A construção da primeira linha do metrô de Curitiba irá trazer diversos benefícios socioeconômicos e ambientais para a cidade, mas a obra exige planejamento especial para a redução de impactos, especialmente na implantação das estações e na destinação dos resíduos decorrentes da escavação. Essa é a síntese dos dados apresentados na audiência pública realizada na noite desta terça-feira (22), para discutir o Estudo Complementar de Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (Rima) da Linha Azul do metrô, que ligará a CIC Sul ao Santa Cândida.
O atual Estudo Complementar revisa e atualiza o EIA-Rima aprovado em 2011, uma vez que o projeto do metrô passou por adequações e agora prevê um método de construção de túneis que oferece baixo impacto na superfície, chamado “shield” – com uso de máquina tuneladora. Até 2013, previa-se a utilização dos métodos “cut and cover” – de escavação e cobertura do terreno – e a técnica tradicional de tunelamento, também conhecida pela sigla NATM. Esses dois métodos, causadores de maior impacto, estão previstos hoje apenas para as obras das estações e da embocadura do túnel.
De acordo com a bióloga Gisele Cristina Sessegolo, coordenadora do EIA-Rima elaborado pela Ecossistema Consultoria Ambiental, a intervenção para a construção do túnel será quase imperceptível na cidade – na técnica “shield”, a máquina irá funcionar a uma profundidade de 20 a 30 metros. “Com a técnica da tuneladora, a superfície da cidade praticamente não é afetada”, diz Gisele.
Desenvolvimento
O estudo destaca que o metrô deverá proporcionar vários benefícios urbanos que contribuirão para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental ao longo do traçado, estendendo-se aos bairros pelos quais a linha irá passar e aos municípios vizinhos, por meio da Rede Integrada de Transportes (RIT).
Destacam-se como potenciais benefícios a redução da poluição atmosférica, devido à remoção de grande número de ônibus circulando no eixo Norte-Sul, além da redução dos riscos de acidente de trânsito e da geração de ruídos.
Durante a implantação do metrô, deverão ser criados 3,1 mil empregos diretos, além de outras ocupações indiretas, e parte dessas vagas deverá ser mantida para a operação do sistema.
“De modo geral, os impactos positivos são muito expressivos, salientando-se a melhoria da qualidade do transporte público decorrentes do conforto, rapidez e maior segurança do sistema, seu potencial de integração, a oferta de novas áreas verdes e ciclovias”, conclui a consultoria ambiental.
Impactos
Segundo o EIA-Rima, que segue agora sob análise da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o maior volume de impactos ocorrerá durante a fase de obras, e pode gerar transtornos ao tráfego e à população residente no entorno das futuras estações do metrô – que serão construídas por meio de escavação “cut and cover” e NATM. “Apesar disso, por causa da técnologia ‘shield’ quase em sua totalidade, os impactos são atenuáveis”, cita a especialista.
Serão necessárias ações de reversão de impactos para os casos de interrupção temporária do trânsito de veículos na superfície, bem como modificações pontuais nos itinerários de algumas linhas de ônibus.
Outro ponto destacado no estudo refere-se à necessidade de identificação das áreas apropriadas para a destinação de resíduos – chamadas de “bota-fora”. Estima-se que a escavação do túnel resulte numa remoção de 200 metros cúbicos de solo a cada dois metros de avanço da tuneladora. Por outro lado, todo o resíduo sairá pelo único emboque do túnel, no Pinheirinho, o que reduzirá a travessia do material na malha urbana.
A identificação das áreas de bota-fora será feita na elaboração do projeto executivo. De acordo com o estudo, deverão ser privilegiados terrenos já degradados, além de propriedades com necessidade de aterro para fins residenciais ou industriais. Essas áreas ainda serão objeto de licenciamento específico.
Uma grande vantagem do projeto do metrô curitibano é o fato de ele percorrer um trajeto que, em sua maior parte, já é ocupado pelas canaletas do sistema BRT. Tal característica reduz drasticamente a necessidade de desapropriações, que deverão ficar restritas apenas às áreas de embocadura do túnel, no Pinheirinho, e do pátio de manobras, na CIC Sul.
Em relação aos aspectos físicos e biológicos da região por onde passará o metrô, as modificações ambientais serão reduzidas, e especialmente concentradas no pátio de manobras, uma vez que o restante da obra ocorrerá em áreas desenvolvidas da cidade.
