O prefeito Gustavo Fruet assinou nesta terça-feira (27) decreto que cria a Estação Ecológica Campos Naturais de Curitiba Teresa Urban, garantindo assim a conservação da última área contínua de campos naturais da cidade.
“É com grande honra que tenho em um dos meus últimos atos como prefeito a assinatura deste instrumento de proteção para esta importante área que leva o nome de uma querida amiga e combativa militante das causas ambientais, a jornalista Tereza Urban. Me despeço desta gestão sabendo que fizemos o melhor para o meio ambiente, deixando mais de 10 milhões de metros quadrados de áreas protegidas, que somando-se às três milhões já existentes, garantem uma área de 13 milhões de metros quadrados de área verde, dentro da capital, protegidas da especulação imobiliária e da degradação”, enfatiza Fruet.
São 270 mil metros quadrados onde já foram identificadas em torno de 200 espécies vegetais específicas dos campos – 170 delas inéditas em Curitiba, além de dezenas de espécies arbóreas. O nome Campos Naturais de Curitiba Teresa Urban é uma homenagem à jornalista, escritora e ambientalista curitibana falecida em 26 de junho de 2013.
“Ter o nome em uma área é um reconhecimento. Conhecendo minha mãe e o que ela pensava e lutava, sei que já está feliz em saber que os campos estão protegidos”, relata Gunther Furtado, filho da jornalista Teresa Urban.
Outros 25 mil metros quadrados no entorno da estação ecológica também irão compor este ambiente de maneira definitiva. São cinco Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNMs), cada uma delas com cerca de cinco mil metros quadrados, que estão em fase de aprovação.
“Essas propriedades particulares vão compor o mosaico de campos naturais, dando proteção ao entorno”, destaca o biólogo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Maurício Savi. “A área da estação ecológica é de uma riqueza natural imensa e está dentro da cidade, tendo sobrevivido quase por milagre à ocupação urbana”, comemora Savi.
A estação ecológica, que fica próxima ao Zoológico de Curitiba, também abriga córregos e nascentes. Por sua amplitude e estado de conservação, tem grande valor científico, ecológico, histórico e cultural, pois remonta aos primórdios da região, num período muito anterior à ocupação humana.
Segundo o biólogo, José Tadeu Motta, do Museu Botânico de Curitiba, que está participando do estudo da área, foram encontradas remanescentes importantes. “Encontramos espécies que não eram coletadas no Paraná desde a década de 60 como Solanaceae e Polygalaceae, além de espécies em extinção como agrupamentos de Xaxim e Araucárias”, descreve.
Paraíso
Por volta de 1820, ao visitar Curitiba e os Campos Gerais, o botânico e naturalista Auguste de Saint-Hilaire deparou-se com uma paisagem que jamais tinha vislumbrado em suas andanças pelo mundo: eram os campos naturais, repletos de flores de variadas espécies e cores, com partes úmidas e outras secas, cercados de florestas e adornados por imponentes araucárias. Nesse ambiente viviam inúmeras espécies de mamíferos, aves, anfíbios, borboletas e besouros, entre muitos outros animais. Diante dessa visão, Saint-Hilaire escreveu que “se há paraíso na Terra, ele é aqui, nesses campos”.
Com o passar dos anos, a paisagem dos campos do Sul do Brasil foi desaparecendo em função da urbanização, no caso de Curitiba, e também do avanço da agricultura, na região dos Campos Gerais. Pesquisadores da secretaria municipal de Meio Ambiente identificaram uma última área de campos naturais em Curitiba que preserva as características de quatro ecossistemas que se completam: campos secos, campos úmidos, floresta de galeria (que acompanha os rios e córregos) e Floresta com Araucária.
Estudos publicados no livro “Campos Sulinos – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade”, assinados por Hermann Behling, Vivian Jeske-Peruschka, Lisa Schüler e Valério De Patta Pillar, há informações sobre a formação das áreas campestres do Sul do Brasil, região em que se encontra Curitiba. Segundo os autores, pesquisas com grãos de pólen e esporos fossilizados ajudaram a identificar o tipo de vegetação que existia na região há milhares de anos.
Os estudos apontam que a formação campestre começou a surgir há cerca de 43 mil anos, num período glacial que, nesta região, se caracterizava por grandes secas, geadas e temperaturas que atingiam os 10 graus negativos. A vegetação arbórea surgiu milênios mais tarde, favorecida pela mudança climática que começou a elevar as temperaturas. Já a ocupação humana aconteceu muito mais tarde, há pouco mais de quatro mil anos.
Tereza Urban
Nascida em 1946, Teresa Urban formou-se em jornalismo em 1967 pela Universidade Federal do Paraná. Durante o Regime Militar, Teresa foi presa diversas vezes e exilou-se no Chile de 1970 a 1972. Teve dificuldade no início da vida profissional, pela sua influência e participação das redes de movimento de esquerda radical, até que foi contratada pela jornal "A Voz do Paraná" no final da década de 1970. Teve participações nos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", e na revista "Veja", entre outros, consolidando-se como uma pioneira no jornalismo ambiental.
Teve a oportunidade de escrever diversas obras, contando com mais de vinte títulos. Aderiu aos projetos das ONGs SOS Mata Atlântica e Mater Natura. Contribuiu para o mapeamento dos remanescentes da floresta de araucária no estado do Paraná e ajudou a desenvolver a Rede Verde de Informações Ambientais, além de atuar também no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Sempre a postos para projetos na área ambiental e de direitos humanos, reportou e escreveu sobre a Chácara dos Meninos de 4 Pinheiros, por exemplo, sobre as populações ribeirinhas e sobre agricultura familiar em Mandirituba, e agiu em diversas frentes para o fechamento da Estrada do Colono, ligação de terra entre as cidades de Serranópolis do Iguaçu e Capanema, com aproximadamente 17 km, passando por dentro do Parque Nacional do Iguaçu, fechada em 2003.
Na madrugada do dia 25 de junho de 2013, Teresa foi internada na Unidade de Terapia Intensa (UTI), vítima deum infarto. Não resistiu e veio a falecer na noite de quarta-feira, 26 de junho, aos 67 anos no Hospital Vita na cidade de Curitiba, deixando os filhos Gunther e Guadalupe. (Fonte: SPVS- Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental)