchete da edição de O Estado do Paraná há 50 anos.

Na foto abaixo, Roberson Maurício Caldeira Nunes, coordenador do Centro de Documentação da Casa da Memória, com a edição sobre neve em Curitiba da revita Leite Quente. 

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E vamos ter muito frio em 2025?

A existência de dias muito frios, necessários para o tão desejado retorno da neve, é uma questão complexa e envolve fenômenos naturais como a umidade que vem da Amazônia ou ventos fortes gelados do sul do planeta.

Sem contar La Ninã e El Niño, fenômenos que envolvem anomalias das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico. Enquanto El Niño consiste no aquecimento anormal das águas do Pacífico, La Niña é o inverso, provocando o resfriamento do oceano.

O outono deste ano, por exemplo, não teve influência de El Niño e La Niña, resultando em chuvas abaixo do normal e temperaturas acima da média.

Ações do homem mexem com o clima

Apesar dos impactos diretos dos fenômenos naturais, Felipe Maia Ehmke, diretor do Departamento de Mudanças Climáticas da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba, alerta que as mudanças climáticas induzidas pelo homem também têm alterado os padrões do clima.

“Vamos continuar vendo eventos climáticos extremos e está ficando cada vez mais difícil prever a intensidade, porque o padrão do clima está mudando muito rapidamente. É um risco cada vez maior para as cidades, que podem ter verões muito quentes, excesso de chuva ou seca, e invernos muito frios, mas ao mesmo tempo com veranicos”, justifica Ehmke.

Curitiba contra as mudanças climáticas

O diretor de Mudanças Climáticas da SMMA destaca que iniciativas de Curitiba têm buscado reduzir os impactos das mudanças climáticas, ações inclusive que poderiam ser replicadas por cidades e países de todo o mundo.

“São programas e investimentos da Prefeitura, alinhados ao Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas (PlanClima), que buscam conter o avanço do aquecimento global”, conta Ehmke.

Entre as iniciativas já implementadas e que evidenciam o compromisso da Prefeitura de Curitiba com a construção da sustentabilidade urbana estão os 52 parques da cidade, o Bairro Novo da Caximba, a Reserva Hiídrica do Futuro, a Pirâmide Solar da Caximba, o programa 500 Mil Árvores, a valorização do transporte coletivo com investimentos nos novos Inter 2 e BRT Leste-Oeste e os primeiros ônibus elétricos menos poluentes já em circulação na Rede Integrada de Transporte (RIT).

Nas fotos acima, iniciativas de sustentabilidade da Prefeitura de Curitiba como a Reserva Hídrica do Futuro (Umbará), distribuição de mudas e plantio do programa 500 Mil Árvores, ônibus elétricos e uso de energia renovéis (Cohab Solar). 

Rede de Proteção de Curitiba

Se em 1975, como mostravam as reportagens da época, famílias que viviam em risco social em áreas de ocupação irregular não tiveram a mesma experiência lúdica com a neve, a situação seria diferente se o fenômeno se repetir em 2025.

A Prefeitura de Curitiba oferece atualmente uma ampla Rede de Proteção Social, em uma ação integrada da Fundação de Ação Social (FAS) com as secretarias municipais da saúde, de Segurança Alimentar, de Defesa Social e de Desenvolvimento Econômico e Inovação.

“O município conta com toda uma infraestrutura para a população em risco social, com acolhimento para quem nos procura ou aceita o encaminhamento de nossas equipes de abordagem social, alimentação e cobertores para quem não quer ir para nossas unidades e atendimento médico através do Consultório de Rua. No inverno, nosso trabalho é reforçado com a Operação Inverno, que já começou este ano e vem dando mais dignidade à população em situação de rua”, conta Renan de Oliveira Rodrigues, presidente da FAS.

A FAS atende diariamente cerca de 1,4 mil pessoas em situação de rua em casas de passagem, unidades de acolhimento (oficiais e parceiras) e hotéis sociais. Essa população ainda pode contar com o FAS SOS, maior centro de atendimento da Prefeitura. Com 3.490 m² e três andares, o FAS SOS fica em frente a Rodoferroviária, no Centro, oferecendo acolhimento 24 horas, assistência médica, psicológica, social, confecção de documentos, capacitação profissional e busca por trabalho.

A FAS conta ainda três Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centros Pop) e a Central de Encaminhamento Social (CES), responsável pelo serviço de abordagem social.

Nas fotos acima, equipe de abordagem social da Operação Inverno da FAS, FAS SOS, unidade de acolhimento e serviços prestados à população vulnerável. 

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