Obra
O EIA-Rima Complementar leva em consideração toda a extensão projetada para a Linha Azul, ou seja, os 22 quilômetros da CIC-Sul – na confluência da Linha Verde com o Contorno Sul – ao Santa Cândida.
A primeira etapa prevista para a obra tem 17,6 quilômetros entre a CIC-Sul e o Terminal do Cabral, com um total de 15 estações. O projeto foi orçado em R$ 4,7 bilhões, a serem financiados pelas esferas federal, estadual e municipal e por uma concessionária privada.
Hoje, ônibus do sistema BRT levam 80 minutos para percorrer todo o trajeto Norte-Sul, do Pinheirinho ao Santa Cândida, tempo que será reduzido para menos de 30 minutos com o metrô. Além disso, com o novo modal, a área da canaleta exclusiva, atualmente utilizada pelo ônibus biarticulado, poderá ser reurbanizada para formar um grande parque linear.
“Estou tranquilamente convencido de que os benefícios sociais, econômicos e ambientais do metrô em muito superam os impactos da intervenção, sobre os quais devemos dedicar atenção no sentido de minimizá-los”, disse o secretário de Planejamento e Administração, Fábio Dória Scatolin. “O prefeito Gustavo Fruet decidiu implantar o metrô para atender com qualidade uma demanda de passageiros já existente, e que exige um modal de alta capacidade”, completou o secretário.
O metrô iniciará a operação com capacidade de atender mais de 20 mil passageiros por hora por sentido, o que garantiria transporte com conforto e qualidade pelos próximos 30 anos, de acordo com as projeções populacionais e de demanda da Prefeitura. Porém, o projeto já embute a capacidade de ampliação das composições para que o carregamento seja expandido para até 45 mil passageiros por hora por sentido. Atualmente, o BRT no Eixo Norte-Sul já opera, nos horários de pico, próximo do limite da sua capacidade, com no máximo 15 mil passageiros por hora por sentido.
Audiência
Cerca de 100 pessoas participaram da audiência pública, realizada no Centro de Capacitação da Secretaria Municipal da Educação, no Centro de Curitiba. O secretário municipal de Meio Ambiente, Renato Lima, explicou que os questionamentos feitos pela sociedade colaboram na análise do EIA-Rima que será feita pela equipe técnica da Prefeitura. “O grande objetivo da audiência, do ponto de vista da gestão municipal, é escutar a cidade, saber que pontos precisam ser esclarecidos, quais são as dúvidas da sociedade”, citou Lima.
Uma das perguntas veio da engenheira ambiental Érica Costa, representante da empresa Areal Costa, que gostaria de saber do interesse do empreendimento do metrô em aproveitar áreas que a companhia mantém no Umbará para o depósito dos resíduos. Renato Lima explicou que, na cidade de Curitiba, todo material de refugo só pode ser colocado em área licenciada e aprovada pelos órgãos ambientais competentes, e que os terrenos precisam ser avaliados e selecionados na fase de elaboração do projeto executivo do metrô.
Também houve questões a respeito da estimativa de geração de empregos e de proteção às nascentes durante as intervenções para a implantação do metrô. “Os rios da região encontram-se retificados e canalizados, e não apresentarão conflito com a intervenção”, esclarece a consultoria.
Sérgio Póvoa Pires, presidente do Ippuc, órgão responsável pela licitação e contratação da consultoria ambiental, lembrou que a primeira proposta de transporte metroviário para a capital paranaense surgiu em 1969, na gestão do ex-prefeito Omar Sabbag, e salientou os resutados urbanísticos positivos do modal: “Imaginem 17,6 quilômetros de canaletas de ônibus sendo transformadas num parque linear, com passeios e ciclovias”.
Pires ressaltou que o projeto também está em consonância com a revisão do Plano Diretor em estudo na Câmara Municipal e com o caráter multimodal que o transporte da cidade precisa ter no futuro. “O metrô estará integrado com uma rede de BRTs que também vai crescer e ser duplicada em extensão, em outros eixos viários”, disse.
Participaram do encontro o secretário municipal de Obras Públicas, Sérgio Antoniasse, o administrador regional da Matriz, Maurício Figueiredo, o líder do prefeito na Câmara, Paulo Salamuni, e o vereador Tico Kuzma.